O espectro de uma terceira onda: questões e desafios da educação formal em IHC em uma instituição brasileira Luiz Ernesto Merkle Marília Abrahão Amaral UTFPR – DAINF – PPGTE UTFPR – DAINF – PPGTE Av. 7 de setembro 3165 - 80230-901 Curitiba Av. 7 de setembro 3165 - 80230-901 Curitiba PR Brasil PR Brasil merkle@utfpr.edu.br mariliaa@utfpr.edu.br ABSTRACT e discutidas que tenham sido. We present in this article some reflections on the challenges of developing an HCI education aligned on the Por outro lado, se IHC vai além da Computação, como so called HCI third wave. We discuss the necessary inseri-la em nossos cursos sem descaracterizá-la. Podemos perspective of such an endeavor in order to ground a dizer que as instituições acadêmicas sempre são mais curriculum reformulation under development at UTFPR, conservadoras do que pesquisas isoladas. Afinal, a pesquisa Curitiba. We address the tensions between the established e a extensão, coetâneas ao ensino, sempre trarão vozes curricula recommendations from one side, and the cultural, outras que as sedimentadas em nossas culturas, nos cursos axiological, political and ethical issues raised by the third onde atuamos ou em nossas aulas. Ouvi-las é importante wave on the other. In this perspective , we recollect some of para o devir do conhecimento, sobretudo para esta área. the experiences we have at the curricular discussions and No presente artigo almejamos problematizar o ideal de se on actual efforts to upgrade the Information Systems degree. educar profissionais em nível de graduação dentro de Whit this aim, we succinctly present a proposed framework, arcabouços mais recentemente caracterizados como de in order to springboard a discution we belive is necessary terceira onda [3,8]. Faremos isto caracterizando at the national scope. This curricular structure addresses sucintamente esta terceira onda e descrevendo algumas not only the courses in the broad area of HCI, per se, but experiências que temos em desenvolvimento em nossa other ones in the human sciences that could foster the instituição, ao longo de duas décadas. Concluímos que não construction and the recognition of Computing and HCI as tem sido simples trazer esta perspectiva para nosso dia a dia, a interdisciplinary endeavor. muitas vezes mais moroso do que gostaríamos. Por outro Author Keywords lado, os desafios têm contribuído para o aprimoramento Curricula; Computing; Culture; Third Wave; HCI; político-pedagógico dos cursos que oferecemos. Em um Interaction Design momento em que esta terceira onda começa a se mostrar presente em foros internacionais de modo menos tímido, ACM Classification Keywords discorrer sobre esta experiência pode contribuir para a K.3.2 Computer and Information Science Education: consolidação e transformação de práticas associadas em Curriculum. K.4 Computers and Society: K.4.0 General. outras universidades. Uma outra motivação para a escrita H.5.m. Information interfaces and presentation (e.g., HCI): deste artigo diz respeito à missão da própria área de IHC Miscellaneous. dentro da computação, que entendemos poder ser um vetor General Terms para se ampliar a participação de grupos reiteradamente Human Factors; Design; Theory. sub-representados, por cortes de classe, gênero, raça e etnia, geração e capacidade. INTRODUÇÃO Se de fato levamos em consideração a área de Interação Em particular, nesta breve comunicação neste Workshop de Humano Computador (IHC) como sendo plurifacetada e Ensino de IHC, relatamos algumas reflexões com base em móvel, como nos apontam [5, 6], nossos horizontes de atividades desenvolvidas em uma instituição de ensino atuação se abrem em perspectivas a explorar, muito além superior pública, a Universidade Tecnológica Federal do dos horizontes de recomendações curriculares e diretrizes Paraná, e que hoje oferece cursos nas áreas de Engenharia governamentais, daqui de alhures, por mais bem preparadas de Computação, Sistemas de Informação, Computação Aplicada e Tecnologia e Sociedade, todos com