1 Uma Estratégia para Melhoria de Processo de Software nas Empresas Brasileiras Kival C. Weber, Ana Regina Rocha, Ana Cristina Rouiller, Adalberto Crespo, Ângela Alves, Arnaldo Ayala, Austregésilo Gonçalves , Benito Paret, Carlos Vargas, Clênio Salviano, Cristina Machado, Danilo Scalet , Djalma Petit, Eratóstenes Araújo, José Carlos Maldonado, Kathia Oliveira, Luiz Carlos Oliveira, Márcio Girão, Márcio Amaral, Renata Campelo, Teresa Maciel Resumo — Estudos sobre a qualidade no setor de software brasileiro mostram a necessidade de um esforço significativo capaz de aumentar a maturidade dos processos de software das empresas. Este artigo descreve o Projeto mps Br – melhoria de processo do software Brasileiro, uma iniciativa envolvendo universidades, grupos de pesquisa e empresas, sob a coordenação da Sociedade SOFTEX. O projeto visa a definição e disseminação de um Modelo de Referência e um Modelo de Negócio para melhoria de processo de software (MR mps e MN mps, respectivamente). Não é objetivo deste projeto definir algo novo no que se refere a normas e modelos de maturidade. Sua novidade está na estratégia de implementação, criada para a realidade brasileira. O Modelo de Negócio tem grande potencial de replicabilidade no Brasil e em outros países de características semelhantes no que se refere ao setor de software. Palavras-chave — avaliação do processo, melhoria do processo, processo de software —————————— u —————————— 1 INTRODUÇÃO P esquisas periódicas sobre a qualidade no setor de 2) na base da pirâmide, tem-se uma outra questão: Como software brasileiro mostram que é necessário um melhorar radicalmente os processos de software no esforço adicional significativo para melhorar os Brasil, com foco em um número significativo de processos de software no país [1]. Desde 1993, com a micro, pequenas e médias empresas, de forma que criação do PBQP Software (Subcomitê de Software do estas atinjam os níveis de maturidade 2 e 3, a um Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade), o custo acessível? Brasil investe na melhoria da Qualidade de Software [2], A solução para o primeiro problema está fora do escopo [3]. Entretanto, um estudo comparativo do MIT deste artigo, exigirá um prazo longo (4 a 10 anos) e será (Massachusetts Institute of Technology) [4] constatou que apoiada pelo Projeto Qualificação de Profissionais no houve interesse na me-lhoria de processos de software no Modelo CMMI. Este trabalho descreve uma abordagem Brasil, nos últimos anos, mas que as empresas locais para solução do segundo problema, no período 2004-2006, favoreceram a ISO 9000 [5] em detrimento de outros no âmbito do Projeto mps Br – melhoria de processo do modelos e padrões especificamente voltados para software. software Brasileiro. Os dois projetos são coordenados pela Segundo dados do Ministério da Ciência e Tecnologia Sociedade SOFTEX. (MCT/SEITEC), em 2003, o número de empresas que A Sociedade SOFTEX é uma entidade privada, sem fins desenvolvem software no Brasil com certificação ISO 9000 lucrativos, que promove ações de empreendedorismo, era 214, enquanto o número de empresas com avaliação capacitação, apoio à capitalização e ao financiamento, e oficial CMM era 30. Considerando-se estas 30 empresas apoio à geração de negócios no Brasil e no exterior, visando com avaliação oficial CMM, verifica-se que na base da aumentar a competitividade da indústria brasileira de pirâmide encontram-se 24 empresas no nível 2 e cinco software. Sua missão é transformar o Brasil em um centro empresas no nível 3. No topo da pirâmide há uma empresa de excelência mundial na produção e exportação de no nível 4 e nenhuma no nível 5. Estes dados evidenciam software. É a entidade nacional responsável pelo Programa que, para a melhoria dos processos de software no Brasil, SOFTEX, que coordena as ações de 31 Agentes SOFTEX, há dois problemas a serem resolvidos nos próximos anos: localizados em 23 cidades de 13 Unidades da Federação, 1) no topo da pirâmide, a questão a ser resolvida é: Como com mais de 1300 empresas associadas (consulte aumentar expressivamente o número de empresas www.softex.br ). com avaliação formal CMM/CMMI níveis 4 e 5 no Após esta seção introdutória, na seção 2 é descrito o Brasil, com foco nas empresas exportadoras de Projeto mps Br. Na seção 3 são resumidas as principais software e em