=Paper= {{Paper |id=Vol-1667/CtrlE_2016_AC_paper_40 |storemode=property |title=Práticas Educativas com o Uso de Dispositivos Móveis em aulas de campo: Aprendizagem para além dos muros da Escola |pdfUrl=https://ceur-ws.org/Vol-1667/CtrlE_2016_AC_paper_40.pdf |volume=Vol-1667 |authors=Rayssa Araújo Hitzschky,Maria Alinne Forte de Brito,Juliana Silva Arruda,Cintia Arruda Lima,Maria Bernadete Oriá de Melo,José Aires de Castro Filho }} ==Práticas Educativas com o Uso de Dispositivos Móveis em aulas de campo: Aprendizagem para além dos muros da Escola== https://ceur-ws.org/Vol-1667/CtrlE_2016_AC_paper_40.pdf

    PRÁTICAS EDUCATIVAS COM O USO DE DISPOSITIVOS
    MÓVEIS EM AULAS DE CAMPO: APRENDIZAGEM PARA
              ALÉM DOS MUROS DA ESCOLA
    Rayssa Araújo Hitzschky1, Maria Alinne Forte de Brito1, Juliana Silva Arruda¹, Cintia
         Arruda Lima¹, Maria Bernadete Oriá de Melo¹, José Aires de Castro Filho1
                    1
                        Instituto UFC Virtual – Universidade Federal do Ceará (UFC)

            Campus do Pici - Bloco 901 - 1º andar - CEP 60455-760 - Fortaleza – CE
                            hitzschkyrayssa@gmail.com,
      alinnefbrito@gmail.com,julianarruda24@gmail.com,arrucintia@gmail.com,
                  bernaoria@virtual.ufc.br,aires@virtual.ufc.br
                                                     
                                                     
                Abstract. This paper reports an experience with the use of mobile technologies
             in field classes held in a public school in Aquiraz, Ceará, and presenting
             educational practices used with the insertion of these devices in the school
             dynamics, as well as the significant contributions these tools offered students and
             teachers in the teaching and learning process. The central theme of these classes
             was environmental sustainability and used hybrid laptops and smartphones to their
             development. With the use of these technologies, it was noticed that the students
             themselves as subjects participating in the production of knowledge in the midst of
             society, building learning through dialogue and collaborative way.
                
                Resumo. Este trabalho relata uma experiência com o uso de tecnologias móveis
             em aulas em campo realizadas em uma escola pública de Aquiraz, Ceará, e que
             apresenta práticas educativas utilizadas com a inserção destes dispositivos na
             dinâmica escolar, bem como, as contribuições significativas que estas ferramentas
             ofereceram aos alunos e professores no processo de ensino e aprendizagem. O
             tema central das referidas aulas foi a sustentabilidade ambiental e utilizaram
             laptops híbridos e smartphones para o seu desenvolvimento. Com o uso destas
             tecnologias, percebeu-se que os alunos se viram como sujeitos participantes na
             produção de conhecimentos em meio à sociedade, construindo a aprendizagem de
             forma dialogada e colaborativa.


Palavras-chave: Dispositivos Móveis; Práticas Educativas; Ensino e Aprendizagem.




                                                                                           



