II Congresso sobre Tecnologias na Educação (Ctrl+E 2017) Universidade Federal da Paraíba - Campus IV Mamanguape - Paraíba – Brasil 18, 19 e 20 de maio de 2017 Planejando o uso da Tecnologia por meio da Tecnologia: uma Experiência com Professores da Educação Básica Carlinho Viana de Sousa1, Osmar Quim2, Cássia R. Tomanin2, Jéssica J. Wagner3 1 Departamento de Computação – Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT). CEP 78.780-000 – Alto Araguaia – MT – Brazil 2 Departamento de Letras – Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT) CEP 78.780-000 – Alto Araguaia – MT – Brazil 3 Licenciatura em Computação – Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT) CEP 78.780-000 – Alto Araguaia – MT – Brazil profcarlinho@unemat.br, {oq.quim, tomanincassia}@gmail.com, jessica.wagner2013@hotmail.com Abstract. The article describing the experience of three higher education teachers with a group of Basic Education teachers through activities carried out in the research project (Re)thinking the Pedagogical Practices with Support from the ICT. The objective of the project is to insert the digital information and communication technologies (ICT) in the pedagogical practice of teachers. This insertion occurs in three moments: i) discussion about teaching and learning issues; ii) improvement courses (Education and ICT); and, iii) insertion of the ICT in the pedagogical practice of teachers (collaborative online project and construction and dissemination of a School Blog). Resumo. O artigo que ora se anuncia descreve a experiência de três professores do ensino superior com um grupo de professores da Educação Básica por meio de atividades realizadas no projeto de pesquisa Re(pensando) as Práticas Pedagógicas com Auxílio das TDIC. O objetivo do projeto é inserir as tecnologias digitais de informação e comunicação (TDIC) na prática pedagógica dos professores. Essa inserção ocorre em três momentos: i) discussão sobre as questões do ensino e aprendizagem; ii) cursos de aperfeiçoamento (Educação e TDIC); e, iii) inserção das TDIC na prática pedagógica dos professores (projeto colaborativo online e construção e divulgação de um Blog Escolar). 1. Introdução A escola não deve ficar alheia ao que acontece no mundo, aos diversos modos de ensino e aprendizagem da cultura humana. A escola não pode viver no século XX e seus alunos no século XXI. Vivemos o que é definido por Barlam (2012) como a era da Edusfera (professores eruditos, textos bem fundamentados, filosóficos...) versus Acnesfera 285 II Congresso sobre Tecnologias na Educação (Ctrl+E 2017) Universidade Federal da Paraíba - Campus IV Mamanguape - Paraíba – Brasil 18, 19 e 20 de maio de 2017 (alunos pragmáticos, de textos curtos, imagéticos...). As duas culturas imersas nos recursos midiáticos, cada uma à sua maneira. Ante o exposto, entendemos que o maior desafio nos tempos atuais é aproximar a cultura digital (alunos) da cultura erudita ou formal (escola). Vivemos a “onda” da escola 2.0, em especial depois do boom da web 2.0, que transformou a maneira como as pessoas se comunicam e compartilham diversas informações na rede por meio de várias tecnologias digitais para todas as idades e gostos. Tempos atrás eram utilizados computadores, depois os tablets, atualmente existem os smartphones (verdadeiros “computadores de mão”) que a cada dia se tornam mais inteligentes, com mais funções e aplicativos para muitas atividades. Esse potencial tecnológico tem que ser utilizado em favor da Educação. É nesse cenário que nasce o projeto (Re)Pensando a Prática Pedagógica com Auxílio das TDIC (RPPTDIC) objetivando inserir as tecnologias digitais na prática dos professores, uma inserção pensada dentro um projeto pedagógico que suscite constantemente reflexões sobre a prática. O artigo aqui proposto tem como objetivo relatar o processo inicial de um trabalho de pesquisa-ação que culminará na construção de um Blog Escolar como meio de inserir as tecnologias digitais na comunidade participante do referido projeto. Nesse trabalho o grupo de professores da