outras grandes empresas? abordagens para melhoria de processo de software, que foram a base para a definição do Modelo de Referência para ———————————————— melhoria de processo de software (MR mps). A seção 4 • K.C.Weber é da Sociedade para Promoção da Excelência do Software apresenta o MR mps. A seção 5 descreve as experiências- Brasileiro (SOFTEX), E-mail: kival.weber@nac.softex.br. piloto e os primeiros resultados obtidos. Na seção 6, como • A.R. Rocha é do Programa de Engenharia de Sistemas e Computação da conclusão, são destacados os diferenciais do projeto. Universidade Federal do Rio de Janeiro. E-mail: darocha@cos.ufrj.br.. 2 QUATIC’2004 PROCEEDINGS 2 O PROJETO MPS BR para Implementação (ICI). Para avaliação, negocia e assina um outro contrato específico com uma das Instituições A estrutura organizacional do projeto é constituída por: Credenciadas para Avaliação (ICA). A entidade 1) uma equipe coordenadora do projeto; coordenadora do Projeto mps Br (Sociedade SOFTEX) toma 2) uma equipe técnica, com responsabilidade pela conhecimento, através da ICI ou ICA, do contrato e dos definição e aprimoramento do Modelo de Referência resultados da implementação e/ou avaliação na empresa. (MR mps); No Modelo de Negócio Cooperado (MNC), o primeiro 3) Forum de Credenciamento e Controle (FCC), passo, é a constituição de um grupo de empresas responsável por credenciar e controlar instituições interessadas na implementação do MR mps (o que pode implementadoras do MR mps e avaliadoras de acontecer, ou não, por iniciativa de um Agente SOFTEX). A empresas segundo o modelo. No momento do partir de sua constituição, a coordenação do grupo de credenciamento, a Sociedade SOFTEX assina um empresas irá negociar e assinar um contrato com uma das convênio com a instituição credenciada. Instituições Credenciadas para Implementação (ICI). O cronograma do projeto compreende seis etapas: as Posteriormente, irá negociar e assinar um outro contrato duas primeiras foram de planejamento (P do PDCA) e as para avaliação das empresas com uma das Instituições quatro últimas etapas, semestrais, serão de execução, Credenciadas para Avaliação (ICA). Neste caso, a controle e aprimoramento do projeto. A 1ª etapa – Sociedade SOFTEX toma conhecimento da implementação Organização do Projeto, realizada de dezembro de 2003 a e/ou avaliação no grupo de empresas, através da ICI ou março de 2004, teve como objetivo organizar o projeto, ICA, e assina um convênio com a entidade organizadora do estabelecer seus objetivos e definir a primeira versão do grupo de empresas (por exemplo, um Agente SOFTEX), Modelo de Referência (MR mps). A 2ª etapa – sempre que pertinente. Aprimoramento do Modelo, de abril a junho de 2004, teve como objetivos o aprimoramento do Modelo de Referência, o início das atividades de treinamento no modelo e a realização de experiências iniciais de uso do MR mps em 3 MODELOS E NORMAS DE PROCESSOS DE empresas. De julho de 2004 a junho de 2006, nas quatro SOFTWARE etapas semestrais denominadas de Implementação em O objetivo fundamental do Projeto mps Br é a definição e Grupos de Empresas, serão realizadas implementações e disseminação de um Modelo de Referência para melhoria avaliações do modelo em empresas, com foco em grupos de processo de software (MR mps). Não é objetivo do de empresas, em diversos locais do país. projeto definir algo novo no que se refere a Normas e Normalmente, devido ao seu custo elevado a Modelos de Maturidade. A novidade e contribuição do implementação e avaliação de modelos como o CMMI, projeto está na sua estratégia de implementação, criada mesmo nos seus níveis mais baixos (2 e 3), está fora do para a realidade brasileira. Além disto, o Modelo de alcance da micro, pequena e média empresa, especialmente Negócio definido para o projeto tem grande potencial de no Brasil. Para resolver este pro-blema, o Projeto mps Br replicabilidade no Brasil e em outros países de criou dois modelos: características semelhantes no que se refere ao setor de 1) Modelo de Referência para melhoria de processo de software. Desta forma os modelos, normas e métodos já software (MR mps), que será descrito na seção 4; disponíveis e conhecidos internacionalmente foram o ponto 2) Modelo de Negócio para melhoria de processo de de partida para a definição do Modelo de Referência. software (MN mps), descrito