disciplinas específicas na área de IHC. Copyright © 2013 for the individual papers by the papers' authors. Copying permitted only for private and academic purposes. This Em referência ao título escolhido para este artigo, podemos volume is published and copyrighted by its editors. In: Proceedings dizer que se trate de um desafio a ser encarado. Nos of IV Workshop sobre Ensino de IHC (WEIHC 2013), Manaus, permitimos, em se tratando de um workshop, em fazer Brazil, 2013, published at http://ceur-ws.org/ algumas provocações, com o objetivo de iniciar um debate. Um “espectro” pode ser uma aparição ilusória, uma pessoa 19 magra, uma ameaça, ou o registro de uma distribuição, linguagem e nos sistemas auto-organizados. [14] argumenta dentre outras definições. Explorando estas metáforas em pela importância de uma perspectiva situada do conjunto, pois nas engenharias o termo espectro denota um desenvolvimento e da compreensão das relações entre conjunto de componentes de uma onda, onde cada elemento pessoas e máquinas, esmiuçando os problemas associados a uma pode contribuir para a IHC como um todo. Será que o noção de plano. [9] apresenta um arrazoado de perspectivas, ensino de IHC, devidamente inserido em diretivas apontando as diferenças em similaridade entre diferentes curriculares, quando oferecido em cursos de graduação e abordagens nos ainda chamados sistemas homem máquina. pós-graduação dentro de uma perspectiva de terceira onda, [16] também tece suas críticas às correntes então em voga, não passa de uma ilusão? Em que nível ele de fato pode ser mas da perspectiva das organizações e do trabalho. [1] trabalhado, ou pode ser trabalhado a contento, dentro das separa fatores humanos de atores humanos. Outras vertentes, perspectivas e competências dos envolvidos, docentes e como o trabalho cooperativo e o design participativo, discentes? Será demasiado tímido frente a outras correntes, igualmente teceram suas críticas, exploraram teorias, a a muito consolidadas no Brasil e já com uma comunidade ponto das comunidades desenvolverem identidades distintas. significativa? Há espaço para inserção, e poder de Em meados da passagem do milênio alguns textos e convencimento, para contribuir inclusive à atualizações de discussões começam a utilizar o termo segunda onda para recomendações curriculares neste sentido? Será que tal viés designar algumas perspectivas desenvolvidas na grande ou perspectiva, múltiplo por concepção, pode ser visto área de IHC [10]. Estes foram apresentados em como uma ameaça, por exigir um mudança de perspectiva, contraposição à primeira onda, vertente cognitivista e de como apontam alguns trabalhos? Será que a própria processamento de informação então fortemente vigente. computação está aberta para isto? Entretanto, este mesmo período presenciou em nível Neste artigo, caracterizamos sucintamente a IHC de terceira internacional a emergência de várias outras facetas e onda, sem intuito de descrevê-la a contento, e como ela em experimentações neste grande campo, aparentemente parte difere de ondas concorrentes, qualificadas como minado, que não necessariamente se encaixavam em uma primeira e segunda. Isto nos dará subsídios para apontar supostamente primeira ou segunda ondas. Dimensões como algumas áreas de formação importantes para sua a estética [4], relacionadas a mudança do local da ação ao constituição, como aquelas que tratam de questões modo como compreender a experiência [12], assim como o históricas, culturais, axiológicas, e que seriam necessárias a foco de interesse, que se ampliava para o do cotidiano, uma educação formal consistente neste viés. Em seguida englobando questões lúdicas, emocionais, políticas, e apresentamos alguns momentos e perspectivas muitas outras então abstraídas dos interesses da significativos em nossa trajetória institucional, de modo a comunidade, em sua maioria. caracterizar nossos esforços neste sentido. Em 2006, [3] faz uma referência a uma terceira “onda”, que Isto nos permitirá explicitar, programaticamente, em