=Paper= {{Paper |id=Vol-1667/CtrlE_2016_AC_paper_76 |storemode=property |title=Os Desafios do Uso Pedagógico do SIGEduc no Contexto de Escolas Públicas dos Municípios de Angicos/RN e Santana do Matos/RN |pdfUrl=https://ceur-ws.org/Vol-1667/CtrlE_2016_AC_paper_76.pdf |volume=Vol-1667 |authors=Thiago Moura Barbosa,Iago Sinésio Ferris da Silva,Alex Sandro Coitinho Sant’Ana }} ==Os Desafios do Uso Pedagógico do SIGEduc no Contexto de Escolas Públicas dos Municípios de Angicos/RN e Santana do Matos/RN== https://ceur-ws.org/Vol-1667/CtrlE_2016_AC_paper_76.pdf
 Os Desafios do Uso Pedagógico do SIGEduc no Contexto de
Escolas Públicas dos Municípios de Angicos/RN e Santana do
                        Matos/RN
   Thiago Moura Barbosa1, Iago Sinésio Ferris da Silva1, Alex Sandro Coitinho
                                  Sant’Ana1
                1
                    Universidade Federal Rural do Semi-Árido(UFERSA)
                     Caixa Postal 59515-000 – Angicos – RN – Brasil
            {thiagoobarbossa@gmail.com, iago.isfs@outlook.com,
                          alexsantana7@gmail.com}
    Abstract. This article is the result of a study about the pedagogical use of the
    software system Integrated Management Education (SIGEduc) in the context of
    four public schools located in the municipalities of Angicos / RN and Santana
    do Matos / RN. The research methodology used was the phenomenological-
    existential, whose data were collected by questionnaires for professionals in the
    education of these four public schools of the state of Rio Grande do Norte. The
    objective of the research was to describe the meanings constructed on the
    challenges of application usage web SIGEduc to the students of the 6th year of
    primary school to the 3rd year of high school. The results of the data analysis
    unveiled senses that allow us to infer that there is a demand for a process of
    continuous education that empowers teachers to understand the possibilities
    that the SIGEduc's features provides for basic education.
    Resumo. Este artigo é resultado de um estudo sobre o uso pedagógico do
    software Sistema Integrado de Gestão da Educação (SIGEduc) no contexto de
    quatro escolas públicas localizadas nos municípios de Angicos/RN e Santana
    do Matos/RN. A metodologia de pesquisa utilizada foi a fenomenológica-
    existencial, cuja coleta de dados ocorreu mediante a aplicação de questionários
    para os profissionais da educação dessas quatro escolas públicas do semiárido
    potiguar. O objetivo da pesquisa foi descrever os sentidos construídos acerca
    dos desafios do uso do aplicativo web SIGEduc junto aos alunos do 6º ano do
    Ensino Fundamental ao 3º ano do Ensino Médio. Os resultados da análise de
    dados desvelou sentidos que permitem inferir que há uma demanda por um
    processo de formação continuada que empodere os professores na
    compreensão das possibilidades que os recursos do SIGEduc oferecem para a
    Educação Básica.

1. Introdução
Atualmente vivemos em uma sociedade em que as inovações tecnológicas se fazem
presentes no cotidiano e é essencial que também estejam inseridas no ambiente
educacional como forma de envolver a comunidade escolar junto a essas transformações.
Neste sentido é preciso apresentar as tecnologias na escola com o intuito de utilizá-las
pedagogicamente e, no caso especificamente de tecnologias digitais online, possibilitar
uma maior interação entre professores e alunos não somente em sala de aula presencial,
mas também em uma relação extraclasse online.