        1.Introdução

Nos últimos anos, a sociedade tem presenciado a realização de profundas transformações em
sua dinâmica. O desenvolvimento científico possibilitou o surgimento de um conjunto de
tecnologias voltadas para a comunicação entre as pessoas e o tratamento da informação e, a
partir disso, outras formas de pensar, agir e se comunicar, por conseguinte, surgiram, atingindo
as relações intersubjetivas, as formas de sociabilidade, cultura, lazer e, inclusive, a escola. 
             Entendendo que é inevitável a discussão sobre o impacto das novas tecnologias nas
relações entre os sujeitos, e, principalmente, no campo educacional, surge a importância de se
compreender a relevância destes recursos no processo de ensino e aprendizagem. Com o
advento das diferentes tecnologias dentro da sociedade, pode-se perceber seu uso para variados
fins, principalmente, no que concerne ao uso das chamadas tecnologias móveis. 
             Cada vez mais inseridas no contexto escolar, as tecnologias móveis apresentam-se
como uma ferramenta didática de apoio à aprendizagem, proporcionando novas possibilidades
no processo de ensinar e aprender. As “Novas Tecnologias usadas na Educação” – que já estão
ficando velhas! – deverão receber um novo incentivo com a possibilidade de junção de
diferentes mídias em um só artefato: TV, vídeo, computador, internet. Está se assistindo ao
nascimento da Tecnologia Digital, que poderá ter um impacto ainda maior no processo ensino-
aprendizagem. (VALENTE, 1993, p.1).
             Desse modo, o presente trabalho relata a experiência da utilização de dispositivos
móveis em duas aulas em campo sobre sustentabilidade ambiental em uma escola de Aquiraz,
Ceará. A pesquisa foi desenvolvida no âmbito do Projeto EDigital, que foi desenvolvido através
de parcerias entre COELCE, Secretaria de Educação de Aquiraz, UFC Virtual (UFC) e
Universidade Federal do Ceará (UFC), tendo como principal meta desenvolver competências
por meio do programa de formação da comunidade escolar para a inclusão e o uso das
tecnologias digitais na educação.
              Buscou-se contemplar práticas educativas que proporcionassem uma visão crítica,
reflexiva e, sobretudo, em que os alunos conseguissem se ver como sujeitos ativos e
participantes do processo de construção do meio social, que perpassa a escola e além desta.
Para embasar a referente pesquisa, serão expostos alguns pressupostos teóricos que envolvem
a temática.
           
        2. Referencial teórico

A abordagem dos dispositivos móveis na sociedade é de suma importância, visto que, é
primordial entender a dinâmica social estabelecida para posteriormente entender as influências
causadas em outros âmbitos que as forma e que são partes constituintes desta, como, por
exemplo, a escola.
            Nesta perspectiva do desenvolvimento acelerado das novas tecnologias, bem como
das suas consequentes transformações e contribuições significativas ao ensino, faz-se
necessário refletir sobre o uso das tecnologias móveis dentro e fora da sala de aula,
incorporando práticas educativas que visem não somente utilizar os dispositivos móveis como
um mero suporte tecnológico, mas, acima de tudo, como um aporte educacional de grandes
possibilidades pedagógicas, onde alunos e professores possam desfrutar do melhor que estas
tecnologias oferecem ao ensino e aprendizagem.
            Partindo destas reflexões acerca das transformações sucedidas com a abordagem
das novas tecnologias no ensino, serão pontuados, no tópico seguinte, acerca da relação entre
as tecnologias móveis, sociedade e educação e a importância do uso desses dispositivos para o
ensino.



                                                                                            