Educação Básica, em parceria com os coordenadores do projeto planejam um Blog Escolar por meio de um projeto escrito online e de forma colaborativa. A ideia é fazer o professor pensar a tecnologia por meio da tecnologia, inserir gradativamente a cultura digital no cotidiano dos professores e alunos. Este texto está organizado em quatro seções. Na segunda seção são apresentados e discutidos os dados de um questionário-diagnóstico aplicado a nove professores participantes do projeto RPPTDIC. Na terceira seção relatamos as atividades desenvolvidas no projeto RPPTDIC, em especial o trabalho desenvolvido com os professores na construção do projeto colaborativo online utilizando recursos do Google Drive. Na quarta seção apresentamos os resultados preliminares e tecemos nossas considerações e apontamentos futuros para as atividades a serem desenvolvidas no projeto RPPTDIC. 2. À guisa de Análise Antes de iniciarmos as atividades do projeto RPPTDIC, aplicamos um questionário- diagnóstico para nove professores participantes do projeto. O questionário teve como objetivo levantar informações sobre capacitação e uso das TDIC na prática pedagógica dos professores, e as dificuldades encontradas por eles na inserção dessas tecnologias na sala de aula. Os resultados dos questionários são apresentados nas linhas que seguem. Analisando as respostas dos gráficos das figuras 1 e 2 (abaixo) percebe-se que a maioria dos professores (67% – figura 1) participou de algum curso que o possibilitasse usar as TDIC em sala de aula e acredita que a formação recebida foi boa (parcialmente satisfatória – figura 2). Entendemos que para o professor usar bem as TDIC em sala de aula é de fundamental importância a capacitação, mas não de forma “tecnicista” (utilização da 286 II Congresso sobre Tecnologias na Educação (Ctrl+E 2017) Universidade Federal da Paraíba - Campus IV Mamanguape - Paraíba – Brasil 18, 19 e 20 de maio de 2017 tecnologia com fim em si mesma), pelo contrário, acreditamos em uma formação que considere o processo de ação, reflexão e ação, o qual é exposto por Tajra (2012) como “descongelamento” (reconhecer que é preciso se adequar às mudanças), “mudança” (assimilação das mudanças, aceitação do novo cenário) e “recongelamento” (conhecimento da realidade, aparecimento de uma nova tecnologia, reinicialização do processo de atualização). Figura 1. Utilização das tecnologias em Figura 2. Classificação da formação sala de aula Percebemos pelo gráfico da figura 3, que o uso do laboratório da escola por parte dos professores acontece raramente (44,4%), às vezes (33,33%) e, há ainda professores que nunca utilizam o laboratório (22,22%). Sabemos que a maioria das escolas possuem laboratórios de informática, os quais são subutilizados. A maioria dos professores afirma que receberam capacitação para uso das TDIC (figura 1), no entanto o laboratório de informática da escola é pouco utilizado. Talvez por falta de um projeto que incentive os professores a utilizarem esses espaços, talvez por falta de preparo do professor para utilizar de fato o laboratório, talvez por falta de um profissional para auxiliar no laboratório (ressalta-se que esse não é o caso da escola onde o projeto é executado). Nas raras vezes em que os professores utilizam o laboratório de informática da escola, as atividades mais realizadas estão relacionadas à pesquisa (35,29%) e jogos educativos (23,53%) – conforme apresentado no gráfico da figura 4. Figura 3. Frequência de uso do laboratório Figura 4. Objetivos de utilização do laboratório 287 II Congresso sobre Tecnologias na Educação (Ctrl+E 2017) Universidade Federal da Paraíba - Campus IV Mamanguape - Paraíba – Brasil 18, 19 e 20 de maio de 2017 Hoje temos uma grande biblioteca mundial que é a internet, um vasto local para fazermos pesquisa sobre “tudo” e “todos”, a grande dificuldade talvez seja ficar perdido no emaranhado de informações que a rede disponibiliza. Como afirma Lévy (1999), passamos de um conhecimento totalizável para incontrolável e, acreditamos que o professor pode ser a figura mais