=Paper=
{{Paper
|id=Vol-1667/CtrlE_2016_AC_paper_76
|storemode=property
|title=Os Desafios do Uso Pedagógico do SIGEduc no Contexto de Escolas Públicas dos Municípios de Angicos/RN e Santana do Matos/RN
|pdfUrl=https://ceur-ws.org/Vol-1667/CtrlE_2016_AC_paper_76.pdf
|volume=Vol-1667
|authors=Thiago Moura Barbosa,Iago Sinésio Ferris da Silva,Alex Sandro Coitinho Sant’Ana
}}
==Os Desafios do Uso Pedagógico do SIGEduc no Contexto de Escolas Públicas dos Municípios de Angicos/RN e Santana do Matos/RN==
Os Desafios do Uso Pedagógico do SIGEduc no Contexto de Escolas Públicas dos Municípios de Angicos/RN e Santana do Matos/RN Thiago Moura Barbosa1, Iago Sinésio Ferris da Silva1, Alex Sandro Coitinho Sant’Ana1 1 Universidade Federal Rural do Semi-Árido(UFERSA) Caixa Postal 59515-000 – Angicos – RN – Brasil {thiagoobarbossa@gmail.com, iago.isfs@outlook.com, alexsantana7@gmail.com} Abstract. This article is the result of a study about the pedagogical use of the software system Integrated Management Education (SIGEduc) in the context of four public schools located in the municipalities of Angicos / RN and Santana do Matos / RN. The research methodology used was the phenomenological- existential, whose data were collected by questionnaires for professionals in the education of these four public schools of the state of Rio Grande do Norte. The objective of the research was to describe the meanings constructed on the challenges of application usage web SIGEduc to the students of the 6th year of primary school to the 3rd year of high school. The results of the data analysis unveiled senses that allow us to infer that there is a demand for a process of continuous education that empowers teachers to understand the possibilities that the SIGEduc's features provides for basic education. Resumo. Este artigo é resultado de um estudo sobre o uso pedagógico do software Sistema Integrado de Gestão da Educação (SIGEduc) no contexto de quatro escolas públicas localizadas nos municípios de Angicos/RN e Santana do Matos/RN. A metodologia de pesquisa utilizada foi a fenomenológica- existencial, cuja coleta de dados ocorreu mediante a aplicação de questionários para os profissionais da educação dessas quatro escolas públicas do semiárido potiguar. O objetivo da pesquisa foi descrever os sentidos construídos acerca dos desafios do uso do aplicativo web SIGEduc junto aos alunos do 6º ano do Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio. Os resultados da análise de dados desvelou sentidos que permitem inferir que há uma demanda por um processo de formação continuada que empodere os professores na compreensão das possibilidades que os recursos do SIGEduc oferecem para a Educação Básica. 1. Introdução Atualmente vivemos em uma sociedade em que as inovações tecnológicas se fazem presentes no cotidiano e é essencial que também estejam inseridas no ambiente educacional como forma de envolver a comunidade escolar junto a essas transformações. Neste sentido é preciso apresentar as tecnologias na escola com o intuito de utilizá-las pedagogicamente e, no caso especificamente de tecnologias digitais online, possibilitar uma maior interação entre professores e alunos não somente em sala de aula presencial, mas também em uma relação extraclasse online. 385 No entanto, para que essas transformações possam ocorrer de maneira gradativa e processos formativos no âmbito escolar, torna-se essencial que os profissionais da educação básica participem de um processo formativo continuado que os auxiliem a utilizar essas ferramentas tecnológicas em prol da melhoria da educação e para tanto como um facilitador no processo de ensino-aprendizagem. Esse pressuposto tem como base Freitas e Leite (2008) ao constatar que, “a alfabetização tecnológica do professor pode ser entendida então como uma possibilidade de proporcionar subsídios a este profissional da educação para o desenvolvimento de novas formas de atuar, com acesso ao domínio técnico, pedagógico e crítico destas novas ferramentas”. O destaque no termo “ferramentas” deve-se ao fato de que, mesmo sendo