2.1 Tecnologias móveis, sociedade e educação 
As tecnologias móveis estão, constantemente, presentes no meio social e, principalmente,
dentro dos muros da escola. Com a chegada dos computadores e da Web 2.0, novos desafios
lançam-se ao ensino, propondo levar alunos e professores a transferir-se do ensino tradicional,
em que somente o professor é detentor do conhecimento, para uma aprendizagem mútua,
dinâmica e interativa, onde o professor deixa de ser o único “dono” do saber para aprender
juntamente com os alunos, partilhar conhecimentos e buscar coletivamente a construção do
saber.
            O rompimento da tendência tradicional provocada pela inserção das tecnologias
móveis no âmbito escolar possibilitou uma dinâmica de ensino diferenciada, onde o papel do
professor numa visão de aprendizagem colaborativa muda de um simples provedor de
conhecimento para um mediador especialista, que discute juntamente com seus alunos
(KREIJNS et al, 2002), resgatando os valores firmados por Paulo Freire (FREIRE, 1996, p. 12),
ao afirmar que “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua
produção ou sua construção”.
            A sociedade contemporânea vive um momento de mudanças em todos os seus
âmbitos, sobretudo, no âmbito educacional, onde a inserção da tecnologia é, cada dia, mais
expressiva. A nova geração de discentes desse século que, em seu cotidiano, utilizam
constantemente variados dispositivos móveis, busca, paralelamente, essa mesma utilização no
ambiente escolar. Desse modo, esse ambiente formal de ensino, um dos formadores de sujeitos
sociais, necessita adequar às suas práticas educativas ao público que é concebido nesse novo
tempo. 
            Segundo Valente (1993), o educador deve conhecer o que cada uma destas
facilidades tecnológicas tem a oferecer e como pode ser explorada em diferentes situações
educacionais, tendo em vista que existem diferentes aplicações que podem ser exploradas,
dependendo do que está sendo estudado ou dos objetivos que o professor pretende atingir. 
            É importante enfatizar que, para uma aprendizagem significativa, faz-se necessário
traçar os objetivos específicos para o uso destes equipamentos, uma vez que, ao serem
utilizadas de forma planejada e mediada, as tecnologias móveis podem se tornar importantes
aliadas no processo de ensino e aprendizagem, como pondera Machado (2010) afirmando que,
as peculiaridades destes equipamentos, cada vez mais equipados, contando com recursos como
câmeras (que fotografam e filmam com boa qualidade de som e imagem), gravadores de áudio,
calendários, comunicadores instantâneos (envio de torpedos), calculadoras e tantos outras
ferramentas – possibilitam a criação de projetos e ações pedagógicas que não podem e nem
devem ser desprezadas.
           Nesse sentido, faz-se necessário entender que, para um adequado uso das
tecnologias móveis em meio à escola, primeiramente, é fundamental perceber os aspectos
técnicos e pedagógicos que perpassam essa utilização, compreendendo estes como fatores
indissociáveis. O melhor é quando os conhecimentos técnicos e pedagógicos crescem juntos,
simultaneamente, um demandando novas ideias do outro. O domínio das técnicas acontece por
necessidades e exigências do pedagógico e as novas possibilidades técnicas criam novas
aberturas para o pedagógico, constituindo uma verdadeira espiral de aprendizagem ascendente
na sua complexidade técnica e pedagógica (VALENTE, 2002, p.1).
            Tendo em vista o potencial oferecido pelos dispositivos móveis, professores e
alunos podem adotar práticas educativas com o uso desses instrumentos em seu cotidiano
educacional, com constantes formações e elaborações de projetos que busquem aprimorar a sua
utilização, visando ampliar as competências de discentes e docentes para dominar as


                                                                                          