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         No entanto, para que essas transformações possam ocorrer de maneira gradativa e
processos formativos no âmbito escolar, torna-se essencial que os profissionais da
educação básica participem de um processo formativo continuado que os auxiliem a
utilizar essas ferramentas tecnológicas em prol da melhoria da educação e para tanto como
um facilitador no processo de ensino-aprendizagem. Esse pressuposto tem como base
Freitas e Leite (2008) ao constatar que, “a alfabetização tecnológica do professor pode
ser entendida então como uma possibilidade de proporcionar subsídios a este profissional
da educação para o desenvolvimento de novas formas de atuar, com acesso ao domínio
técnico, pedagógico e crítico destas novas ferramentas”. O destaque no termo
“ferramentas” deve-se ao fato de que, mesmo sendo utilizado por inúmeros teóricos
educacionais, ainda gera discordâncias na sua interpretação e utilização”.
        Adentrando no contexto específico deste trabalho, daremos ênfase neste estudo às
possibilidades educativas do Sistema Integrado de Gestão da Educação (SIGEduc). Esse
sistema de gerenciamento de conteúdos e processos online é derivado de outro sistema
chamado Sistema Integrado de Gestão de Atividades Acadêmicas (SIGAA) desenvolvido
na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). O SIGAA foi desenvolvido
com o intuito de atender as necessidades da Educação Superior, sendo que esse sistema é
licenciado e distribuído para outras universidades federais brasileiras, tais como a
Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA) e a Universidade Federal do Piauí
(UFPI). O SIGEduc e o SIGEduc Mobile foram desenvolvidos pela SIG Software e
Consultoria em Tecnologia da Informação, que é a mesma empresa responsável pelo
SIGAA. A opção dos autores em abordar essa ferramenta se deve à sua ampla
incorporação em escolas públicas estaduais do Rio Grande do Norte, sendo que o estudo
optou por selecionar quatro unidades escolares das microrregiões de Angicos/RN e
Santana do Matos/RN para problematizar suas possibilidades e desafios.
        Diferentemente do supracitado objetivo do SIGAA foi constatado que o sistema
visa atender as necessidades da Educação Básica, sendo que segundo a empresa
responsável pelo seu desenvolvimento o sistema permite a gestão de matrículas, diário de
classe e está sendo expandido para possibilitar ambientes virtuais, alimentação escolar,
gestão administrativa, dentre diversas outras funcionalidades. O sistema nesse caso
representaria mais uma opção de um sistema online na tentativa de obter melhorias na
educação escolar do país e é apoiado pelo Ministério da Educação (MEC), Fundo
Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e coordenado pela Secretaria de
Estado da Educação e da Cultura do Rio Grande do Norte (SEEC/RN).
         O SIGEduc trata-se portanto de um sistema utilizado para fins de controle escolar
direcionado para a Educação Básica e tem como principal proposta informatizar toda
dimensão acadêmica e administrativa das mais de 700 escolas públicas da rede estadual
de ensino do Rio Grande do Norte (RN). No entanto, vale ressaltar que o sistema pode
ser utilizado para fins pedagógicos e não somente de forma administrativa como é
proposto oficialmente, pois tal ferramenta dispõe de recursos que podem auxiliar os
profissionais da educação em atividades pedagógicas interativas dentro e fora da sala de
aula. Porém, a pesquisa de campo constatou que era notável que havia uma frequente
utilização com a finalidade de transmitir dados e informações referentes aos alunos e a
escola.




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De acordo com o site institucional da empresa responsável pelo desenvolvimento do
software atualmente o sistema engloba os seguintes recursos pedagógicos e de gestão
escolar:


         Matrícula: Neste recurso os pais ou algum responsável pelo aluno (a), poderá
realizar no sistema um pedido de matrícula na rede estadual de educação. Essa solicitação
será posteriormente processada e seu resultado será divulgado no portal do SIGEduc. Os
pais ou responsáveis receberão orientações da instituição ao qual foi solicitada a matrícula
do aluno para dar continuidade ao processo de efetivação da matrícula do estudante e
deverão comparecer na unidade escolar para realizar a entrega da documentação exigida.
        Turmas e Diário: Com o recurso de Turmas, o professor poderá consultar um
relatório com as turmas ao qual se encontra alocado no período do calendário escolar
vigente. E ainda com o recurso Diário o professor poderá informar os conteúdos
ministrados de cada aula, além de possibilitar ao professor gerar o documento de diário
de classe para ser impresso ou salvo em seu computador. O professor poderá ainda
agendar avaliações para uma turma e após a digitação de todas as notas do período letivo,
o professor poderá consolidar as notas da turma, fazendo com que o sistema gere
automaticamente o resultado final dos estudantes.
        Integração com o Educacenso: O sistema está diretamente integrado ao
Educacenso, onde os dados coletados individualmente de cada estudante, professor,
turma e escola que fazem uso do sistema são enviados ao Educacenso a fim de ajudar na
realização do cálculo do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB).
        Gestão de Eleições: Este recurso é utilizado para o gerenciamento de eleições nas
escolas. É nesse módulo que o candidato ao cargo de diretor (a) ou vice-diretor (a) realiza
a sua inscrição para participar do processo eleitoral e concorrer a uma vaga. Para
participar do processo, no ato da inscrição, o candidato deverá informar qual o cargo irá
exercer, além de informar a qual escola deseja se candidatar.
        Alimentação Escolar: Este recurso pode ser acessado por gestores das escolas
para consultarem pagamentos/recebimentos de recursos referentes à alimentação escolar
e também para visualizarem data de recebimentos de recursos e ainda consultar o número
de parcelas recebidas.
       Transporte Escolar: A partir deste recurso os gestores escolares têm acesso aos
dados de todos os alunos que fazem uso do transporte escolar para se deslocarem até a
escola, dados como local (rua/sítio/comunidade) onde o aluno reside. Geralmente os
alunos que fazem uso desses transportes são alunos da zona rural, que se deslocam para
escola através de ônibus escolares do programa caminho da escola.
        Ouvidoria: Apesar de esse recurso propor-se como um canal aberto de diálogo
entre os usuários do sistema e uma ouvidoria responsável por atender as reclamações,
verificou-se que este recurso ainda não existe no sistema. Porém, existe outro recurso
denominado de “abrir chamado”, ao qual os usuários podem relatar problemas
encontrados, mas apenas referentes ao sistema (problemas técnicos).
        Bibliotecas: Embora esse recurso se proponha a integrar o acervo da biblioteca
da escola no sistema, proporcionando aos alunos o empréstimo de obras aos quais estas
ficariam cadastradas no sistema por meio de sua matrícula, constatou-se que na prática