parte o articula justamente estas iniciativas e correntes. [7] as viés de uma educação em HCI de largo espectro, incluindo qualificam como um terceiro paradigma 1. Porém, em nota várias de suas correntes exigiria. É neste escopo que de rodapé em [8] (p. 385) é apontado como mais adequado apresentamos brevemente o conjunto de disciplinas o termo perspectivas situadas, embora reconheçam que o ofertado, que relatamos nossas experiências, e tecemos termo “terceira onda” passou a uso corrente na comunidade. comentários sobre os desafios de tais propostas. Neste artigo de 2011, estes autores problematizam a área de IHC afirmando que seria necessária uma mudança O faremos também em uma perspectiva consonante com a epistemológica mais radical à comunidade de IHC para terceira onda, refletindo sobre o contexto da educação em considerar a importância do local, dos valores, do contexto, IHC, em como isto se reflete não apenas em nossos onde as interações se dão ou são construídas. [13] laboratórios, conferências e salas de aula, mas, muito além caracteriza este movimento como florescente. das fronteiras interacadêmicas, na incompatibilidades e contradições que um tal viés expõe, e como temos lidado Alguns daqueles mesmos autores e autoras que com isto. contribuíram para questionar a vertente cognitivista em IHC, a dita primeira, neste quadro subdividido em fases, ONDAS, PARADIGMAS, FACES E FASES EM IHC Não é de hoje que se questionam correntes dominantes no apresentam suas perspectivas. Além da já citada [3], [6] grande campo de atuação que agrega comunidades como as lista três faces, uma que estende a ergonomia e a engenharia de Usabilidade, Design de Informação, Design de Interação, à computação; uma que traz a administração para o escopo Design Participativo, Interação Humano-Computador, da computação, nos anos dos mainframes; e ainda uma Sistemas Colaborativos, Trabalho Cooperativo e uma pletora de outras denominações, algumas com diferenças 1 Não vamos entrar no mérito aqui da recepção do termo sutis de denominação como HCI e CHI, mas profundas paradigma pela comunidade de computação, onde diferenças de orientação. [15] questionam profundamente equivocadamente uma alteração de método é justificativa para se as perspectivas de processamento de informação presentes propor um novo “paradigma” o que é totalmente descabido na na comunidade, com apoio na fenomenologia, na acepção original de [11]. 20 outra associada à emergência do computador pessoal. [2] não significa que os estudos foram interrompidos. reitera a importância de valores e da atividade humana na O desafio demanda um esforço substancial da comunidade compreensão da computação na vida diária. pois podemos afirmar que as recomendações curriculares Trazemos estes autores e autoras, porque entendemos que a nacionais são bastante ortodoxas, pois propiciam estreita ideia de onda, por mais que possa ser compreendida como margem de trabalho a questões associadas a valores, a espectro, geralmente é entendida como etapas, sendo uma culturas, ao cotidiano, à participação, ao contexto, ao subsequente a outra. Em termos históricos, isto pode ser momento, e a muitas outras dimensões situadas e problemático, pois em vez de viabilizar uma diferenciação circunstanciadas. epistemológica e suscitar reflexões sobre a pertinência de Quanto às internacionais, elas tem sido um pouco mais cada uma, a cada contexto, a cada local, a cada momento, abertas, mas ainda são densamente direcionadas pelos facilmente escorrerá em simplificações e reducionismos. preceitos da dita primeira onda. Entretanto, vale ressaltar Daí a ressalva já mencionada de [8]. Estas caracterizações que a organização acadêmica norte-americana e europeia multifacetadas desta área chamada IHC, em que correntes facilitam sobremaneira a exploração de outras áreas do coetâneas se desdobram, servem a diferentes interesses, conhecimento na graduação, além de exigirem um número reforçam e enfraquecem valores, refletem e refratam significativamente mais