funcionalidades destes dispositivos, com o intuito de alcançar, de forma precisa, os objetivos
pedagógicos, sendo esta capacitação fundamental para tornar mais competente a utilização dos
recursos disponíveis. (MORAN, 2007).
            Por conseguinte, é conveniente fomentar a utilização de diferentes dispositivos
móveis em sala de aula, mas também fora dela, contemplando esse uso em diferentes contextos
e partindo de objetivos pedagógicos diversos. Com a promoção de práticas que incluam esses
recursos, as dinâmicas educacionais podem tornar-se diversificadas e diferenciadas,
oportunizando o protagonismo juvenil dos discentes. 
2.2 A importância da inserção de dispositivos móveis no meio educacional
A inserção de dispositivos móveis no ambiente educacional possibilita a exploração de um
leque ilimitado de ações pedagógicas, permitindo uma ampla diversidade de atividades que
professores e alunos podem realizar. As particularidades dos dispositivos móveis oferecem
estratégias que podem ser trabalhadas em lugares diversos e com propostas diferentes daquelas
que se tem o hábito de observar.
            “O acesso a conteúdos multimédia deixou de estar limitado a um computador
pessoal (PC) e estendeu-se também às tecnologias móveis (telemóvel, PDA, Pocket PC, Tablet
PC, Netbook), proporcionando um novo paradigma educacional, o mobile learning ou
aprendizagem móvel, através de dispositivos móveis. O mobile learning, uma extensão do e-
learning, tem vindo a desenvolver-se desde há alguns anos, resultando em vários projetos de
investigação.” (MOURA, 2012, p. 50).
            Documentos oficiais ratificam o uso das tecnologias como instrumento às práticas
pedagógicas vigentes, como uma forma de inserir na dinâmica escolar conhecimentos
científicos e tecnológicos. Para tanto, é esperado que, a formação dos sujeitos perpasse tanto a
formação humana quanto a formação científica, dois grandes âmbitos que situam o indivíduo
como sujeito ativo na sociedade. 
           Um exemplo desses documentos são os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN)1,
que recomendam o uso dessas tecnologias, afirmando que é indiscutível a necessidade
crescente do uso de computadores pelos alunos como instrumento de aprendizagem escolar,
para estarem atualizados em relação às novas tecnologias da informação e se
instrumentalizarem para as demandas sociais presentes e futuras. (BRASIL, 1998, p. 96).
             Dessa forma, entendendo que a instituição escolar está imersa em uma sociedade
cada vez mais dinâmica e com rápidas mudanças, é pertinente empreender práticas diferentes
das já instituídas. Para isso, é importante que o professor possua conhecimentos e habilidades
acerca dos aspectos técnicos e pedagógicos, para um bom uso das diferentes tecnologias em
diversos contextos. 
            Nesse sentido, a experiência pedagógica do professor é fundamental. Conhecendo
os aspectos técnicos e pedagógicos para a realização de atividades diversas e sabendo quais os
objetivos pretendidos, o professor deve indagar se o uso da tecnologia está ou não contribuindo
para a construção de novos conhecimentos. Hoppe (2007) salienta que, antes de mais nada, as
tecnologias móveis devem ser utilizadas como suporte para objetivos educacionais bem
fundamentados e previamente definidos.
 

 Os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) constituem-se como a referência básica para a elaboração das
matrizes de referência, no qual buscam difundir os princípios da reforma curricular e orientar os professores em
busca       de      novas      abordagens      e      metodologias.      Para      saber       mais,      acesse:
http://portal.inep.gov.br/web/saeb/parametros-curriculares-nacionais.


                                                                                                           