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não há um uso efetivo deste recurso.
     EJA: Este recurso é destinado à educação de jovens e adultos EJA e dispõe dos
mesmos recursos que os outros estudantes e usuários do sistema.
       Análise Socioeconômica: Não foi encontrado no sistema o recurso Análise
Socioeconômica, porém, o sistema está em constante atualização e algumas modalidades
ainda não se encontram disponíveis, pode ser o caso de tal recurso que pode estar ainda
em desenvolvimento.
        Escola virtual: Ao acessar a disciplina, o aluno poderá visualizar através desse
recurso todas as postagens realizadas pelo professor da disciplina além de encontrar
materiais que também foram disponibilizados pelo professor a fim de complementar a
aprendizagem do alunado. Além disso, o aluno também pode responder a questionários,
enquetes e tarefas criadas a fim de avaliar o desempenho dos participantes da disciplina.
        Além disso, o sistema possui links de acessos a portais (módulos) que facilitam o
acesso dos interessados a outras informações desejadas sobre outros assuntos
educacionais que podem complementar os objetivos de professores, estudantes, pais e
instituições de ensino. São eles:
     Portal da Gestão Escolar
     Portal da DIRED
     Portal do Professor
     Portal do Estudante
     Portal dos Pais/Responsáveis
     Acompanhamento da Educação
         Vale ressaltar, para um melhor entendimento do leitor a respeito do sistema que
apesar da empresa responsável pelo desenvolvimento do SIGEduc denominar de
“portais” alguns dos recursos citados, tratam-se na verdade de módulos que fazem parte
do sistema e estão integrados ao mesmo como forma de facilitar o manuseio por parte dos
usuários e para categorizar por tipo usuário (Ex: professor, aluno, pai/responsável, gestor
e etc.) os recursos que cada um tem permissão de acesso e/ou alteração dentro do sistema.
        A proposta do trabalho é mostrar as possibilidades educacionais a partir da
utilização do SIGEduc como um facilitador do processo de ensino-aprendizagem e
problematizar o seu uso a partir dos desafios encontrados pelos profissionais da Educação
Básica nos momentos de utilização.
       O trabalho encontra-se organizado de forma que em sua Introdução é apresentado
o SIGEduc para que o leitor possa entender como ele funciona e descrever as suas
principais funcionalidades disponíveis aos usuários. No tópico 2 do trabalho, que trata da
possibilidade de Educação a Distância (EaD) por meio de um Ambiente Virtual de
Aprendizagem disponível no sistema, são apresentadas as condições para utilização da
modalidade EaD na Educação Básica, bem como as possibilidades de aprimoramento do
processo de ensino-aprendizagem mediante sua aplicação. Em seguida é apresentado no
tópico seguinte a metodologia de pesquisa adotada para a realização do trabalho,
destacando a sua importância para o contexto da pesquisa. No tópico 4 do trabalho são
apresentados os resultados e discussões quanto aos dados coletados para a execução do


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trabalho e também são destacadas as falas dos sujeitos que se dispuseram a participar do
processo de coleta de informações a respeito do sistema. É apresentada ainda uma
discussão em relação aos desafios do uso pedagógico do SIGEduc mediante sua utilização
pelos docentes da Educação Básica da rede pública de ensino. Nas considerações finais
apresentamos uma posição em relação a utilização do sistema no âmbito educacional e
enfatizamos a importância da sociedade prover meios que auxiliem os envolvidos no
processo para que esses possam obter a maior contribuição educacional possível em
relação a todas as possibilidades oferecidas pelo sistema.

2. Educação a Distância e Ambiente Virtual de Aprendizagem
De acordo com a Resolução CEB/CNE nº 1, de 02 de fevereiro de 2016, pode-se
apresentar a seguinte definição para a modalidade de Educação a Distância
especificamente no Art. 1º, parágrafo 1º, em que consta que “a modalidade de Educação
a Distância é aqui entendida como uma forma de desenvolvimento do processo de ensino-
aprendizagem mediado por tecnologias que permitem a atuação direta do professor e do
aluno em ambientes físicos diferentes [...]”.
        Segundo o Art. 30, do Decreto 5.622 de 19 de dezembro de 2005, que regulamenta
o Art. 80 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) de 1996, “as
instituições credenciadas para a oferta de educação a distância poderão solicitar
autorização, junto aos órgãos normativos dos respectivos sistemas de ensino, para
oferecer os ensinos fundamental e médio a distância [...]”, mas exclusivamente para a
complementação de aprendizagem ou em situações emergenciais.
        Com base na supracitada legislação é possível inferir que o SIGEduc poderá ser
utilizado exclusivamente para a complementação de atividades escolares da Educação
Básica e não para a substituição de dias letivos, embora também em situações
emergenciais quando for o caso. Neste sentido os educadores que ainda temem a expansão
da modalidade EaD por preconceitos das mais variadas naturezas, como a visão recorrente
de ameaça ao ensino presencial, podem amenizar suas críticas e mediante incentivo dos
sistemas de ensino poderiam então priorizar a melhoria da qualidade da educação também
via ambientes virtuais de aprendizagem.
         O SIGEduc proporciona aos educadores recursos digitais para a utilização
pedagógica na modalidade de Educação a Distância (EaD), pois possui ferramentas
integradas que auxiliam a interação professor-aluno por meio de seu ambiente virtual
(escola virtual) no qual é possível propor aos educandos atividades educativas tais como
tarefas, questionários e fóruns aos quais os mesmos podem responder e desta forma
realizarem discussões e questionamentos a respeito do que for proposto. É possível
também interagir com professor de forma assíncrona em atividades como o fórum e de
maneira síncrona em uma atividade como o chat, portanto não somente em sala de aula
mais também de forma virtual em uma relação de ensino-aprendizagem extraclasse.
        De acordo com Marinho e Repsold (2010, p. 3, grifo nosso), “na EAD, o triângulo
didático – professor, aluno e saber – não atinge apenas pessoas, mas agentes coletivos
que, nas relações virtuais, passam por uma organização do tempo e espaço, hábitos,
normas de trabalho e comunicação. A partir disso, surge uma pedagogia ativa, cooperativa
e diferenciada, que precisa contar com uma coordenação esclarecida, atenta e disposta
a mudar, se necessário”.