utilizado por inúmeros teóricos educacionais, ainda gera discordâncias na sua interpretação e utilização”. Adentrando no contexto específico deste trabalho, daremos ênfase neste estudo às possibilidades educativas do Sistema Integrado de Gestão da Educação (SIGEduc). Esse sistema de gerenciamento de conteúdos e processos online é derivado de outro sistema chamado Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas (SIGAA) desenvolvido na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O SIGAA foi desenvolvido com o intuito de atender as necessidades da Educação Superior, sendo que esse sistema é licenciado e distribuído para outras universidades federais brasileiras, tais como a Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA) e a Universidade Federal do Piauí (UFPI). O SIGEduc e o SIGEduc Mobile foram desenvolvidos pela SIG Software e Consultoria em Tecnologia da Informação, que é a mesma empresa responsável pelo SIGAA. A opção dos autores em abordar essa ferramenta se deve à sua ampla incorporação em escolas públicas estaduais do Rio Grande do Norte, sendo que o estudo optou por selecionar quatro unidades escolares das microrregiões de Angicos/RN e Santana do Matos/RN para problematizar suas possibilidades e desafios. Diferentemente do supracitado objetivo do SIGAA foi constatado que o sistema visa atender as necessidades da Educação Básica, sendo que segundo a empresa responsável pelo seu desenvolvimento o sistema permite a gestão de matrículas, diário de classe e está sendo expandido para possibilitar ambientes virtuais, alimentação escolar, gestão administrativa, dentre diversas outras funcionalidades. O sistema nesse caso representaria mais uma opção de um sistema online na tentativa de obter melhorias na educação escolar do país e é apoiado pelo Ministério da Educação (MEC), Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e coordenado pela Secretaria de Estado da Educação e da Cultura do Rio Grande do Norte (SEEC/RN). O SIGEduc trata-se portanto de um sistema utilizado para fins de controle escolar direcionado para a Educação Básica e tem como principal proposta informatizar toda dimensão acadêmica e administrativa das mais de 700 escolas públicas da rede estadual de ensino do Rio Grande do Norte (RN). No entanto, vale ressaltar que o sistema pode ser utilizado para fins pedagógicos e não somente de forma administrativa como é proposto oficialmente, pois tal ferramenta dispõe de recursos que podem auxiliar os profissionais da educação em atividades pedagógicas interativas dentro e fora da sala de aula. Porém, a pesquisa de campo constatou que era notável que havia uma frequente utilização com a finalidade de transmitir dados e informações referentes aos alunos e a escola. 386 De acordo com o site institucional da empresa responsável pelo desenvolvimento do software atualmente o sistema engloba os seguintes recursos pedagógicos e de gestão escolar: Matrícula: Neste recurso os pais ou algum responsável pelo aluno (a), poderá realizar no sistema um pedido de matrícula na rede estadual de educação. Essa solicitação será posteriormente processada e seu resultado será divulgado no portal do SIGEduc. Os pais ou responsáveis receberão orientações da instituição ao qual foi solicitada a matrícula do aluno para dar continuidade ao processo de efetivação da matrícula do estudante e deverão comparecer na unidade escolar para realizar a entrega da documentação exigida. Turmas e Diário: Com o recurso de Turmas, o professor poderá consultar um relatório com as turmas ao qual se encontra alocado no período do calendário escolar vigente. E ainda com o recurso Diário o professor poderá informar os conteúdos ministrados de cada aula, além de possibilitar ao professor gerar o documento de diário de classe para ser impresso ou salvo em seu computador. O professor poderá ainda agendar avaliações para uma turma e após a digitação de todas as notas do período letivo, o professor poderá consolidar as notas da turma, fazendo com que o sistema gere automaticamente o resultado final dos estudantes. Integração com o Educacenso: O sistema está diretamente integrado ao Educacenso, onde os dados coletados individualmente de cada estudante, professor, turma e escola que fazem uso do sistema são enviados ao Educacenso a fim de ajudar na realização do cálculo do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB). Gestão de Eleições: Este recurso é utilizado para o gerenciamento de eleições nas escolas. É nesse módulo que o candidato ao cargo de diretor (a) ou vice-diretor (a) realiza a sua inscrição para participar do processo eleitoral e concorrer a uma vaga. Para participar do processo, no ato da inscrição, o candidato deverá informar qual o cargo irá exercer, além de informar a qual escola deseja se candidatar. Alimentação Escolar: Este recurso pode ser acessado por gestores das escolas para consultarem pagamentos/recebimentos de recursos referentes à alimentação escolar e também para visualizarem data de recebimentos de recursos e ainda consultar o número de parcelas recebidas. Transporte Escolar: A partir deste recurso os gestores escolares têm acesso aos dados de todos os alunos que fazem uso do transporte escolar para se deslocarem até a escola, dados como local (rua/sítio/comunidade) onde o aluno reside. Geralmente os alunos que fazem uso desses transportes são alunos da zona rural, que se deslocam para escola através de ônibus escolares do programa caminho da escola. Ouvidoria: Apesar de esse recurso propor-se como um canal aberto de diálogo entre os usuários do sistema e uma ouvidoria responsável por atender as reclamações, verificou-se que este recurso ainda não existe no sistema. Porém, existe outro recurso denominado de “abrir chamado”, ao qual os usuários podem relatar problemas encontrados, mas apenas referentes ao sistema (problemas técnicos). Bibliotecas: Embora esse recurso se proponha a integrar o acervo da biblioteca da escola no sistema, proporcionando aos alunos o empréstimo de obras aos quais estas ficariam cadastradas no sistema por meio de sua matrícula, constatou-se que na prática 387 não há um uso efetivo deste recurso. EJA: Este recurso é destinado à educação de jovens e adultos EJA e dispõe dos mesmos recursos que os outros estudantes e usuários do sistema. Análise Socioeconômica: Não foi encontrado no sistema o recurso Análise Socioeconômica, porém, o sistema está em constante atualização e algumas modalidades ainda não se encontram disponíveis, pode ser o caso de tal recurso que pode estar ainda em desenvolvimento. Escola virtual: Ao acessar a disciplina, o aluno poderá visualizar através desse recurso todas as postagens realizadas pelo professor da disciplina além de encontrar materiais que também foram disponibilizados pelo professor a fim de complementar a aprendizagem do alunado. Além disso, o aluno também pode responder a questionários, enquetes e tarefas criadas a fim de avaliar o desempenho dos participantes da disciplina. Além disso, o sistema possui links de acessos a portais (módulos) que facilitam o acesso dos interessados a outras informações desejadas sobre outros assuntos educacionais que podem complementar os objetivos de professores, estudantes, pais e instituições de ensino. São eles: Portal da Gestão Escolar Portal da DIRED Portal do Professor Portal do Estudante Portal dos Pais/Responsáveis Acompanhamento da Educação Vale ressaltar, para um melhor entendimento do leitor a respeito do sistema que apesar da empresa responsável pelo desenvolvimento do SIGEduc denominar de “portais” alguns dos recursos citados, tratam-se na verdade de módulos que fazem parte do sistema e estão integrados ao mesmo como forma de facilitar o manuseio por parte dos usuários e para categorizar por tipo usuário (Ex: professor, aluno, pai/responsável, gestor e etc.) os recursos que cada um tem permissão de acesso e/ou alteração dentro do sistema. A proposta do trabalho é mostrar as possibilidades educacionais a partir da utilização do SIGEduc como um facilitador do processo de ensino-aprendizagem e problematizar o seu uso a partir dos desafios encontrados pelos profissionais da Educação Básica nos momentos de