           Conforme Valente (1999), o professor precisa conhecer as diferentes modalidades
de uso da informática na educação – programação, elaboração de multimídia, uso de
multimídia, busca da informação na Internet, ou mesmo de comunicação – e entender os
recursos que elas oferecem para a construção de conhecimento.
            Assim sendo, anterior à inserção da tecnologia no processo de ensino e
aprendizagem, é imprescindível perceber como estas estão sendo utilizadas por professores e
alunos. Os conhecimentos técnicos e pedagógicos são importantes aspectos que devem ser
abordados e considerados, principalmente, em conjunto, para um apropriado trabalho com os
dispositivos móveis em sala de aula e além dela. É importante atentar para as especificidades
de cada tecnologia em determinados contextos, além de verificar quais são os objetivos
pedagógicos para, assim, as atividades abrangerem o máximo de suas possibilidades.
            Com vista a exemplificar como as aulas em campo foram desenvolvidas, será
descrita a seguir como foi a dinâmica realizada ao longo das experiências vivenciadas. 
        3. Metodologia
As práticas educativas em aulas de campo que utilizaram diferentes tecnologias móveis
perpassaram dois momentos: primeiramente, uma formação continuada de alunos e professores
sobre a temática da sustentabilidade e o uso das tecnologias no ambiente escolar, e em um
segundo momento, a vivência propriamente dita de aulas em campo com o uso destes recursos.
             A importância da formação continuada de alunos e professores é ressaltada no que
tange a um trabalho mais aprofundado do tema em questão e sobre um adequado uso das
tecnologias em sala de aula. A formação constituiu-se de encontros presenciais e à distância,
que continham atividades relacionadas ao assunto abordado. No entanto, o relato irá deter-se
somente aos encontros com os alunos no qual se busca descrever a experiência.
             Para esta formação, foram abertas duas turmas, nos turnos manhã e tarde, de modo
que, participaram da vivência vinte e oito alunos que frequentavam a formação no contra turno,
ou seja, no horário contrário que estudavam regularmente. Ao todo, os encontros tiveram
duração de seis meses, com dois encontros semanais, às terças e quintas-feiras. Os encontros
eram realizados no laboratório de informática da escola, ambiente que continha dez laptops
híbridos, isto é, eram, concomitantemente, notebook e tablet, além de dezoito netbooks, frutos
de um projeto em parceria com outras instituições.
             No que concerne aos encontros presenciais com os alunos, estes constituíam-se de
momentos com apresentações sobre o tema, abordagem de artigos e reportagens, utilizando a
tecnologia como recurso através da apresentação de vídeos, e utilização recursos como
ferramentas de busca, de produção de vídeos, além de criações dos próprios alunos e suscitação
de questionamentos. Já os encontros à distância, aconteciam por meio da rede social Facebook,
onde em um grupo específico criado para o trabalho de diferentes aspectos do tema, havia
debates, levantamento de questionamentos e compartilhamento de materiais.
             Um desses encontros contemplou a realização de duas aulas em campo sobre o tema
trabalhado, buscando aproximar os alunos da comunidade escolar, da realidade da escola e em
torno dela e por meio destas, foi proposto que fossem desenvolvidos produtos finais com as
informações coletadas em campo. As aulas em campo foram realizadas no turno manhã e tarde,
a partir da exploração do ambiente da escola e do seu entorno, no qual os alunos foram
convidados a pensar e refletir como as ações humanas empreendidas vinham modificando o
ecossistema ambiental e como a sustentabilidade poderia ser aplicada por meio de soluções
dadas pelos próprios alunos. 
             O local das aulas foi selecionado pelos próprios alunos e os critérios escolhidos por
eles foram os ambientes que os discentes julgavam ser mais esquecidos pela comunidade e que
precisavam de mais cuidado. Entre os locais escolhidos, estavam o entorno da escola, o bosque


                                                                                            



vizinho à escola que se encontrava bastante poluído e os arredores da lagoa, também com muito
lixo. A escolha dos locais pelos alunos demonstra uma forte atuação e um grande protagonismo
estudantil, pois eles tiveram a oportunidade de colaborar ativamente da constituição da aula.
            Por meio da iniciativa dos próprios alunos, estes buscaram fazer entrevistas com
antigos moradores e garis, fazendo questionamentos e suscitando reflexões sobre como eram
àqueles espaços anteriormente, as condições que estes eram encontrados atualmente e o que
poderia ser feito para trazer melhorias ao meio ambiente, como pode ser visto na Figura 1
abaixo. 
           




                                                                                      
                               Figura 1. Alunos realizando entrevista com um gari
           
            Os alunos buscaram com autonomia, realizar as entrevistas e demonstraram, ao
longo das aulas em campo, iniciativa e entusiasmo em poder, eles mesmos, conduzirem as
conversas com base em reflexões advindas de questionamentos próprios dos alunos. Outro
aspecto que deve ser salientado é o fato de que, os alunos relacionaram o seu cotidiano com
possíveis entrevistas a serem feitas, como, por exemplo, com os moradores em torno da escola.
Muitos deles recordaram que, alguns moradores moravam em determinada localidade há
muitos anos e que poderiam obter informações importantes para o desenvolvimento dos
produtos finais, conforme pode ser visto na Figura 2.