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       Habituar-se ao modo de trabalhar de forma virtual com os alunos é um desafio a
ser vencido pelos profissionais da educação, pois os educadores em sua maioria não
demonstram muita experiência com o uso da ferramenta de forma didática. É necessário
que os professores entendam que qualquer forma de proximidade com os alunos planejada
pelo sistema de ensino, mesmo que fora da escola, apresenta o intuito de educar os
estudantes a partir de um pressuposto educacional que torna-se válido, em termos de
escolarização oficial, inclusive quando o alunado está no lar, pois a aprendizagem é
contínua. No entanto, é preciso também que os sistemas de ensino elaborem as
circunstâncias estruturais adequadas para que os professores possam reservar tempo hábil
para a realização dessas tarefas adicionais, embora flexíveis, e portanto recebam
valorização adequada conforme a carga horária que se dedicarem à função extraclasse.

3. Metodologia de Pesquisa
A metodologia de pesquisa utilizada foi a fenomenológica-existencial que visa
compreender os sentidos das existências dos sujeitos na medida em que esses vivem o
fenômeno. Conforme Husserl (1986, p. 22), “o método da crítica do conhecimento é o
fenomenológico; a fenomenologia é a doutrina universal das essências, em que se integra
a ciência da essência do conhecimento”.
        No contexto deste estudo o fenômeno foi o processo de utilização ou não do
software SIGEduc em escolas públicas potiguares sendo que a análise da relação do
professor com o sistema desvela os sentidos construídos que possibilitavam aos
pesquisadores deste estudo inferir as possibilidades e desafios proporcionadas pelas
funcionalidades de software de gestão de processos.
        A pesquisa adotou o procedimento inicial de envio de e-mails para obter
informações da empresa responsável pelo sistema, no entanto não obteve sucesso em
termos de obtenção de resposta. Posteriormente adotou-se o procedimento de ida ao
campo de pesquisa, especificamente em quatro escolas da microrregião de Angicos/RN e
Santana do Matos/RN e assim a fenomenologia se mostrou como a melhor proposta
metodológica para viabilizar uma pesquisa sobre os sentidos construídos pelos
professores em suas tentativas de utilização do sistema SIGEduc. Tendo em vista a
realidade de intenso trabalho dos professores ocasionando situações de indisponibilidade
de tempo para participarem de entrevistas, o estudo optou pela aplicação de questionários
para que os docentes o pudessem responder de acordo com sua disponibilidade de
horários livres. Por questões éticas, que visavam a proteção dos participantes da pesquisa,
os pesquisadores informaram antes da aplicação dos questionários que o participante não
precisava se identificar e nem mesmo a instituição. Nesse sentido houve um importante
cuidado ético com os sujeitos que voluntariamente aceitaram participar da pesquisa que
resultou neste artigo.
        O perfil dos participantes da pesquisa eram professores da Educação Básica das
diferentes disciplinas que compõe o currículo escolar, sendo que atuam em quatro escolas
do interior potiguar cuja população dos municípios é inferior a 30 mil habitantes. Tem-se
então uma realidade de zona rural ou de transição zona urbana/rural, visto que atualmente
a modernidade tecnológica pode ser facilmente encontrada na realidade do campo. Sob o
ponto de vista da formação na área de tecnologias, este estudo optou por um recorte ao
focar especificamente a formação destinada ao uso do sistema que é objeto de estudo
neste trabalho. Devido a semelhante realidade potiguar interiorana das escolas