nesta seção. O ponto de partida para definição do MR mps foi, No Brasil, algumas instituições e Agentes SOFTEX têm portanto, a análise da realidade das empresas brasileiras, e experiência na formação e gestão de grupos de empresas a sua plena compatibilidade com o modelo CMMI para me-lhoria de processo de software, seja de grupos de (Capability Maturity Model Integration), a norma ISO/IEC empresas voltados à implementação e certificação ISO 9000 12207 e a norma ISO/IEC 15504 (SPICE) que descrevemos [6] seja de grupos de empresas voltados à implementação e sucintamente a seguir. avaliação CMM e CMMI. A partir destas experiências Em 1988, foi proposto o desenvolvimento da Norma ISO/IEC concebeu-se para o Projeto mps Br um Modelo de Negócio 12207 [7] dentro de um esforço conjunto da ISO – International (MN mps) que prevê duas situações: Organization for Standardization e do IEC – International 1) a implementação do MR mps de forma personalizada Electrotechnical Commission em estabelecer uma estrutura para uma empresa (MNE – Modelo de Negócio comum para os processos de ciclo de vida de software como Específico); forma de ajudar as organizações a compreenderem todos os 2) a implementação do MR mps de forma cooperada em componentes presentes na aquisição e fornecimento de software grupos de empresas (MNC – Modelo de Negócio e, assim, conseguirem firmar contratos e executarem projetos de Coope-rado), com custo mais acessível às micro, forma mais eficaz. A Norma foi publicada internacionalmente em pequenas e médias empresas por dividir 1995 e no Brasil em 1998. proporcionalmente parte dos custos entre as Em 2002, foi feita uma atualização na norma ISO/IEC empresas e por se buscar outras fontes de 12207 [8] em forma de anexo que visava representar a financiamento. evolução da engenharia de software, as necessidades No Modelo de Negócio Específico para uma empresa vivenciadas pelos usuários da norma e a harmonização com (MNE), cada empresa interessada negocia e assina um a série de normas ISO/IEC 15504 – Avaliação de Processos contrato específico com uma das Instituições Credenciadas WEBER ET AL.: UMA ESTRATÉGIA PARA MELHORIA DE PROCESSO DE SOFTWARE NAS EMPRESAS BRASILEIRAS 3 de Software. Essa atualização inseriu processos e Uma questão que se apresenta para as organizações é, acrescentou na sua descrição propósito e resultados de então: que modelo escolher? Se a organização é familiar implementação o que possibilita a avaliação da capacidade com o SW-CMM, a representação em estágios será a mais do processo. A norma, incluindo o seu anexo, é composta adequada para migrar para o CMMI. Esta representação, por 22 processos, 95 atividades, 325 tarefas e 254 resultados. também, é a mais adequada se a organização necessita Todos esses processos, executados durante o projeto de demonstrar externamente o seu nível de maturidade. software, conduzem à qualidade tanto do produto quanto Entretanto, não há obrigatoriedade de se escolher uma do processo. Entretanto, a norma deixa para a organização representação em detrimento da outra. Mais de 80% do definir “como” os processos serão executados conservando conteúdo das duas representações é comum e elas oferecem dessa forma a flexibilidade necessária para que os países e resultados equivalentes. Raramente as organizações as organizações a implementem de acordo com a cultura implementam uma representação exatamente como ela é local e a tecnologia empregada. prescrita. Por exemplo, uma organização pode escolher a A ISO/IEC 12207 tem sido amplamente utilizada em representação em estágios para implementar o nível 2 mas muitos países como referência para contratação de serviços incluir uma ou duas áreas de processo de nível 3 em seu de desenvolvimento e manutenção de software. No Brasil, plano de melhoria. Outra possibilidade é uma organização muitas organizações têm tomado conhecimento da escolher a representação contínua para guiar internamente existência da norma e algumas já a utilizam para definição o seu processo de melhoria e, no momento de realizar a de processos de desenvolvimento de software. Muitos avaliação, escolher a representação em estágios [11]. trabalhos de pesquisa têm utilizado a norma o que Um modelo em estágios fornece um roteiro predefinido vislumbra uma ampla utilização da mesma no futuro. para a melhoria de processos