           




                                                                                      
                          Figura 2. Alunos realizando entrevistas com antigos moradores
           
            Para tanto, os alunos fizeram uso de dispositivos móveis, como os tablets dos
laptops híbridos e smartphones, que culminou na produção de diferentes materiais
desenvolvidos pelos discentes, como criação de vídeos, realização de entrevistas e produção de
slides. Durante as aulas em campo, os alunos dividiram-se em grupos e exploraram ambientes



                                                                                          



distintos à procura de aspectos que poderiam ser discutidos sobre a sustentabilidade ambiental,
sempre com a orientação das responsáveis pela vivência.
             Tomando por base o que foi apresentado, será apresentada na próxima seção a
análise dos dados da experiência em questão e reflexões que podem ser inferidas por meio do
que foi observado.

        4. Análise dos dados

Após a vivência das aulas em campo, foram verificados alguns pontos pertinentes no que consta ao
processo de ensino e aprendizagem. Um deles foi relacionado aos conhecimentos sobre
sustentabilidade construídos colaborativamente pelos alunos. Esse aspecto foi essencial no que diz
respeito à formação de sujeitos críticos e atentos às nuances existentes em meio à dinâmica social.
             Além disso, ao longo da aula em campo, observou-se que os alunos viram-se como
reais protagonistas do conhecimento, destacando-se nas produções de vídeos, entrevistas e
registros fotográficos, demonstrando, dessa forma, a importância da formação anterior que
vivenciaram para a concretização deste produto final. Com as formações realizadas e por meio
dos seus conhecimentos prévios, os alunos buscaram, ao máximo, explorar as ferramentas
tecnológicas, utilizando aplicativos antes desconhecidos e os laptops híbridos para a realização
de pesquisas, edição de imagens, vídeos e criação de apresentações em formato de slides
produzidas por eles.
             A mobilidade dos dispositivos móveis também pode ser considerada como um fator
relevante no processo de construção da aprendizagem ao longo das aulas em campo, visto que,
essa característica tornou possível a utilização da tecnologia dentro e fora de sala de aula,
oferecendo novas possibilidades às produções dos alunos no entorno da escola, permitindo a
prática de registros multimídia e propiciando um processo de pesquisa e reflexão.
             É importante salutar que, durante as aulas em campo, nas quais as tecnologias se
fizeram presentes, os alunos compreendidos neste projeto tiveram a oportunidade de
experienciar e fortalecer determinados valores humanos como, por exemplo, a cooperação,
diálogo, compromisso e respeito, exercendo, desta forma, o caráter cidadão. Através da análise
dos exemplos abaixo, na Figura 3, concernente aos depoimentos dos alunos no grupo do
Facebook, após a participação nas aulas em campo, nota-se que eles se sentiram sujeitos
atuantes na construção do conhecimento e por meio da tecnologia, o processo foi viabilizado
com a ajuda dos recursos tecnológicos utilizados, através da facilidade encontrada pelos
discentes em compreender a temática abordada fazendo uso destes.




                                                                                        
                               Figura 3. Avaliação dos alunos sobre a aula em campo 



                                                                                              



            Outro aspecto importante a ser considerado foi o fato de que os alunos foram além
do que foi proposto inicialmente, tendo a atitude de entrevistar moradores para coletar mais
dados para a produção dos produtos finais, podendo, assim, ratificar o protagonismo estudantil
evidenciado desde o início das atividades, quando lhes foi dada a oportunidade de escolher os
locais da aula em campo.
            No exemplo abaixo, observa-se o depoimento de uma aluna em uma avaliação
realizada também no grupo Facebook sobre a aula em campo e o uso dos recursos digitais em
sua dinâmica. Percebe-se que, os alunos demonstraram facilidade com os recursos tecnológicos
utilizados e afirmam ter tido a oportunidade de aprender na prática vivenciada e com uma
abordagem diferenciada, os conhecimentos antes estudados com o uso destes instrumentos.
                                     " Há diferença entre a aula tradicional e a aula de campo com o
                                     computador. Na aula tradicional o professor vai fazer um resumo
                                     do que é importante pra ele, que chama mais atenção pra ele, e não
                                     é o que chama mais atenção pra gente. Algumas aulas que eu não
                                     entendo eu posso me aprofundar mais pelo Ambiente Virtual de
                                     Aprendizagem-AVA, se eu quiser interagir mais com os colegas, e
                                     compartilhar com eles o conteúdo que antes eu não estava
                                     aprendendo e consegui ver também na aula de campo".
                                     (Depoimento de uma aluna sobre a aula em campo e o uso da
                                     tecnologia). 