enxuto de horas de trabalho posicionamentos, incluem, medeiam e excluem associadas diretamente à computação. Este não é o caso participações, têm implicações e desdobramentos diretos na brasileiro, onde dificilmente um estudante pode fazer um forma como nossas recomendações curriculares, nossos leque grande de disciplinas fora de seu “departamento”. cursos, nossos processos de ensino e aprendizagem, nossa Mas como então falarmos em aspectos sociais, políticos, de estruturação de laboratórios, nosso reconhecimento da valor, culturais se nem professores nem estudantes têm esta relevância de contribuições, são constituídas e modificadas. formação. A próxima seção apresenta um esforço Mudanças epistemológicas consideráveis estão em estruturado para considerar os aspectos da terceira onda em perspectiva, o que não necessariamente caracterizam uma organização curricular. mudanças na organização curricular de IHC. Continua a ser A EDUCAÇÃO EM IHC EM NOSSA INSTITUIÇÃO necessário contribuir para que a formação em IHC e áreas A instituição em análise, a UTFPR, oferece atualmente dois correlatas contemple conhecimentos em diferentes cursos de graduação na área de Computação e Informática disciplinas, e isto depende muito do contexto em que IHC que incluem disciplinas de IHC: Engenharia de está inserido nas recomendações curriculares e nas matrizes Computação e Sistemas de Informação, ambos em nível de de cursos na área de computação. Não basta mais incluir bacharelado. Em nível de pós-graduação temos um uma disciplina de IHC para uma formação consistente, mestrado profissional em Computação Aplicada, com embora seja um começo. Mas mais que isto, não basta disciplinas correlatas e um mestrado e um doutorado simplesmente incluir um conjunto significativo de interdisciplinar, com área de concentração em Tecnologia e disciplinas para uma formação multifacetada e plural como Sociedade. Em contraposição ao reconhecimento as postuladas pela terceira onda. Exigir-se-ia uma anteriormente aventado, mas em conformidade com as articulação delas, que permitisse, uma postura crítica frente diretrizes curriculares nacionais, optamos em inserir em a cada inserção computacional em diferentes esferas da vida nossos cursos um montante maior de disciplinas que cotidiana, ao menos de alguns profissionais. Isto exige uma viabilizem por parte do estudante uma compreensão mais mudança da própria computação como área, ainda aprofundada do contexto social e profissional da grandemente direcionada como uma disciplina formal, computação, assim como conhecimentos de áreas básicas as universal, neutra, desinteressada, e consequentemente ciências humanas que potencialmente poderiam servir de avessa ao concreto, particular, político, interessado, como arcabouço em projetos centrados no uso. No Quadro 1 muitas das teorias exploradas tanto pela segunda como listamos o conjunto de disciplinas já inclusas nos projetos terceira ondas já expressaram reiteradamente. Isto nos leva de curso atuais, as quais julgamos contribuir a uma a questões curriculares, pois elas não só balizam como construção de uma IHC compreendida de modo amplo, ao regulam parte do que pode e do que não pode ser oferecido desenvolvimento do computar em domínios de relevância em cursos de graduação e pós em computação e informática, ainda não extensivamente explorados, ou à compreensão de no Brasil e alhures. seus contextos histórico-culturais. A presença destas RECOMENDAÇÕES CURRICULARES disciplinas em nossos cursos não deram os resultados Não há muitas recomendações curriculares em IHC, embora almejados nos respectivos projetos de cursos, o que requer encontrem-se vários esforços em associações profissionais e tanto ajustes pontuais, como uma reestruturação de fundo. comunidades, passados e presentes. A exceção são as Em um diagnóstico breve, alguns fatores são marcantes no recomendações do SIGCHI, de 1992. Mas, na medida em curso de Sistemas de Informação. Começamos pela elevada que a área de IHC foi devidamente reconhecida e