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|title=Ferramenta Colaborativa para Auxílio na Aprendizagem do Gênero Textual Cordel
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==Ferramenta Colaborativa para Auxílio na Aprendizagem do Gênero Textual Cordel==
Ferramenta Colaborativa para Auxı́lio na Aprendizagem do Gênero Textual Cordel Dalton Cézane Gomes Valadares1 , Paloma Sabata Lopes da Silva2 1 Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFPE) Campus Caruaru – PE – Brasil 2 Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Campus Recife – PE – Brasil dalton.valadares@caruaru.ifpe.edu.br, paloma.sabata@gmail.com Abstract. This short paper presents a digital tool to aid learning of the Cordel genre. Through a web portal, teachers and students can create cordéis, col- laboratively, and disseminate their creations, expanding the reach of this rich genre, currently widespread only in printed form. In addition to the academic audience, the tool will be opened to the general public, and can be applied to other genres such as Poetry/Poem and Repente. Resumo. Neste artigo é apresentada uma ferramenta digital para auxı́lio ao aprendizado do gênero textual Cordel. Por meio de um portal web, profes- sores e alunos poderão criar cordéis, de forma colaborativa, bem como divulgar suas criações, ampliando o alcance deste rico gênero, hoje difundido apenas na forma impressa. Além do público acadêmico, a ferramenta será aberta para o público em geral, e poderá ser aplicada a outros gêneros, como poesia/poema e repente. 1. Introdução A literatura de cordel compreende textos escritos em versos, sobre situações cotidianas, populares, temas atuais ou históricos, ”causos”, geralmente envolvendo regionalismos e diversos fatores culturais. Sua origem vem de impressões em folhetos, ilustrados geral- mente com o processo de xilogravura, divulgados ao público amarrados em cordões e estendidos nas ruas de Portugal [Alves 2008, SuaPesquisa 2016]. Como atualmente há uma forte tendência em utilizar ferramentas tecnológicas no auxı́lio e estı́mulo à aprendizagem, surgiu o interesse em desenvolver um portal web para elaboração colaborativa deste tipo de trabalho textual, bem como para a divulgação dos textos criados. Sendo uma ferramenta web, será possı́vel ser acessada de qualquer dispos- itivo computacional (computador, notebook, smartphone, tablet, smartTV, etc.) que pos- sua um navegador instalado e acesso à Internet. A ideia é ampliar a divulgação deste tipo de texto, rico em caracterı́sticas culturais, e incentivar a produção por meio da colaboração entre autores. A poética dos cordéis se divide em: quadra, sextilha, septilha, oitava, quadrão, décima e martelo. Com o uso do portal, cordelistas e leitores interessados poderão criar seus textos, de forma colaborativa, solicitando, uns aos outros, verificação da poética e sugestões. Professores de literatura poderão utilizar o portal para obter textos a serem trabalhados em sala de aula, ou mesmo sugerir que seus estudantes criem cordéis so- bre temas da atualidade. Juntamente aos cordéis, que trazem naturalmente informações de contexto sócio-histórico com caracterı́sticas artı́sticas, outros tipos de texto também poderão ser criados e compartilhados no portal. Além do gênero textual, também podem ser estudadas a riqueza estilı́stica e a variedade de temas abordados, tais como realidade social, polı́tica e econômica, contos regionais, etc. [Alves 2008] Deste modo, o portal web proposto atuará como ferramenta educacional, certamente tendo sua contribuição no processo de fixação de conteúdo, aux- iliando professores e estudantes, e, também, como passatempo (hobby) para os amantes deste tipo de literatura. 1.1. Objetivos Esta ferramenta tem, como objetivo geral, o apoio à criação de cordéis, repentes e poesias, auxiliando no aprendizado destes gêneros, divulgando um pouco da cultura nordestina e ampliando o acesso a este rico conteúdo, tradicionalmente acessado apenas em versões impressas. O Portal será utilizado para que autores criem seus textos, sozinhos ou em colaboração, e disponibilizem ao público, buscando, com isso, ampliar o acesso a tal conteúdo, para quem já gosta de ler, e servindo como base para pesquisa de estudantes e profissionais da área, além de facilitar o acesso a quem não conhece este gênero textual de exposição cultural. Como objetivos especı́ficos, pode-se enumerar: 1. Estimular a autoaprendizagem, desenvolvimento da iniciativa, atitudes, interesses, valores, criatividade e hábitos educativos, por parte dos estudantes; 2. Beneficiar o público com a divulgação de cordéis, repentes, poesias, etc., e incen- tivar a comunidade acadêmica a criar e compartilhar conhecimento, por meio dos gêneros citados; 