utilização. O trabalho encontra-se organizado de forma que em sua Introdução é apresentado o SIGEduc para que o leitor possa entender como ele funciona e descrever as suas principais funcionalidades disponíveis aos usuários. No tópico 2 do trabalho, que trata da possibilidade de Educação a Distância (EaD) por meio de um Ambiente Virtual de Aprendizagem disponível no sistema, são apresentadas as condições para utilização da modalidade EaD na Educação Básica, bem como as possibilidades de aprimoramento do processo de ensino-aprendizagem mediante sua aplicação. Em seguida é apresentado no tópico seguinte a metodologia de pesquisa adotada para a realização do trabalho, destacando a sua importância para o contexto da pesquisa. No tópico 4 do trabalho são apresentados os resultados e discussões quanto aos dados coletados para a execução do 388 trabalho e também são destacadas as falas dos sujeitos que se dispuseram a participar do processo de coleta de informações a respeito do sistema. É apresentada ainda uma discussão em relação aos desafios do uso pedagógico do SIGEduc mediante sua utilização pelos docentes da Educação Básica da rede pública de ensino. Nas considerações finais apresentamos uma posição em relação a utilização do sistema no âmbito educacional e enfatizamos a importância da sociedade prover meios que auxiliem os envolvidos no processo para que esses possam obter a maior contribuição educacional possível em relação a todas as possibilidades oferecidas pelo sistema. 2. Educação a Distância e Ambiente Virtual de Aprendizagem De acordo com a Resolução CEB/CNE nº 1, de 02 de fevereiro de 2016, pode-se apresentar a seguinte definição para a modalidade de Educação a Distância especificamente no Art. 1º, parágrafo 1º, em que consta que “a modalidade de Educação a Distância é aqui entendida como uma forma de desenvolvimento do processo de ensino- aprendizagem mediado por tecnologias que permitem a atuação direta do professor e do aluno em ambientes físicos diferentes [...]”. Segundo o Art. 30, do Decreto 5.622 de 19 de dezembro de 2005, que regulamenta o Art. 80 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) de 1996, “as instituições credenciadas para a oferta de educação a distância poderão solicitar autorização, junto aos órgãos normativos dos respectivos sistemas de ensino, para oferecer os ensinos fundamental e médio a distância [...]”, mas exclusivamente para a complementação de aprendizagem ou em situações emergenciais. Com base na supracitada legislação é possível inferir que o SIGEduc poderá ser utilizado exclusivamente para a complementação de atividades escolares da Educação Básica e não para a substituição de dias letivos, embora também em situações emergenciais quando for o caso. Neste sentido os educadores que ainda temem a expansão da modalidade EaD por preconceitos das mais variadas naturezas, como a visão recorrente de ameaça ao ensino presencial, podem amenizar suas críticas e mediante incentivo dos sistemas de ensino poderiam então priorizar a melhoria da qualidade da educação também via ambientes virtuais de aprendizagem. O SIGEduc proporciona aos educadores recursos digitais para a utilização pedagógica na modalidade de Educação a Distância (EaD), pois possui ferramentas integradas que auxiliam a interação professor-aluno por meio de seu ambiente virtual (escola virtual) no qual é possível propor aos educandos atividades educativas tais como tarefas, questionários e fóruns aos quais os mesmos podem responder e desta forma realizarem discussões e questionamentos a respeito do que for proposto. É possível também interagir com professor de forma assíncrona em atividades como o fórum e de maneira síncrona em uma atividade como o chat, portanto não somente em sala de aula mais também de forma virtual em uma relação de ensino-aprendizagem extraclasse. De acordo com Marinho e Repsold (2010, p. 3, grifo nosso), “na EAD, o triângulo didático – professor, aluno e saber – não atinge apenas pessoas, mas agentes coletivos que, nas relações virtuais, passam por uma organização do tempo e espaço, hábitos, normas de trabalho e comunicação. A partir disso, surge uma pedagogia ativa, cooperativa e diferenciada, que precisa contar com uma coordenação esclarecida, atenta e disposta a mudar, se necessário”. 