na organização baseado em A ISO/IEC 15504 (SPICE) presta-se à realização de um agrupamento e ordenação de processos. O termo avaliações de processos de software com dois objetivos: a “estágios” vem da forma como o modelo descreve este melhoria de processos e a determinação da capacidade de roteiro, isto é, como uma série de estágios chamados níveis processos de uma organização. Se o objetivo for a melhoria de maturidade. Cada nível de maturidade tem um de processos, a organização pode realizar a avaliação conjunto de áreas de processo que indicam onde a gerando um perfil dos processos que será usado para a organização deve colocar o foco de forma a melhorar o seu elaboração de um plano de melhorias. A análise dos processo. Cada área de processo é descrita em termos das resultados identifica os pontos fortes, os pontos fracos e os práticas que contribuem para alcançar seus objetivos. O riscos inerentes aos processos. No segundo caso, a empresa progresso ocorre pela satisfação dos objetivos de todas as tem o objetivo de avaliar um fornecedor em potencial, áreas de processo relacionadas a um determinado nível de obtendo o seu perfil de capacidade. O perfil de capacidade maturidade. As áreas de processo do CMMI estão permite ao contratante estimar o risco associado à organizadas em quatro níveis de maturidade na contratação daquele fornecedor em potencial para auxiliar representação em estágios, pois o nível 1 não possui áreas na tomada de decisão de contratá-lo ou não [9], [10]. de processo. O modelo SW-CMM (Capability Maturity Model) foi definido no SEI (Software Engineering Institute) a pedido do 4 MODELO DE REFERÊNCIA PARA MELHORIA DO Departamento de Defesa dos Estados Unidos. A partir de 1991, foram desenvolvidos CMMs para várias disciplinas. PROCESSO DE SOFTWARE Embora estes modelos tenham mostrado sua utilidade, o O Modelo de Referência para melhoria de processo de uso de múltiplos modelos mostrou-se problemático. O software (MR mps) compreende níveis de maturidade e um CMMI surgiu para resolver o problema de se usar vários método de avaliação (Fig. 1). modelos e é o resultado da evolução do SW-CMM, SECM (System Engineering Capability Model) e IPD-CMM (Integrated Product Development Capability Maturity Model). É, portanto, o sucessor destes modelos. Além disso o CMMI foi desenvolvido para ser consistente e compatível com a ISO/IEC 15504 (SPICE) [11]. Existem dois tipos de representação no CMMI: em estágios e contínua. Tem-se, assim, um único modelo que pode ser visto de duas perspectivas distintas. A representação em estágios é a representação usada no SW- CMM. Esta representação é composta de um conjunto de áreas de processo para definir um caminho de melhoria para a organização, descrito em termos de níveis de maturidade. A representação contínua é o enfoque utilizado no SECM, no IPD-CMM e também no SPICE. Este Fig. 1. Modelo de Referência para Melhoria do Processo de Software. enfoque permite que uma organização selecione uma área de processo específica e melhore com relação a esta área. A representação contínua usa níveis de capacidade para caracterizar melhoria relacionada a uma área de processo. 4 QUATIC’2004 PROCEEDINGS 4.1 Implementação do MR mps áreas de processo, com base nos níveis 2, 3, 4 e 5 do CMMI A norma de referência para os processos de ciclo de vida de em estágios. Esta divisão tem uma gradação diferente do software no MR mps é a ISO/IEC 12207 conforme sua CMMI em estágios com o objetivo de possibilitar uma atualização publicada em 2002. Essa atualização inseriu implementação mais gradual e adequada às micro, processos e acrescentou na sua descrição propósito e pequenas e médias empresas brasileiras. A possibilidade de resultados de implementação o que possibilita a avaliação se realizar avaliações considerando mais níveis permite da capacidade do processo. A norma, incluindo o seu uma visibilidade dos resultados de melhoria de processo, anexo, é composta por 22 processos: na empresa e no país, com prazos mais curtos. Para cada 1) Processos fundamentais: Aquisição, Fornecimento, área de processo são considerados objetivos e práticas Desenvolvimento, Operação e Manutenção. específicos, de acordo com o Nível de Maturidade em 2) Processos de apoio: Documentação, Gerência de questão. Configuração, Garantia da Qualidade, Verificação, Consideremos