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pesquisadas, o estudo também optou pelo agrupamento de respostas de todos os sujeitos
participantes.

4. Resultados e Discussões
Neste capítulo ocorrerá a apresentação de trechos de discursos dos professores de quatro
escolas públicas localizadas nos municípios de Angicos/RN e Santana do Matos/RN
sobre o SIGEduc. A partir da necessidade de coleta de informações com os educadores a
respeito do sistema foi aplicado um questionário para se obter assim a percepção dos
profissionais a respeito do sistema e para então fundamentar as inferências deste estudo.
O questionário foi aplicado a vinte professores, sendo que as questões abordavam
perguntas sobre a frequência de acesso ao sistema, sobre quais seriam seus principais
recursos/ferramentas e de que forma os utilizam junto com metodologias de ensino.
        Este estudo optou por agrupar os discursos que se correlacionavam e denominar
esse processo de Guia de Sentido (PINEL, 2014), pois foram cartografadas as percepções
dos professores sobre o aplicativo web SIGEduc, sendo esse guia nomeado de Formação
de Professores, pois foi uma demanda que emergiu nas falas dos sujeitos que aceitaram
participar da pesquisa.
       O Guia de sentido – GS é um termo inventado por Pinel (2000; 2003) e refere-se
a subjetividade afetiva (amizade; coragem; companheirismo; amor; compaixão; ser
amoroso etc.) que se vivido (experienciado), metaforicamente acopla ao Guia, fornecendo
sentido à vida(social, profissional, acadêmica, etc), e que é apreendida e descrita pelo
pesquisador, no modo que apreende, procurando fazê-lo o mais próximo às experiências
do outro (sujeito da pesquisa).
       O GS ou Guia de Sentido é algo (valor, atitude, energia etc.) que move o ser a ser
si mesmo no mundo. Também pode ser um instrumento de coleta e análise dos dados
obtidos em uma pesquisa, onde se descreve esse algo ou outros valores, atitudes, energias
etc. O GS pode também ser (des)velador de modos de ser em relacionamentos
interpessoais de ajuda, seja nos Aconselhamentos, na Psicoterapia, na Orientação
Educacional ou na Psicopedagogia, que ao ser dito e escutado, provoca mudanças nos
modos de ser no mundo, de alguém (PINEL, 2000; 2003, apud PINEL, 2004, p. 1, grifo
do autor).
         Foram aplicados vinte questionários, sendo que as questões discursivas serão
analisadas em agrupamentos de sentido e para as questões objetivas serão empregados
gráficos. Dos vinte questionários aplicados apenas 12 (doze) foram devolvidos. Desse
total foi possível constatar que várias perguntas não foram respondidas.




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                Gráfico 1: Com que frequência você acessa o SIGEduc?