3. Promover interação entre pessoas interessadas na elaboração e leitura de tex- tos, principalmente quando relacionados à cultura e a problemas de determinada região, e por meio disso gerar troca de conhecimentos; 4. Tornar visı́veis os grupos de cordelistas, poetas e repentistas de diferentes lo- calidades, e disseminar conhecimento a respeito de seus trabalhos, por meio da disponibilização de conteúdo no portal; 5. Incentivar professores de literatura e estudantes a utilizarem o portal como fer- ramenta educacional, para que sejam criados textos de boa qualidade, baseados em assuntos aprendidos em sala de aula, bem como difundir o conhecimento adquirido e os textos gerados, por meio do Portal Web. 2. Fundamentação Teórica 2.1. Práticas sociais de leitura e escrita do gênero Cordel Para se falar nas ferramentas presentes na Web e no gênero textual cordel como instrumen- tos para aprendizagem, é preciso traçar um percurso que situe a função social da leitura, da escrita e dos gêneros, a fim de compreender-se a utilidade do cordel na ferramenta colaborativa proposta. Histórica e socialmente, leitura e escrita são práticas interligadas presentes no nosso cotidiano, materializadas nas mais diversas formas. O ato de ler estava e continua estando envolvido num conjunto de práticas codificadas, tais como a técnica e a prática social. A leitura é, também, uma forma de gestualidade, de sabedoria, é um método que envolve uma atividade voluntária. A escrita é, em primeiro lugar, o resultado material de um gesto fı́sico que con- siste em traçar signos, seja usando a mão ou o teclado de um equipamento eletrônico, configurando-se, portanto, como o meio de comunicação mais complexo. Não se escreve somente a palavra ou o signo, neles estão impressas as intenções de um autor. É assim que o cordelista formula seu texto, no intuito de atingir um público que se interesse por temas variados, contados na forma de rima e de muita graça. Na Literatura e na Linguı́stica, a primeira concepção teórica de gênero veio com [Bakhtin 1997], que evidenciou a necessidade que os indivı́duos têm de se comunicar e transmitir pensamentos, instaurando o estudo da interação verbal e, em consequência, a oposição ao modelo estrutural de observar a linguagem. Para o autor, usamos a lı́ngua por meio de enunciados (orais e escritos), concretos e únicos, que derivam dos indivı́duos presentes na sociedade. Após os estudos e análises iniciais, surgiram novas propostas e novos direciona- mentos acrescidos aos anteriores. Na escola norte-americana, destaca-se a perspectiva sociorretórica de gêneros, adotada por Charles Bazerman. Nessa concepção, de acordo com [Bazerman 2011], o termo “gênero”, amplamente discutido e utilizado para identi- ficar as especificidades de vários tipos de criações nas variadas esferas da comunicação, designa a maneira como moldamos os pensamentos que formamos e as comunicações através das quais interagimos. A definição de Bazerman enfatiza os gêneros como categorias de reconhecimento psicossocial, uma vez que emergem historicamente e são praticados socialmente, e cate- gorias de enunciados, por ocuparem um lugar definido no espaço, com inı́cio e fim em si mesmo, gerando sentidos. Fica clara, assim, a função do cordel como gênero, que além de social, possibilita a aprendizagem interativa para participantes sócio espacialmente situados. Desde as suas origens até à atualidade, são abordadas visões diferenciadas para o estudo do gênero textual Cordel. Em sua tradição, tratava-se de manuscritos, em forma de poesia popular impressa e divulgada em folhetos desenhados pelo método da xilogravura, vendidos em feiras, ruas e praças. Caracterizado como uma das formas de expressão da cultura popular, os primeiros exemplares dos folhetos estão datados pertencendo ao século XVII, na Europa. Trazido pelos portugueses, o cordel chegou ao Brasil no século XVIII, ganhando cada vez mais espaço, especialmente no nordeste do paı́s (Bahia, Pernambuco, Ceará, Paraı́ba e Alagoas), tornou-se referência quando se trata de contar com humor causos da vida cotidiana da região, tais como: festas, polı́tica, secas, disputas, brigas, milagres, vida dos cangaceiros, atos de heroı́smo, milagres, morte de personalidades etc. Os cordéis ou folhetos também podem contar um fato isolado, como um boato; outros revelam a realidade desesperadora, o exagero, os mitos e lendas passadas de geração em geração. De acordo com [Abreu 2004], transformar histórias em versos de cordel não sig- nifica apenas metrificar e rimar um texto, para isso, é fundamental adequar a sintaxe e o léxico. Assim, os padrões nordestinos de composição interferem nas narrativas, para se formarem histórias divertidas e bonitas. Os folhetos são eficazes por serem escritos