389 Habituar-se ao modo de trabalhar de forma virtual com os alunos é um desafio a ser vencido pelos profissionais da educação, pois os educadores em sua maioria não demonstram muita experiência com o uso da ferramenta de forma didática. É necessário que os professores entendam que qualquer forma de proximidade com os alunos planejada pelo sistema de ensino, mesmo que fora da escola, apresenta o intuito de educar os estudantes a partir de um pressuposto educacional que torna-se válido, em termos de escolarização oficial, inclusive quando o alunado está no lar, pois a aprendizagem é contínua. No entanto, é preciso também que os sistemas de ensino elaborem as circunstâncias estruturais adequadas para que os professores possam reservar tempo hábil para a realização dessas tarefas adicionais, embora flexíveis, e portanto recebam valorização adequada conforme a carga horária que se dedicarem à função extraclasse. 3. Metodologia de Pesquisa A metodologia de pesquisa utilizada foi a fenomenológica-existencial que visa compreender os sentidos das existências dos sujeitos na medida em que esses vivem o fenômeno. Conforme Husserl (1986, p. 22), “o método da crítica do conhecimento é o fenomenológico; a fenomenologia é a doutrina universal das essências, em que se integra a ciência da essência do conhecimento”. No contexto deste estudo o fenômeno foi o processo de utilização ou não do software SIGEduc em escolas públicas potiguares sendo que a análise da relação do professor com o sistema desvela os sentidos construídos que possibilitavam aos pesquisadores deste estudo inferir as possibilidades e desafios proporcionadas pelas funcionalidades de software de gestão de processos. A pesquisa adotou o procedimento inicial de envio de e-mails para obter informações da empresa responsável pelo sistema, no entanto não obteve sucesso em termos de obtenção de resposta. Posteriormente adotou-se o procedimento de ida ao campo de pesquisa, especificamente em quatro escolas da microrregião de Angicos/RN e Santana do Matos/RN e assim a fenomenologia se mostrou como a melhor proposta metodológica para viabilizar uma pesquisa sobre os sentidos construídos pelos professores em suas tentativas de utilização do sistema SIGEduc. Tendo em vista a realidade de intenso trabalho dos professores ocasionando situações de indisponibilidade de tempo para participarem de entrevistas, o estudo optou pela aplicação de questionários para que os docentes o pudessem responder de acordo com sua disponibilidade de horários livres. Por questões éticas, que visavam a proteção dos participantes da pesquisa, os pesquisadores informaram antes da aplicação dos questionários que o participante não precisava se identificar e nem mesmo a instituição. Nesse sentido houve um importante cuidado ético com os sujeitos que voluntariamente aceitaram participar da pesquisa que resultou neste artigo. O perfil dos participantes da pesquisa eram professores da Educação Básica das diferentes disciplinas que compõe o currículo escolar, sendo que atuam em quatro escolas do interior potiguar cuja população dos municípios é inferior a 30 mil habitantes. Tem-se então uma realidade de zona rural ou de transição zona urbana/rural, visto que atualmente a modernidade tecnológica pode ser facilmente encontrada na realidade do campo. Sob o ponto de vista da formação na área de tecnologias, este estudo optou por um recorte ao focar especificamente a formação destinada ao uso do sistema que é objeto de estudo neste trabalho. Devido a semelhante realidade potiguar interiorana das escolas 390 pesquisadas, o estudo também optou pelo agrupamento de respostas de todos os sujeitos participantes. 