inclusa carga horária do curso atual e sua distribuição. Que tem nas recomendações em computação, aparentemente a sobrecarregado o corpo discente e o docente. Percebe-se a necessidade de recomendações particulares diminuiu, o que falta de momentos de reflexão e livre criação. Os períodos 21 iniciais funcionam como filtros, que embora selecionem ementas de cada uma das disciplinas. Cada esquipe foi estudantes com perfis competentes em abstração e encorajada a criar um enunciado de projeto que priorize facilidade de programação, podem estar excluindo um uma determinada comunidade e que contemple as grande montante de pessoas que não tiveram a perspectivas das duas disciplinas. Por exemplo, um projeto oportunidade anterior de construir estas competências. Há envolveu a criação/adequação de materiais instrucionais também uma falta de conexão entre conteúdos ministrados (na área de programação) para serem disponibilizados via disciplinas, o que se traduz nma excessiva segmentação ou web a estudantes da instituição em atividades a distância. insularidade disciplinar. Somamos a estes a falta de Neste trabalho a equipe partiu de um material já existente, flexibilidade e a reduzida oferta de disciplinas optativas. desenvolvido no escopo das atividades de um dos grupos PET 2 do Departamento Acadêmico de Informática, e Objetivam a comunicação e a integração de saberes: Estágio Supervisionado; Atividades Complementares; Trabalho de realizou uma adequação para que este material fosse Conclusão de Curso; Oficinas de Integração; Metodologia de disponibilizado em um site desenvolvido por eles. Pesquisa; Comunicação Oral e Escrita; Inglês; Com esta iniciativa os alunos consideraram questões sobre Objetivam a compreensão da inserção social da computação: análise de uso , requisitos, projeto e prototipação, Ciências Ambientais; Economia; Filosofia da Ciência e da usabilidade, avaliação de interface entre outros. Também Tecnologia; História da Técnica e da Tecnologia; Sociedade e consideraram questões sobre a comunidade a ser atendida, Política no Brasil; Tecnologia e Sociedade; Ética Profissão e enfatizando o desenvolvimento não determinista deste Cidadania; Computação e Sociedade; artefato e contribuindo para que se atentem ao local, ao Objetivam uma compreensão de contexto de uso e sua valor e ao contexto em que as interações se dão ou são administração: Gestão da Informação e de Sistemas de construídas. Esta amplitude de compreensão vai ao Informação; Gestão de Oportunidades; Gerência de Projetos; encontro do horizonte proposto por algumas das iniciativas Gestão de Pessoas; Gestão Financeira; Governança Corporativa; da terceira onda, por contextualizarem e situarem o Marketing (Gestão mercadológica); Produção e Logística; Teoria computar em um momento e uma comunidade concretos, e Geral da Administração; Teoria Geral de Sistemas; exigindo assim, a saída do conforto do laboratório, a ida a Objetivam trabalhar nestes contextos: Design de Interação; campo, o encontro da diferença e da incompreensão. Segurança e Auditoria de Sistemas; Sistemas de Apoio a Decisão; Trabalho Cooperativo Apoiado por Computador; Neste exemplo, estiveram envolvidas em fazeres similares três outras equipes, com dois participantes cada. A título de Quadro 1. Disciplinas correlatas à IHC inclusas em cursos de exemplo, a primeira tratou da questão de disponibilização Graduação na instituição em análise de material na web, para apoio ao ensino a distância. A PRÁTICAS ATUAIS segunda propôs um artefato no escopo da acessibilidade Como intuito de aprimorar o projeto político pedagógico para idosos e a terceira apresentou uma proposta para atual do curso de Sistemas de Informação foram planejadas apoiar uma comunidade de voluntários de uma associação atividades para interconectar, e desta maneira favorecer, as da área de saúde. O objetivo curricular desta iniciativa é disciplinas de Design de Interação e de Computação e promover a fundamentação e a discussão crítica das Sociedade, a primeira com carga horária de 60ha e a correntes tradicionais e tendências em IHC, já que isto segunda de 30 horas aula. corrobora com os estudos da área de Computação e Sociedade, que tratam, por exemplo, de questões de A ementa atual de Design de Interação contempla: conteúdo e de identidade cultural, atenção para processos “Fundamentos em Design de Interação e em Computação de inserção e acesso de minorias na ou pela computação Gráfica. Introdução ao design e à avaliação de artefatos e considerando cortes de classe, gênero, etnia, geração e mídias interativos.”