        No gráfico 1 podemos constatar que a grande maioria dos docentes fazem uso do
sistema apenas “1 vez por semana”, correspondendo assim a 38% do total de frequência
de acessos. É possível notar também que a segunda e a terceira opção da questão 1, que
por sua vez, correspondem a frequência de acesso “2 vezes por semana” e “3 ou mais
vezes por semana” observa-se que esses dados dizem respeito respectivamente a 23% e
31% da assiduidade de logins realizados. Nota-se ainda que na alternativa “1 vez ao mês”
obteve-se a informação quantitativa equivalente a 8% do total de acessos que foram
realizados.
         É importante ponderar que a qualidade desses acessos é relativa, pois um docente
que realiza apenas 1 (um) acesso por semana pode ter um grau mais elevado de
desempenho usando o sistema de forma adequada, satisfatória e para fins pedagógicos.
Já os docentes que fazem o uso do sistema com mais frequência ou com mais ou menos
frequência não significam necessariamente maior qualidade, sob o ponto de vista
pedagógico. Ressalta-se que os pesquisadores não tiveram sucesso na tentativa de contato
institucional para obtenção de acesso ao sistema e verificação das atividades efetivamente
realizadas pelos profissionais da educação no sistema. Reitera-se que este estudo tem
como propósito principal a produção de inferências sobre os desafios pedagógicos
advindos do sistema a partir da percepção dos professores sobre o SIGEduc e que os
autores deste trabalho não têm dúvidas quanto a necessidade de mais estudos sobre o
problema.




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                          !%                           
                                                          


                                                      
                                                      
                                                         
                                                        
                                      "%                
                  %




                 Gráfico 2: Para que finalidade você utiliza o SIGEduc?


        No gráfico 2, afirma-se que 62% dos docentes não foram capazes ou não quiseram
responder as perguntas estabelecidas pelo questionário aplicado a fim de coleta de dados.
Nota-se também que nenhum docente utiliza o sistema como uma proposta pedagógica.
Como faz notar no mesmo gráfico, foi possível constatar a mera utilização administrativa
do sistema para registros de frequência e notas, demonstrando que o sistema é utilizado
para controlar e não para educar. Nesse sentido este estudo infere que há um controle que
poderá ter efeito coercitivo no disciplinamento dos sujeitos ao cogitarem que seus pais
poderão ter acesso ao sistema e coagi-los a melhorar seus estudos, mas o estudo
compreende que ato de educar seria o emprego das ferramentas digitais para a melhoria
da qualidade dos conteúdos de aprendizagem das diferentes disciplinas.




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        Gráfico 3: Você já passou por alguma formação para utilizar o SIGEduc?


       O gráfico 3 averigua que 50% dos docentes entrevistados não receberam uma
formação para utilizar o sistema SIGEduc, enquanto 42% dos docentes afirmaram que
receberam a formação para usar adequadamente o sistema. Apesar de 42% do total de
educadores responderem que haviam recebido formação para utilizarem o SIGEduc, cabe
destacar também a qualidade desse formação recebida, pois foi possível constatar no
gráfico 2 que a grande maioria dos docentes utilizam o sistema apenas para registro de
frequência e nota o que nos faz questionar quanto a qualidade da formação recebida por
esses profissionais da educação representados no gráfico 3. Nesse sentido caberia uma
questão que poderia ser objeto de uma nova pesquisa: os educadores receberam de fato
uma formação adequada para utilizarem o SIGEduc de forma pedagógica?
       No caso dos questionamos a respeito do percentual de 50% que afirmaram não
terem recebido nenhuma formação para utilizarem o sistema é possível elaborar uma
questão adicional, que seria se esses profissionais podem ser cobrados a utilizarem o
sistema com uma proposta pedagógica se eles não receberam nenhuma orientação de
como trabalhar com ele e como essa carga horária adicional de trabalho poderia ser
contabilizada pela administração pública.
       Em relação às questões discursivas, foi questionado aos educadores quais os principais
recursos que estão disponíveis no sistema eles faziam uso em suas atividades virtuais
desenvolvidas no SIGEduc. Foi possível observar nos discursos dos professores que os mesmos
em sua maioria, não conhecem os recursos e ferramentas disponíveis no sistema, pois temos
um caso em que um docente afirmou que não desenvolve nenhuma atividade, pois o sistema
em questão não possibilita o desenvolvimento de atividades diretamente com o aluno, apenas
para registros escolares e isso reforça a ideia de que os professores em sua maioria, não
conhecem o sistema a fundo, pois esse mesmo docente que fez tal afirmação, revelou em uma
questão posterior que não recebeu nenhum tipo de formação para utilizar o SIGEduc.
        Em outros casos os docentes afirmaram que não desenvolvem atividades para seus
alunos pelo fato de muitos dos discentes não terem acesso ao sistema. É importante
ressaltar que a maioria dos professores não respondeu essa questão.