4. Resultados e Discussões Neste capítulo ocorrerá a apresentação de trechos de discursos dos professores de quatro escolas públicas localizadas nos municípios de Angicos/RN e Santana do Matos/RN sobre o SIGEduc. A partir da necessidade de coleta de informações com os educadores a respeito do sistema foi aplicado um questionário para se obter assim a percepção dos profissionais a respeito do sistema e para então fundamentar as inferências deste estudo. O questionário foi aplicado a vinte professores, sendo que as questões abordavam perguntas sobre a frequência de acesso ao sistema, sobre quais seriam seus principais recursos/ferramentas e de que forma os utilizam junto com metodologias de ensino. Este estudo optou por agrupar os discursos que se correlacionavam e denominar esse processo de Guia de Sentido (PINEL, 2014), pois foram cartografadas as percepções dos professores sobre o aplicativo web SIGEduc, sendo esse guia nomeado de Formação de Professores, pois foi uma demanda que emergiu nas falas dos sujeitos que aceitaram participar da pesquisa. O Guia de sentido – GS é um termo inventado por Pinel (2000; 2003) e refere-se a subjetividade afetiva (amizade; coragem; companheirismo; amor; compaixão; ser amoroso etc.) que se vivido (experienciado), metaforicamente acopla ao Guia, fornecendo sentido à vida(social, profissional, acadêmica, etc), e que é apreendida e descrita pelo pesquisador, no modo que apreende, procurando fazê-lo o mais próximo às experiências do outro (sujeito da pesquisa). O GS ou Guia de Sentido é algo (valor, atitude, energia etc.) que move o ser a ser si mesmo no mundo. Também pode ser um instrumento de coleta e análise dos dados obtidos em uma pesquisa, onde se descreve esse algo ou outros valores, atitudes, energias etc. O GS pode também ser (des)velador de modos de ser em relacionamentos interpessoais de ajuda, seja nos Aconselhamentos, na Psicoterapia, na Orientação Educacional ou na Psicopedagogia, que ao ser dito e escutado, provoca mudanças nos modos de ser no mundo, de alguém (PINEL, 2000; 2003, apud PINEL, 2004, p. 1, grifo do autor). Foram aplicados vinte questionários, sendo que as questões discursivas serão analisadas em agrupamentos de sentido e para as questões objetivas serão empregados gráficos. Dos vinte questionários aplicados apenas 12 (doze) foram devolvidos. Desse total foi possível constatar que várias perguntas não foram respondidas. 391 Gráfico 1: Com que frequência você acessa o SIGEduc? No gráfico 1 podemos constatar que a grande maioria dos docentes fazem uso do sistema apenas “1 vez por semana”, correspondendo assim a 38% do total de frequência de acessos. É possível notar também que a segunda e a terceira opção da questão 1, que por sua vez, correspondem a frequência de acesso “2 vezes por semana” e “3 ou mais vezes por semana” observa-se que esses dados dizem respeito respectivamente a 23% e 31% da assiduidade de logins realizados. Nota-se ainda que na alternativa “1 vez ao mês” obteve-se a informação quantitativa equivalente a 8% do total de acessos que foram realizados. É importante ponderar que a qualidade desses acessos é relativa, pois um docente que realiza apenas 1 (um) acesso por semana pode ter um grau mais elevado de desempenho usando o sistema de forma adequada, satisfatória e para fins pedagógicos. Já os docentes que fazem o uso do sistema com mais frequência ou com mais ou menos frequência não significam necessariamente maior qualidade, sob o ponto de vista pedagógico. Ressalta-se que os pesquisadores não tiveram sucesso na tentativa de contato institucional para obtenção de acesso ao sistema e verificação das atividades efetivamente realizadas pelos profissionais da educação no sistema. Reitera-se que este estudo tem como propósito principal a produção de inferências sobre os desafios pedagógicos advindos do sistema a partir da percepção dos professores sobre o SIGEduc e que os autores deste trabalho não têm dúvidas quanto a necessidade de mais estudos sobre o problema. 392 !