. Já a ementa da disciplina de capacidade, atuação do profissional de Sistemas de Computação e Sociedade aborda os seguintes elementos: Informação e ferramental tecnológico como construção “O computador na sociedade atual. Aspectos sociais e sociocultural. Ambas as disciplinas podem e devem econômicos da utilização da informática. A ética considerar a tecnologia como produção social, dando a profissional como construção sócio-simbólica. Atuação do devida importância às pessoas, artefatos, práticas, culturas, profissional no mercado de trabalho. Relações de Poder: o saberes e fazeres. espaço público, o privado e o sujeito. Automação, Robótica e Desemprego. Política de Informática. Cidadania e Este esforço, desenvolvido em parceria das duas disciplinas, educação. Recursos de aprendizagem. Conteúdos e possibilitou que estudantes visualizassem a importância de identidade cultural. Epistemologia e possibilidades de atuar política e socialmente, por meio da computação e na representação: Ferramental tecnológico como construção computação. É sabido que os artefatos possuem sociocultural.” Este esforço de integração foi iniciado no primeiro semestre 2 Programa de Educação Tutorial Conexões de Saberes, do letivo de 2013 e tem como base o desenvolvimento de um Ministério da Educação (MEC), das Secretaria de Educação projeto prático, que deve transcorrer durante o semestre Superior (SESu) e Secretaria de Educação Continuada, letivo, e que inclua alguns dos conceitos cobertos pelas Alfabetização e Diversidade (SECAD), aprovado em 2010. 22 significados, e que as escolhas computacionais realizadas conteúdos repetidos. Neste caso, opção foi por permanecer durante o desenvolvimento de um determinado artefato com uma disciplina de 45ha semanais para atender aos dois propiciam maneiras de viver que podem excluir ou incluir programas anteriores. Este tipo de situação ocorreu em mais grupos sociais bem como possibilitar formas distintas de disciplinas, o que proporcionou uma reestruturação do apropriação deste artefato. Entendemos que a baixa procura, currículo considerando o número total de horas em sala de presença e permanência de minorias na computação possa aula. estar associada ao perfil disciplinar que a própria área como Naquilo que concerne a área de IHC propriamente dita, a um todo percorreu historicamente. equipe conta com cinco docentes, que ofertam hoje quatro É importante frisar que esta atividade não almeja disciplinas obrigatórias (Design de Interação para dois contemplar todos os conteúdos das duas disciplinas. Porém cursos, Trabalho Cooperativo, e Computação e Sociedade), ela possibilita que estudantes abordem conteúdos apenas na graduação. No novo projeto, apenas específicos das duas disciplinas que sejam significativos e Fundamentos em Interação Humano Computador seria importantes para cada projeto, permitindo a construção de obrigatória, e apenas para Sistemas de Informação. Isto só é pontes entre não só disciplinas do curso, mas entre possível pela coberturas das disciplinas de ciências realidades concretas que podem ser vivenciadas além dos humanas à tópicos que envolvem as relações entre as muros da academia. tecnologias e as sociedades, em seus aspectos culturais, históricos, políticos, éticos, etc, as quais também devem PRÁTICAS FUTURAS Neste momento o Núcleo Docente Estruturante trabalha em passar por uma reestruturação. Esta redução de carga, uma reestruturação do currículo de Bacharelado em