            Diante da possibilidade oferecida aos alunos que vivenciaram a experiência em
questão, infere-se que este foi um momento singular no que consta à formação dos alunos,
enquanto sujeitos sociais que aprendem e compartilham conhecimentos com outros sujeitos.
As formações anteriormente ministradas foram fundamentais para a construção de novos
conhecimentos e àqueles já estruturados na estrutura cognitiva dos discentes, pois, a partir
deles, foi possível estabelecer mudanças importantes por meio da aderência de sentido às
práticas estabelecidas.
            Percebeu-se concomitantemente, que o engajamento afetivo e intelectual
proporcionou que estas mudanças pudessem ser concretizadas, visto que, os alunos mostraram-
se muito envolvidos ao longo das formações como um todo e, especialmente, na aula em
campo. O uso dos dispositivos móveis além dos alicerces da escola possibilitou que os alunos
pudessem manter um vínculo fundamental entre o grupo, através de discussões dialogadas, do
compartilhamento de visões, opiniões e experiências e, sobretudo, da construção conjunta de
saberes interdisciplinares. 
        5. Considerações finais e estudos futuros
O uso das diversas tecnologias móveis proporciona diferentes abordagens de conteúdos ditos
formais em sala de aula. Anteriormente, a utilização da tecnologia restringia-se ao uso do
computador em laboratórios de informática sem mediação necessária sobre temáticas diversas.
Atualmente, o número de dispositivos móveis vem crescendo expressivamente e o seu uso vem
estabelecendo mais amplitude.
            A chegada dos dispositivos móveis em meio à escola foi um marco no que concerne
a práticas de cunho pedagógico e educacional. As tecnologias que, antes se configuravam
através do mero uso do computador, nos dias atuais, são vistas a partir da utilização de
diferentes dispositivos móveis em diferentes locais, especialmente, no que se refere ao âmbito
escolar. 
            A razão pode ser explicitada por meio do potencial oferecido pelas diversas
tecnologias móveis, que permitem a conexão entre os dispositivos, mesmo sendo utilizadas
offline, possuindo, em seu bojo, variadas possibilidades quando incorporadas ao contexto


                                                                                                 



escolar.Além disso, estas possibilitam a abordagem de práticas diversificadas que abordam
temas multidisciplinares com a aplicação de tecnologias apropriadas de acordo com o contexto,
perpassando particularidades relacionadas às intencionalidades pedagógicas e à realidade
educacional presente.
            As tecnologias móveis agregam valores indiscutíveis ao processo de construção da
aprendizagem, levando docentes e discentes a ampliar seus horizontes, explorando novos
métodos de ensinar e aprender. Para isso, basta estar conectado, dentro da escola ou, até mesmo,
além dela, redescobrindo e ressignificando os conhecimentos, levando-se em conta que “fomos
programados, mas para aprender e por consequência para ensinar, intervir e conhecer”.
(FREIRE, 1996)
            Sendo assim, com a utilização dos dispositivos móveis na rotina escolar, os alunos
podem compreender a construção de conhecimentos com outro olhar e com uma visão mais
participativa do processo e de quem o constrói. A partir do trabalho com esses recursos, a
formação de alunos mais argumentadores, críticos e responsáveis pelas causas que também são
deles, é amplamente possibilitada através de práticas e abordagens que fogem das metodologias
tradicionalmente configuradas no ambiente formal de ensino que é a escola.
        Como sugestões de trabalhos futuros têm-se o estudo de outros aspectos educacionais
da relação entre a tecnologia e o processo de ensino e aprendizagem, utilizando outros recursos
como, ferramentas da Internet e o uso e desenvolvimento de aplicativos voltados para a área
da educação.






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