em versos compostos segundo um padrão que favorece a realização de sessões coletivas de leituras em voz alta [de Almeida Filho 1963]. A superioridade desse gênero deve-se, além do fato de apre- sentarem as notı́cias interpretadas segundo os valores compartilhados pelo público, pela forma em que são dispostas as mensagens. Por isso, eles parecem superiores aos textos jornalı́sticos, a exemplo dos jornais em que se apresentam notı́cias em prosa. O Cordel é o que Abreu chama de mistura entre teatro e literatura [Abreu 1999]. A oralidade ali presente exige sua dramatização, impressa na possibilidade musical, que tem de estar presente mesmo que o poema seja somente declamado. A literatura popular tem sua origem na oralidade, transformou-se em cordel, manuscrito e xilogravurado, foi para o impresso e, hoje, pretendemos que ele circule de maneira interativa no ambiente virtual. 2.2. A aprendizagem no ambiente virtual O cyberspace é o espaço onde está funcionando a humanidade, é um novo espaço de interação, plasticidade e possibilidade de metamorfose imediata. Para Pierry Lévy [Lévy 2000], o espaço cibernético introduz um tipo de comunicação chamada “Todos e Todos”, que se reveste da emergência de uma inteligência coletiva, como a que é proposta neste trabalho, com a criação da ferramenta colaborativa para a aprendizagem. Essa ferramenta se insere no nosso cotidiano em forma de hipertexto, transfor- mando a perspectiva de um leitor e escritor do papel, para uma outra dimensão: ”não é mais o leitor que vai se deslocar diante do texto, mas é o texto que, como um calei- doscópio, vai se dobrar diferentemente diante de cada leitor.” [Lévy 2000]. Do mesmo modo, a escrita mudou seu papel, pois o próprio leitor participa da mensagem, interagindo com ela. O hipertexto é, pois, um texto único produzido por um autor coletivo e em transformação permanente. O espaço cibernético possibilita o surgimento de uma nova inteligência, que caminha na direção da potencialização do pensamento, da percepção, da sensibilidade e da imaginação. Mecanismos possı́veis a partir dessa nova forma de cooperação e coordenação automatizada e em tempo real, e tudo graças aos equipamentos que podem ajudar no aprendizado e na aquisição de saberes. Do ponto de vista pedagógico, percebemos que a leitura do hipertexto é um poderoso objeto de aprendizagem por meio do qual o hiperleitor tem a chance de ati- var o processamento cognitivo tão intensamente e acionar os modelos mentais e os planos de ação diante da proposta de produção de um texto como o cordel. 3. Metodologia 3.1. Análise de Requisitos e Definição de Tecnologias Inicialmente foi elaborado um documento contendo todos os requisitos funcionais e não funcionais. Haverá um refinamento dos mesmos à medida que mais pessoas, que queiram utilizar o portal como ferramenta e/ou para divulgar conteúdo à população em geral, se interessem pelo projeto, dando sugestões valiosas. Também é interessante ouvir opiniões de professores de lı́ngua portuguesa, pois já possuem conhecimento das necessidades do público estudantil e, talvez, do público em geral, por meio de conhecimento prévio obtido em suas vidas acadêmicas e por leitura. Além disto, alguns alunos poderão opinar sobre o que esperariam de um portal com esta finalidade e este tipo de conteúdo. Será realizado, ainda, contato com cordelistas e poetas. No tocante ao desenvolvimento da ferramenta, por concordância da equipe, optou- se por utilizar tecnologias de código aberto (livres) e de fácil implantação e uso: servi- dor de aplicação Apache, sistema de gerenciamento de banco de dados MySQL e lin- guagem de programação PHP, juntamente com o framework Yii, por seguir o conceito DRY (Don’t Repeat Yourself ), que busca facilitar a programação evitando repetição de trabalho [GamaSutra 2016]. 3.2. Implementação e Implantação do Portal O acompanhamento das atividades de desenvolvimento/implementação da ferramenta (portal) é realizado seguindo conceitos da metodologia de desenvolvimento ágil SCRUM: as atividades são agrupadas em backlog e distribuı́das ao longo de sprints, a fim de serem executadas [Rubin 2012]. Isto facilita o gerenciamento do projeto, buscando o controle da execução de atividades conforme o planejado. A implementação se dá de acordo com a especificação e a interface está sendo definida pela equipe do projeto juntamente com algumas partes envolvidas. Após a implementação do portal, o mesmo será implantado no servidor de aplicação e disponibilizado online, com a finalidade de torná-lo disponı́vel para acesso pela comunidade em geral, de forma aberta, pela internet. 