flexibilização de escolhas e articulação de conteúdos abre Sistemas de Informação para reduzir a carga horária total espaço para a oferta concreta, já em nível de graduação, de do curso, e a carga em disciplinas obrigatórias, liberando disciplinas com foco específico em “Projeto e espaço para que o corpo discente possa assumir parte da Desenvolvimento em Design de Interação/IHC”, em responsabilidade pela conformação por sua trajetória “Avaliação em Design de Interação/IHC”, e outras que curricular específica. As cargas horárias de disciplinas de podem ser ofertadas tempestivamente conforme a formação específica também devem sofrer uma redução disponibilidade ou em paralelo com a pós-graduação. A repassando parte delas, hoje obrigatórias a todo o corpo primeira tem por objetivo trabalhar os aspectos de discente, para os cursos de pós-graduação e fomentando desenvolvimento de artefatos em IHC em profundidade, e a uma integração destes níveis. Flexibilidade e mobilidade segunda tratar de questões de avaliação, explorando os são palavras de ordem. A arquitetura da reformulação prevê métodos e técnicas existentes. Para realizar um trabalho de um cerne básico reduzido, com carga horária tal nos dois IHC com a graduação e com a pós-graduação foi prevista primeiros períodos que permita uma maior diversidade de abertura das disciplinas de Design de Interação ofertada em trajetórias pessoais à entrada no curso, e complete uma nível de pós-graduação, e que cobrem conteúdos mais forma de primeiro ciclo com disciplinas introdutórias, em aprofundados. Ou seja, se por um lado estamos diminuindo grande parte, das várias áreas contempladas por o exigido como obrigatório em IHC à ambos os cursos, recomendações curriculares nacionais e internacionais. também estamos possibilitando um aprofundamento em disciplinas optativas em IHC, e em áreas fundamentais a Disciplinas nestas áreas, que incluem não apenas as esta. tradicionais de computação, mas também aquelas nas ciências humanas e nas artes/linguagens necessárias para a Estas práticas em andamento e futuras estão direcionadas, IHC e a computação que almejamos, encaminham a escolha atualmente, ao curso de Sistemas de Informação, porém, de trilhas/módulos de duas a quatro disciplinas que espera-se que o curso de Engenharia da Computação permitem talhar perfis profissionais em demanda ou a também possa se apropriar de tais sugestões para que explorar. Cada estudante deverá cursar um mínimo de três contemple estes conteúdos nos mesmos moldes. A destas trilhas em computação, o que permite um arquitetura proposta possibilita, eventualmente, se aprofundamento em certas áreas, duas ou mais estruturar uma entrada única em Informática, e várias formalmente constituías em outras áreas do conhecimento, diplomações, articuladas em torno de conjuntos de restando ainda um conjunto de duas ou três disciplinas que requisitos no cerne comum e de conjuntos de trilhas podem ser cursadas isoladamente, e que permitem a específicas. A organização em dois ciclos, tal qual os exploração e certa flexibilidade nas escolhas. Pontualmente, bacharelados recentemente abertos em algumas instituições foi realizada uma inspeção nas ementas e conteúdos das no Brasil, em princípio permitiria que estudantes com disciplinas, o que resultou na detecção de alguma interesses, perfis e restrições diversas se graduassem por redundância.. Conteúdos que antes eram abordados em duas exemplo não só em bacharelados já ofertado, como ou mais disciplinas de forma similar, foram repassados Engenharia de Computação e Sistemas de Informação, mas apenas para uma disciplina. Como exemplo é possível citar alternativamente em cursos de carga horária mais reduzida as disciplinas de Tecnologia e Sociedade e Computação e (como os tecnólogos) ou inclusive mais extensa, tais quais Sociedade (ambas com 30ha semanais), que apresentam os minors em sistemas anglo-saxônicos. Neste sentido, vê- se que hoje minors em Design de Interação, Informática em 23 Saúde, ou mesmo de formação plena como