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5. Os Desafios do Uso Pedagógico do SIGEduc
Em relação aos desafios enfrentados por educadores que não estão habituados a fazerem
uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) em seus métodos pedagógicos,
Freitas e Leite (2008) mencionam que “[...] pelo fato de não se tratar de apenas mais um
modismo pedagógico ou de uma simples apropriação do desenvolvimento tecnológico, o
professor, “responsável perante a sociedade pela educação sistemática dos nossos
cidadãos, precisa estar preparado para integrar a tecnologia na sua prática educativa”.
(FREITAS; LEITE 2008. p. 11 apud LEITE, 2006, p. 40).
        Este aspecto também é comentado por Medeiros e Ventura (2008) quando
apontam que “[...] o educador deve buscar também nas novas tecnologias os meios de
contextualizar, atualizar, ampliar e melhorar a sua prática pedagógica”.
         Foi possível constatar nos discursos dos professores e nas sugestões propostas
por eles no questionário aplicado e respondido pelos participantes, que outro desafio
enfrentado pelos educadores na utilização do SIGEduc é que muitos alunos não realizam
o cadastro no sistema por não ser obrigatório. Esse fato pode ser considerado como um
fator prejudicial no processo de ensino-aprendizagem extraclasse on-line, embora alguns
docentes preferem realizar atividades em sala de aula em vez de utilizarem o sistema pelo
fato de que nem todos os estudantes têm acesso ao SIGEduc.
       Este estudo considera que na era digital em que a sociedade pode
progressivamente se apropriar de tecnologias educacionais é imprescindível que os
sistemas educacionais se preocupem com a formação tecnológica do professor, pois é
preciso primeiramente formar o educador para utilizar essas tecnologias integrando os
assuntos do currículo escolar com as tecnologias e recursos digitais. Sendo assim, como
consequência dessa nova educação tecnológica, seriam formados profissionais mais
preparados para lidarem com essas novas tecnologias educacionais na Educação Básica
presencial e virtual.

6. Considerações Finais
Este estudo considera que a demanda por formação de professores é o sentido mais
enfaticamente captado dos discursos analisados e considera que a sociedade precisa
prover investimentos necessários para essa que seja implantada uma política permanente
e de qualidade para a melhoria da qualidade da Educação Básica.
         Contudo para que esses profissionais possam utilizar esse sistema de forma que
venha a contribuir para o processo de ensino-aprendizagem é necessário que lhes seja
ofertado à oportunidade e o tempo necessário para poder conhecê-lo, pois o educador ao
utilizar pedagogicamente o SIGEduc não recebe nenhum tipo de remuneração extra e/ou
promoção para realizar atividades nele, o que pode ser um fator prejudicial devido a falta
de incentivo. Nesse sentido, durante o processo de coleta de informações quando
questionados oralmente com questões abertas sobre sistema foi possível perceber no
diálogo com os professores que faltava tempo reservado para planejarem atividades para
o sistema, pelo fato de muitos atuarem em mais de um turno e/ou instituição de ensino e
também pelo fato de muitos não conhecerem conceitos básicos de computação e
informática e assim não estarem habituados com as novas TICs.




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  “Decreto n° 5.622, de 19 de dezembro de 2005. Regulamenta o art. 80 da Lei n° 9.394,
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