3.3. Elaboração/Seleção do Conteúdo a ser Disponibilizado no Portal Os materiais a serem disponibilizados inicialmente no portal serão cuidadosamente elaborados, de acordo com temas de importância, conforme as sugestões dos professores, cordelistas e poetas interessados. Além de material elaborado, serão disponibilizados materiais selecionados criteriosamente de acordo com experiência prévia dos professores interessados no uso do portal. 3.4. Testes e Validação do Portal Com o portal implantado, poderão ser realizados testes de acesso, primeiramente por professores e estudantes, avaliando interface gráfica, usabilidade, qualidade do conteúdo, etc. Caso haja sugestões de melhorias, estas serão discutidas e, após análise, decidir-se-á se será ou não realizada alguma mudança no portal. Posteriormente, após os testes por estudantes e professores, por meio da divulgação do link de acesso público, o portal será validado por meio de contador de acesso/visitas: o interesse do público será medido pelo número de visitas ao portal e pelos contatos recebidos pelo mesmo. 4. Resultados Esperados Espera-se que, após implementação e implantação, o Portal Web Colaborativo se torne referência para obtenção, criação e divulgação de textos referentes à cultura cordelista e poética, primeiramente para professores e estudantes, principalmente da região nordeste, e, posteriormente, ampliando este alcance para o público mais geral que se interesse pelo conteúdo do portal. Além disso, também é esperado que haja uma mobilização entre estudantes e pro- fessores para a divulgação e atualização de conteúdo de qualidade no portal, de modo que este se torne cada vez mais atrativo e útil à sociedade. Desta forma, os estudantes poderão praticar escrita e compreensão textual, utilizando o portal como ferramenta de aprendizado. 5. Resultados Parciais Este projeto encontra-se credenciado junto ao Programa Institucional de Bolsas de Ex- tensão do Órgão XX (Nome modificado para não interferir no julgamento dos avali- adores). Conta com a participação de dois bolsistas, estudantes do curso Engenharia Mecânica, e tem vigência de fevereiro a dezembro deste ano (2016). Atualmente, já há um esboço do layout do portal, o documento de requisitos foi definido e está sob análise/atualizações, e o modelo conceitual do banco de dados está sendo definido, para, enfim, inicializar-se a implementação da primeira versão do por- tal. É importante agora envolver um maior número de pessoas interessadas, que possam opinar sobre a ferramenta e, posteriormente, testá-la. 6. Considerações Finais Conforme as teorias mencionadas ao longo deste texto, é por meio dos gêneros textuais que os pensamentos e as comunicações, no geral, são moldados. Por se tratar de um gênero escrito popular do nordeste e, muitas vezes, relegado a segundo plano em função do modelo sulista de ensino, elegeu-se o cordel como base para o auxı́lio da aprendiza- gem, divulgação da cultura e possibilidade de acesso à web para alunos das diferentes esferas sociais. Com vistas à potencialização do pensamento, da sensibilidade, da percepção e da imaginação, conclui-se que a implementação da ferramenta colaborativa amplia a possi- bilidade de: • aprendizagem da cultura popular; • conhecimento sobre a história e a atualidade da região, especialmente do Nordeste do Brasil; • disseminação do conhecimento, por meio da interação entre alunos, professores e cordelistas; • incentivo à prática de leitura, escrita e compreensão de texto. Destarte, é pretendido que o portal seja divulgado e atualizado com um conteúdo de qualidade e útil não somente para alunos, mas para a sociedade em geral, de modo à possibilitar uma base interativa de difusão da literatura popular e de conhecimentos atualizados sobre acontecimentos da região. References Abreu, M. (1999). História de cordéis e folhetos. Mercado de Letras. Campinas/SP. Abreu, M. (2004). Então se forma a história bonita – relações entre folhetos de cordel e literatura erudita. In Horizontes Antropológicos, pages 199–218. Porto Alegre. Alves, R. M. (2008). Literatura de cordel: por que e para que trabalhar em sala de aula? Revista Forum Identidades, pages 103–109. Bakhtin, M. M. (1979/1997). Estética da criação verbal. Martins Fontes, 2a edition. Bazerman, C. (2011). Gênero, Agência e Escrita. Cortez, São Paulo. de Almeida Filho, M. (1963). A noiva do Diabo. Editora Prelúdio, São Paulo. GamaSutra (2016). Effective coding: Don’t repeat yourself. Online, acessado em 16 de fevereiro de 2016. Lévy, P. (2000). A emergência do cyberspace e as mutações culturais. In Ciberespaço: um hipertexto com Pierre Levy. Porto Alegre: Artes e Ofı́cios. Rubin, K. S. (2012). Essential Scrum: A Practical Guide to the Most Popular Agile Process. Addison-Wesley Professional, 1a edition. SuaPesquisa (2016). Literatura de cordel e literatura oral. Online, acessado em 16 de fevereiro de 2016.