% "% % Gráfico 2: Para que finalidade você utiliza o SIGEduc? No gráfico 2, afirma-se que 62% dos docentes não foram capazes ou não quiseram responder as perguntas estabelecidas pelo questionário aplicado a fim de coleta de dados. Nota-se também que nenhum docente utiliza o sistema como uma proposta pedagógica. Como faz notar no mesmo gráfico, foi possível constatar a mera utilização administrativa do sistema para registros de frequência e notas, demonstrando que o sistema é utilizado para controlar e não para educar. Nesse sentido este estudo infere que há um controle que poderá ter efeito coercitivo no disciplinamento dos sujeitos ao cogitarem que seus pais poderão ter acesso ao sistema e coagi-los a melhorar seus estudos, mas o estudo compreende que ato de educar seria o emprego das ferramentas digitais para a melhoria da qualidade dos conteúdos de aprendizagem das diferentes disciplinas. 393 Gráfico 3: Você já passou por alguma formação para utilizar o SIGEduc? O gráfico 3 averigua que 50% dos docentes entrevistados não receberam uma formação para utilizar o sistema SIGEduc, enquanto 42% dos docentes afirmaram que receberam a formação para usar adequadamente o sistema. Apesar de 42% do total de educadores responderem que haviam recebido formação para utilizarem o SIGEduc, cabe destacar também a qualidade desse formação recebida, pois foi possível constatar no gráfico 2 que a grande maioria dos docentes utilizam o sistema apenas para registro de frequência e nota o que nos faz questionar quanto a qualidade da formação recebida por esses profissionais da educação representados no gráfico 3. Nesse sentido caberia uma questão que poderia ser objeto de uma nova pesquisa: os educadores receberam de fato uma formação adequada para utilizarem o SIGEduc de forma pedagógica? No caso dos questionamos a respeito do percentual de 50% que afirmaram não terem recebido nenhuma formação para utilizarem o sistema é possível elaborar uma questão adicional, que seria se esses profissionais podem ser cobrados a utilizarem o sistema com uma proposta pedagógica se eles não receberam nenhuma orientação de como trabalhar com ele e como essa carga horária adicional de trabalho poderia ser contabilizada pela administração pública. Em relação às questões discursivas, foi questionado aos educadores quais os principais recursos que estão disponíveis no sistema eles faziam uso em suas atividades virtuais desenvolvidas no SIGEduc. Foi possível observar nos discursos dos professores que os mesmos em sua maioria, não conhecem os recursos e ferramentas disponíveis no sistema, pois temos um caso em que um docente afirmou que não desenvolve nenhuma atividade, pois o sistema em questão não possibilita o desenvolvimento de atividades diretamente com o aluno, apenas para registros escolares e isso reforça a ideia de que os professores em sua maioria, não conhecem o sistema a fundo, pois esse mesmo docente que fez tal afirmação, revelou em uma questão posterior que não recebeu nenhum tipo de formação para utilizar o SIGEduc. Em outros casos os docentes afirmaram que não desenvolvem atividades para seus alunos pelo fato de muitos dos discentes não terem acesso ao sistema. É importante ressaltar que a maioria dos professores não respondeu essa questão. 394 5. Os Desafios do Uso Pedagógico do SIGEduc Em relação aos desafios enfrentados por educadores que não estão habituados a fazerem uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) em seus métodos pedagógicos, Freitas e Leite (2008) mencionam que “[...] pelo fato de não se tratar de apenas mais um modismo pedagógico ou de uma simples apropriação do desenvolvimento tecnológico, o professor, “responsável perante a sociedade pela educação sistemática dos nossos cidadãos, precisa estar preparado para integrar a tecnologia na sua prática educativa”. (FREITAS; LEITE 2008. p. 11 apud LEITE, 2006, p. 40). Este aspecto também é comentado por Medeiros e Ventura (2008) quando apontam que “[...] o educador deve buscar também nas novas tecnologias os meios de contextualizar, atualizar, ampliar e melhorar a sua prática pedagógica”. Foi possível constatar nos discursos dos professores e nas sugestões propostas por eles no questionário aplicado e respondido pelos participantes, que outro desafio enfrentado pelos educadores na utilização do SIGEduc é que muitos alunos não realizam o cadastro