importante na seleção/transformação das informações (vindas da rede) em conhecimento utilizável em sala de aula. Outra atividade realizada pelos professores no laboratório de informática é o uso de jogos educativos, os quais são bem aceitos pelos estudantes, já que a maioria deles faz uso de jogos no cotidiano, seja individual ou coletivamente na internet. Os jogos exigem dos estudantes estratégias e raciocínio para vencer as etapas, a competição com os colegas gera desafios e motivação nos estudantes. Analisando o gráfico da figura 5, percebemos que 100% dos professores consideram importante a utilização das tecnologias para se trabalhar os conteúdos curriculares. Por outro lado, a maioria afirma (89%, gráfico da figura 6) que não existe projeto para incentivar o uso da tecnologia no ambiente escolar. Figura 5. Importância da utilização das Figura 6. Projeto de incentivo ao uso das tecnologias TDIC Entendemos que a inserção das TDIC no ambiente escolar, mais precisamente no currículo escolar só poderá ter sucesso se fizer parte de um projeto que envolva alunos, professores (em maior intensidade) e gestores. Um projeto que leve em consideração as TDIC não como recursos técnicos, mas como recursos cognitivos, como uma extensão do aprender. O uso das TDIC no desenvolvimento do currículo por projetos permite registrar processos, recuperar trajetórias, rever narrativas e identificar caminhos percorridos, conhecimentos colocados em ação e significados em construção [Almeida and Valente 2011]. Aqui o professor é fundamental para dar significado à aprendizagem do aluno, para colocar-se em sinergia com a cultura digital do aluno, para compreender o conhecimento que os alunos representam por meio do recurso tecnológico. No gráfico da figura 7, vemos que 67% dos professores afirmam sentirem-se motivados para usar as tecnologias e 33% não percebem tal fato. Para complementar a 288 II Congresso sobre Tecnologias na Educação (Ctrl+E 2017) Universidade Federal da Paraíba - Campus IV Mamanguape - Paraíba – Brasil 18, 19 e 20 de maio de 2017 questão foi solicitado aos professores que justificassem suas respostas. As justificativas são apresentadas no quadro 1 (abaixo). Figura 7. Motivação para uso das tecnologias Observando o quadro 1 (abaixo) nota-se que entre os professores que se sentem motivados para uso das tecnologias, o diferencial é a inovação das aulas, fazendo com que os alunos se tornem mais motivados e interessados pelos conteúdos. De fato, se bem utilizadas, dentro de um planejamento pedagógico, as TDIC podem ser aliadas importantes dos professores. Um simples vídeo pode ser o diferencial em uma aula, tudo vai depender da metodologia e da criatividade do professor. Por outro lado, há também professores que não se sentem motivados para usar as tecnologias (quadro 1 – abaixo), apesar de terem afirmado que receberam algum tipo de formação para uso das TDIC. A desmotivação se dá por falta de material apropriado, falta de recurso digital apropriado para a disciplina, máquinas obsoletas e em quantidade insuficiente, entre outras dificuldades. Sempre que se propõe a utilizar uma tecnologia digital em sala de aula, tal atividade é um trabalho árduo para o professor. Surgem questões: “Onde encontrar?”, “O que utilizar?”, “Como utilizar?”, “Onde utilizar?”, entre outras. Os estudos de Almeida and Fonseca Júnior (2000) revelam que os professores quando pensam em usar as TDIC, na maioria das vezes, se esquecem da sala de aula, procuram o lugar específico para isso, os laboratórios de informática. Esses autores propõem o contrário, que o professor, a partir de uma mídia escolhida e apresentada aos alunos por meio de um projetor multimídia, realize as atividades em sala de aula. Ao invés de os alunos ficarem “presos” dentro de um laboratório de informática em contato com um software, por exemplo, ele entra em contato com o recurso em sala de aula, dialogando com o professor e seus colegas, problematizando a partir da mídia escolhida. Quadro 1. Justificativa do uso ou não das tecnologias Professor Sim. Por