Licenciatura em 3. Bødker, S. When second wave HCI meets third wave Computação, embora possíveis, exigiriam a exploração de challenges. In Proceedings of the 4th Nordic conference colaborações interdepartamentais e interinstitucionais ainda on Human-computer interaction: changing roles não tecidas. A arquitetura curricular prevê esta (NordiCHI '06), Anders Mørch, Konrad Morgan, Tone possibilidade, mas têm-se ciência de que isto só pode ser Bratteteig, Gautam Ghosh, and Dag Svanaes (Eds.). conseguido a longo prazo. ACM, New York, NY, USA, (2006), 1-8,. DOI=10.1145/1182475.1182476 Reforça-se que esta liberdade de construção de trajetória profissional por cada estudante é crucial para o 4. Dunne, A. Hertzian Tales Electronic Products, Aesthetic desenvolvimento da área de Interação Humano Computador, Experience and Critical Design. RCA Research interdisciplinar por natureza, mas que hoje se vê em parte Publications, (1999). estagnada pela falta de flexibilidade que as próprias 5. Grudin, J. A moving target – The evolution of Human- estruturas acadêmicas perpetuam. Como se pode pleitear as Computer Interaction. In J. Jacko (Ed.), Human- dimensões culturais, históricas, políticas, educacionais, Computer Handbook (3rd Edition) , Taylor and Francis, econômicas, comunicacionais, estéticas para IHC se cada (2012). estudante e cada docente enfrenta atualmente desafios significativos para cursar, validar e ver reconhecidas como 6. Grudin, J. Three Faces of Human-Computer Interaction. dignas e importantes para sua formação conhecimentos em IEEE Ann. Hist. Comput. 27, 4 (2005), 46-62. antropologia, sociologia, história, psicologia, pedagogia, DOI=A68E0687-6A30-4C46-9DF7-7E0A4AE9FE20 economia, comunicação, letras, artes ou outras, exigidas 7. Harrison, S., Tatar, D. and Sengers, P. The three inclusive para a compreensão da literatura desta área. É paradigms of HCI. Ext. Abstracts CHI 2007, ACM Press neste contexto, e viés, que os autores deste artigo estão (2007). trabalhando formações específicas. 8. Harrison, S., Sengers, P., and Tatar, D. Making CONSIDERAÇÕES FINAIS epistemological trouble: Third-paradigm HCI as Ao se assumir, por diversas razões históricas de nossa successor science. Interact. Comput. 23, 5 (2011), 385- trajetória pessoal e institucional o viés de um espectro 392. DOI=10.1016/j.intcom.2011.03.005 muito semelhante ao que vem sendo denominado terceira 9. Kammersgard, J. Four different perspectives on Human- onda em IHC, nos vemos responsáveis também por Computer Interaction. International Journal of Man- questionar os preceitos epistemológicos quase hegemônicos Machine Studies 28, (1988), 343-362. que ditam, regulam, supervisionam, e punem trajetórias profissionais e institucionais divergentes. Sabemos que não 10. Kaptelinin, V., Nardi, B., Bødker, S., Carroll, J., Hollan, estamos sós nesta caminhada, pois muitos são os contextos J., Hutchins, E. and Winograd, T. Post-cognitivist HCI: em que a computação se faz presente, e estes exigem second-wave theories. In CHI '03 extended abstracts on mudanças de postura e formação, sob risco de serem Human factors in computing systems (CHI EA '03). descartados por outras formações que o fizerem. ACM, New York, NY, USA, (2003), 692-693. AGRADECIMENTOS DOI=10.1145/765891.765933 Nós gostaríamos de agradecer em especial os Núcleos 11. Khun, T. Estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Docentes Estruturantes dos Cursos de Engenharia de Perspectiva, (1978). Computação e Bacharelado em Sistemas de Informação, 12. McCarthy, J. and Wright, P. Technology as Experience. aos e às integrantes da Linha e Grupos de Pesquisa em que The MIT Press. (2004). atuamos em nível de pós-graduação. Agradecemos também as indicações de revisores desta comunicação neste evento, 13. Rogers, Y. HCI Theory: Classical, Modern, and que certamente contribuíram para o seu aprimoramento. comptemporary. Morgan & Claypool. (2012) 14. Suchman, L. A. Plans and situated actions. 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