novamente o exemplo anterior de Validação, Revisão Conjunta, Auditoria, Resolução de organização. Para esta empresa o adequado é buscar de Problemas e Usabilidade. início uma avaliação Nível F do mps Br, cujos resultados 3) Processos organizacionais: Gerência, Infra-estrutura, pretendidos são compatíveis com o nível 2 do CMMI. Ao Melhoria, Recursos Humanos, Gestão de Ativos, evoluir seus processos buscando o nível E do MR mps e Gestão de Programa de Reuso e Engenharia de ainda a compatibilidade com o CMMI a empresa deverá Domínio. introduzir todas as áreas de processo relativas a Engenharia Os resultados esperados da implementação dos do nível 3 do CMMI: Desenvolvimento de Requisitos, processos são uma adaptação para o MRmps dos resultados Solução Técnica, Integração do Produto, Verificação e esperados nos pro-cessos e atividades da ISO/IEC 12207. Validação. A evolução para o nível D implicará em A implementação do mps pode ter soluções implementar as áreas de processo Treinamento diferenciadas dependendo das características, necessidades Organizacional, Foco no Processo Organizacional, e desejo das organizações. Por exemplo, quando a Definição do Processo Organizacional e Gerência Integrada organização desejar ter aderência de seus processos ao do Produto. Para o nível C deverá implementar as áreas de CMMI esta pode se apoiar nas áreas de processo deste processo Gerência de Riscos, Análise e Resolução da modelo para obter diretrizes sobre como definir e Decisão e Gerência Integrada de Fornecedores. Os níveis B implementar os seus processos. A norma ISO/IEC 12207, e A cor-respondem, de forma idêntica, aos níveis 4 e 5 do por sua vez, contém atividades e tarefas descritas de forma CMMI. detalhada que podem auxiliar na implementação das áreas 4.3 Método de Avaliação de processo. A avaliação das organizações segundo o MR mps deverá 4.2 Níveis de Maturidade ser realizada considerando-se a aderência às áreas de Os níveis de maturidade estabelecem uma forma de prever processo estabelecidas para cada nível de maturidade e a o desempenho futuro de uma organização com relação a adequação das práticas que implementam as áreas de uma ou mais disciplinas. Um nível de maturidade é um processo. O método de avaliação foi definido com base na patamar definido de evolução de processo. Cada nível de ISO/IEC 15504. maturidade estabelece uma parte importante do processo O grau de implementação das práticas relacionadas a da organização. uma área de processo é avaliado a partir de Indicadores. No MR mps a maturidade de processo está organizada Estes indicadores, que devem ser definidos pela empresa em duas dimensões: a dimensão capacidade (capability para cada prática relacionada a uma área de processo, dimension) e a dimensão processo (process dimension). podem ser de um dos três tipos a seguir: Direto, Indireto ou A dimensão da capacidade é um conjunto de atributos Afirmação. Indicadores Diretos são produtos de um processo que estabelece o grau de refinamento e intermediários, resultado de uma atividade. Indicadores institucionalização com que o processo é executado na Indiretos são, em geral, documentos que indicam que uma organização. À medida que evolui nos níveis, um maior atividade foi realizada. Afirmações são resultantes de ganho de capacidade de desempenhar o processo é entrevistas com a equipe dos projetos avaliados, onde os atingido pela organização. Os níveis estabelecem uma entrevistados relatam como uma prática foi implementada. maneira racional para aprimorar a capacidade dos O grau de implementação de uma prática é avaliado de processos definidos no MR mps. acordo com quatro níveis: TI – Totalmente Implementada; A dimensão de Processos é baseada na ISO/IEC 12207 e LI – Largamente Implementada; PI – Parcialmente estabelece o que a organização deveria executar para ter Implementada; e NI- Não Implementada. A Tabela 1 qualidade na produção, fornecimento, aquisição e operação contém as regras para caracterizar o grau de de software. implementação das práticas, completamente aderentes ao A interseção dessas duas dimensões define a maturidade SPICE e ao CMMI. Os pontos nesta escala devem ser do processo que no MR mps são sete níveis de maturidade: entendidos como uma porcentagem que representa o grau A (Em Otimização), B (Gerenciado Quantitativamente), C de alcance. A decisão final