no sistema por não ser obrigatório. Esse fato pode ser considerado como um fator prejudicial no processo de ensino-aprendizagem extraclasse on-line, embora alguns docentes preferem realizar atividades em sala de aula em vez de utilizarem o sistema pelo fato de que nem todos os estudantes têm acesso ao SIGEduc. Este estudo considera que na era digital em que a sociedade pode progressivamente se apropriar de tecnologias educacionais é imprescindível que os sistemas educacionais se preocupem com a formação tecnológica do professor, pois é preciso primeiramente formar o educador para utilizar essas tecnologias integrando os assuntos do currículo escolar com as tecnologias e recursos digitais. Sendo assim, como consequência dessa nova educação tecnológica, seriam formados profissionais mais preparados para lidarem com essas novas tecnologias educacionais na Educação Básica presencial e virtual. 6. Considerações Finais Este estudo considera que a demanda por formação de professores é o sentido mais enfaticamente captado dos discursos analisados e considera que a sociedade precisa prover investimentos necessários para essa que seja implantada uma política permanente e de qualidade para a melhoria da qualidade da Educação Básica. Contudo para que esses profissionais possam utilizar esse sistema de forma que venha a contribuir para o processo de ensino-aprendizagem é necessário que lhes seja ofertado à oportunidade e o tempo necessário para poder conhecê-lo, pois o educador ao utilizar pedagogicamente o SIGEduc não recebe nenhum tipo de remuneração extra e/ou promoção para realizar atividades nele, o que pode ser um fator prejudicial devido a falta de incentivo. Nesse sentido, durante o processo de coleta de informações quando questionados oralmente com questões abertas sobre sistema foi possível perceber no diálogo com os professores que faltava tempo reservado para planejarem atividades para o sistema, pelo fato de muitos atuarem em mais de um turno e/ou instituição de ensino e também pelo fato de muitos não conhecerem conceitos básicos de computação e informática e assim não estarem habituados com as novas TICs. 395 Referências BRASIL. Ministério da Educação. Conselho Nacional da Educação. “Resolução CNE/CEB 1/2016” http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=33 151-resolucao-ceb-n1-fevereiro-2016-pdf&Itemid=30192, Abril. BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos. “Decreto n° 5.622, de 19 de dezembro de 2005. Regulamenta o art. 80 da Lei n° 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional.” http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/dec_5622.pdf, Abril. Freitas, A. e Leite, L. (2008) “Capacitação de Professores na Sociedade Contemporânea: obstáculos e desafios”, Educação em Destaque, p. 01-14. GOOGLE PLAY. (2015) “Aplicativo SIGEduc Mobile Estudante” https://play.google.com/store/apps/detailsid=br.com.sigsoftware.sigeduc.mobile.disc ente.activity&hl=pt_BR, Junho. Husserl, E. (1986), A Ideia da Fenomenologia, 70th edição. Medeiros, Z. e Ventura, P. (2008) “Cultura tecnológica e redes sociotécnicas: um estudo sobre a rede municipal de São Paulo” http://www.revistas.usp.br/ep/issue/view/2136, Abril. Pinel, H. (2004) “Psicologia Educacional: alguns textos esparsos”, NUEX-PSI, p. 1-651. SISTEMA INTEGRADO DE GESTÃO DA EDUCAÇÃO. (2008) “Guias de Apoio para o SIGEduc” http://sigeduc.rn.gov.br/ajuda/doku.php, Junho. SIG SOFTWARE E CONSULTORIA EM TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO. (2015) “Gestão do Ensino Básico – SIGEduc” http://www.esig.com.br/portalsig/gestao-do- ensino-basico-sigeduc/, Junho. TRIBUNA DO NORTE. (2015) “Tecnologia atua como ferramenta fundamental na educação do RN” http://www.tribunadonorte.com.br/noticia/tecnologia-atua-como- ferramenta-fundamental-na-educaa-a-o-do-rn/313837, Agosto. SIG SOFTWARE E CONSULTORIA EM TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO. (2015) “SIGEduc entra em produção nas escolas estaduais de Natal” http://esigsoftware.blogspot.com.br/2012/10/sigeduc-entra-em-producao-nas- escolas.html, Junho. 396