sobre o grau de implementação (Definido), D (Largamente Definido), E (Parcialmente de um processo é da equipe de avaliação, considerando os Definido), F (Gerenciado) e G (Parcialmente Gerenciado). resultados da avaliação nos projetos avaliados. No Projeto Para cada um destes níveis de maturidade foram atribuídas mps Br, para facilitar a implementação do método de WEBER ET AL.: UMA ESTRATÉGIA PARA MELHORIA DE PROCESSO DE SOFTWARE NAS EMPRESAS BRASILEIRAS 5 avaliação e a uniformidade das avaliações realizadas, estão específicas, como por exemplo uma Guia de Aquisição [12]. sendo definidos check-lists orientadores. Uma empresa é considerada de nível A, B, C, D, E, F ou G se todas as suas áreas, unidades, divisões ou setores 5 EXPERIÊNCIAS-PILOTO E PRÓXIMOS PASSOS DO tiverem sido avaliados como naquele nível. Uma empresa, PROJETO entretanto, pode desejar ter avaliado apenas um ou alguns Como vimos no cronograma do projeto: de seus setores, áreas, unidades ou divisões (organização a 1) de dezembro de 2003 a março de 2004, foi realizada a ser avaliada). É possível que, como resultado de uma ou sua primeira etapa – Organização do Projeto, onde mais avaliações, partes de uma empresa tenham alcançado foram identificados os seus objetivos estratégicos, um determinado nível e partes da mesma um outro nível. estabelecido o Plano de Ação e definido o MR mps; Em qualquer caso, o documento comprobatório da 2) de abril a junho de 2004, foi realizada a sua segunda avaliação realizada deverá explicitar o que foi objeto de etapa – Aprimoramento do Modelo, cujo objetivo foi avaliação (escopo da avaliação) e o nível resultante de aprimorar o MR mps com base em experiências-piloto maturidade. em empresas e nas atividades iniciais de treinamento TABELA 1 no modelo. REGRAS PARA CARACTERIZAR O GRAU DE No Rio de Janeiro, o MR mps está sendo implementado IMPLEMENTAÇÃO DAS PRÁTICAS pela COPPE/UFRJ em 18 pequenas e médias empresas. Estas empresas constituíram dois grupos, organizados pela RIOSOFT, que partilharam as atividades de treinamento: 44 horas de aula em temas de Engenharia de Software e 20 horas de aula no MR mps e nos processos a serem implementados. Para estas 18 empresas, foram definidas duas estratégias de implementação. Um grupo de empresas optou por iniciar seu processo de melhoria seguindo rigorosamente os níveis do MR mps e, desta forma, estão concentradas nas áreas de processo do nível de maturidade G. Outro grupo de empresas decidiu iniciar o trabalho englobando os níveis F e G e a área de processo Medição e Análise, de forma a começar o processo de melhoria com a implementação das áreas de processo equivalentes ao nível de maturidade 2 do CMMI. As duas estratégias são perfeitamente compatíveis com o MR mps e com os objetivos do Projeto mps Br. Para apoiar a implementação do modelo, este grupo de empresas conta Para realização de uma avaliação devem ser submetidos com consultores da COPPE/UFRJ e um ambiente de todos os projetos concluídos e todos os projetos em desenvolvimento de software com ferramentas de apoio andamento a partir da implementação do MR mps na desenvolvidas para apoiar as áreas de processo [13]. empresa ou na organização que será avaliada. Durante o Também, foram iniciadas as atividades de treinamento planejamento da avaliação, a instituição avaliadora deve visando o credenciamento de instituições para selecionar um subconjunto suficiente de projetos que implementação e/ou avaliação do modelo. Em maio de garanta a representatividade da organização a ser avaliada. 2004, no Rio de Janeiro, foi realizado o primeiro curso de Este número, entretanto, não deve ser inferior a dois Introdução ao MR mps. Em junho e julho de 2004, foram projetos concluídos e dois projetos em andamento. realizados Workshops do Projeto mps Br em Brasília, São Algumas empresas podem desenvolver um único produto. Paulo e Recife com ampla participação de representantes de Isto entretanto não é impedimento para a avaliação, pois empresas, governo e pesquisadores de diversas regiões do projetos são entendidos em sentido amplo, incluindo país, onde foram apresentadas diferentes estratégias de projetos de manutenção no produto. O resultado de uma implementação do Modelo de Referência e diversas avaliação MR mps em empresa tem validade de dois anos. experiências de melhoria de processo de software em Diretrizes para implementação e avaliação segundo o MR mps grupos de empresas. Como parte destes Workshops foram são descritas em três guias específicas: Guia Geral, Guia de realizados cursos de Introdução ao MR mps. Com os cursos Implementação e Guia de Avaliação. Essas guias estão sendo realizados, cerca de 250 profissionais iniciaram o seu elaboradas e refinadas pela equipe técnica do modelo. Tem-se processo de formação no MR mps. A primeira prova de neste momento a versão 1.0, orientando a experiência-piloto. A conhecimentos específicos para implementação do modelo partir destas guias específicas, diferentes instituições poderão foi realizada em agosto de 2004, com 53 aprovados. A partir definir sua estratégia de implementação e/ou avaliação de acordo deste resultado foi iniciado o processo de credenciamento com o MR mps e submetê-la para credenciamento junto ao Fórum de instituições implementadoras. Ainda no segundo de Credenciamento e Controle (FCC). Após o credenciamento semestre de 2004 serão realizados cursos em Porto Alegre, pelo FCC, uma instituição está apta para apoiar empresas na Belo Horizonte, Manaus, Campinas e Fortaleza e duas implementação do MR mps e/ou avaliar a aderência das mesmas novas provas de conhecimentos em outubro e dezembro. ao modelo. Posteriormente, serão elaboradas outras guias Além dos grupos de empresas existentes no Rio de 6 QUATIC’2004 PROCEEDINGS Janeiro, Recife e Campinas, segundo o Modelo de Negócio Kival C. Weber é Engenheiro de Telecomunicações pelo Instituto Militar de Engenharia (1974), Mestre em Engenharia Elétrica pela Cooperado (MNC), outros grupos de empresas estão se COPPE/UFRJ (1976). Foi secretário nacional da Secretaria Especial formando em Belo Horizonte, Brasília, Campinas, de Informática. Empresário do setor de software. Foi Presidente da Fortaleza, Porto Alegre e São Paulo. Em agosto de 2004 Sociedade Softex. É coordenador do projeto mps Br e do sub-comitê teve, também, início a implementação do MR mps em três de software do Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade. Áreas de interesse: qualidade de software, processo de software. grandes organizações do governo brasileiro, o que está sendo feito segundo o Modelo de Negócio Específico (MNE). Ana Regina Rocha é Bacharel em Matemática pela UFRJ (1970), Mestre (1979) e Doutor (1983) em Informática pela PUC-Rio. É professora do Programa de Engenharia de Sistemas e Computação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde orientou 17 teses de 6 CONCLUSÃO doutorado e 77 teses de mestrado. É coordenadora da Equipe Técnica Neste artigo apresentamos o Projeto mps Br. O projeto tem do Modelo do projeto mps Br sete diferenciais que o caracterizam: (i) sete níveis de maturidade que permitem uma implementação gradual, Todos os demais autores são membros da equipe do Projeto mps Br. adequada à micro, pequena e média empresa, e que permitem aumentar a visibilidade do processo de melhoria; (ii) compatibilidade a ISO/IEC 12207, a ISO/IEC 15504 e o CMMI; (iii) criado para a realidade brasileira; (iv) custo acessível; (v) avaliação periódica (de 2 em 2 anos); (vi) grande potencial de replicabilidade no Brasil e em outros países; e, (vii) ter sido definido e ser implementado em forte interação universidade-empresa, o que constitui um catalizador do desenvolvimento tecnológico e de negócios. Como primeiros resultados, destacamos a definição e aprimoramento do modelo, as atividades iniciais de treinamento e a experiência-piloto no Rio de Janeiro em um grupo de 18 empresas, além da extraordinária receptividade do projeto em todas as regiões do país e em empresas de diferentes portes, privadas e governamentais. REFERÊNCIAS [1] Qualidade e Produtividade no Setor de Software Brasileiro 2001, Ministério da Ciência e Tecnologia/ Secretaria de Política de Informática. Brasília, 2001 [2] K.C.Weber, M. Pinheiro, ‘‘Software Quality in Brazil,“ Quality World Magazine, vol. 21, nov. l995 [3] K.C. Weber, A.R.C. Rocha, C.J. Nascimento, Qualidade e Produtividade em Software. São Paulo: Makron Books, 2001. [4] F. Veloso., A.J. Botelho, T. Tschang, A. Amsden “Slicing the Knowledge-based Economy in Brazil, China and India: A Tale of 3 Software Industries,’’ Report, Massachusetts Institute of Technology, Mass, set 2003. 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