quê? Não. Por quê? P1 - - P2 “Para enriquecer as aulas” “Falta de material apropriado P3 - para utilização” “Enriquecimento das aulas e diferenciar P4 - ambiente” P5 “Nos da a possibilidade de inovar as aulas. - 289 II Congresso sobre Tecnologias na Educação (Ctrl+E 2017) Universidade Federal da Paraíba - Campus IV Mamanguape - Paraíba – Brasil 18, 19 e 20 de maio de 2017 Fazendo com que os alunos se tornem mais inteirados e motivados com as aulas” “Devidos às dificuldades básicas do aluno quanto a disciplina ‘conteúdo P6 - ministrado’ e por não ter encontrado nenhuma ferramenta realmente eficaz na prática pedagógica” “Não existe a quantidade de computadores correspondente P7 - ao número de alunos e também é baixa a qualidade dos aparelhos” “Quando a Internet propicia o uso de forma P8 - rápida e segura” “Porque percebo o quanto facilita a P9 compreensão dos conteúdos, conhecimentos e - atitudes” Analisando o gráfico da figura 8 (abaixo), percebemos que 67% dos professores não se sentem capacitados a fazerem uso da tecnologia em sala de aula, apesar de a maioria (67% – figura 1) afirmar que recebeu algum curso de capacitação para uso das TDIC. De acordo com o quadro 2 (abaixo), os professores não se sentem preparados para uso das TDIC pelas seguintes razões: falta de formação, limitação e pouco conhecimento das TDIC, falta de prática, entre outras. De fato, a formação para uso e a prática no uso das TDIC é fator primordial para que professores possam integrar tais tecnologias em suas aulas. Mas é necessário reconhecer que o domínio instrumental de uma tecnologia, seja ela qual for, é insuficiente para compreender seus modos de produção e incorporá-la ao ensino, à aprendizagem e ao currículo [Almeida and Valente 2011]. Figura 8. Capacitação para uso das tecnologias 290 II Congresso sobre Tecnologias na Educação (Ctrl+E 2017) Universidade Federal da Paraíba - Campus IV Mamanguape - Paraíba – Brasil 18, 19 e 20 de maio de 2017 Quadro 2. Justificativa de capacitação para uso das tecnologias Professor Sim. Por quê? Não. Por quê? “Por que no momento não participei P1 - de nenhuma formação para usar as tecnologias” “Porque não participei de nenhuma P2 - formação para usar as tecnologias” “Sou licenciada em Computação e P3 - especialista em informática educativa” “No momento não participei de P4 - nenhuma formação para atuar com as tecnologias” “Devido já fazer uso contínuo em P5 - outro estabelecimento de ensino” “Sou graduado em licenciatura plena P6 - em computação” “Porque ainda tenho limitações com os programas disponíveis nos P7 - computadores e acessar algumas plataformas” “Já participei de curso de formação continuada acerca das TICs. Porém, P8 - é necessário mais prática, devido ter algum tempo” “Porque tenho pouco conhecimento P9 - dos programas de computador e celular” Um fato interessante percebido no quadro 2 (acima), é que dois professores são formados em Licenciatura em Computação, curso criado para formar profissionais aptos a trabalhar com as TDIC na Educação. Esses professores serão de suma importância para auxiliarem os outros professores durante as atividades de inserção das TDIC na prática pedagógica. Analisando o gráfico da figura 9, percebemos que 89% dos professores consideram que os alunos não têm domínio sobre o uso das TDIC para fins educacionais. Relacionando o gráfico da figura 9 com o quadro 3 (abaixo), pudemos perceber que três professores (P3, P8 e P9) apontam como fator de dificuldade ou desestímulo para usar as TDIC, a falta de interesse dos alunos. Talvez a falta de interesse dos alunos, poderia estar relacionada com o despreparo dos professores em lidar com as TDIC, conforme apontado no quadro 3 (abaixo) pelos professores: P1, P2, P4, P8 e P9. 291 II Congresso sobre Tecnologias na Educação (Ctrl+E 2017) Universidade Federal da Paraíba - Campus IV Mamanguape - Paraíba – Brasil 18, 19 e 20 de maio de 2017 Figura 9. Domínio do aluno sobre a tecnologia Quadro 3. Problemas/dificuldades que impedem o uso das TDIC Professor Problemas/dificuldades P1 1. Falta de preparo. P2 1. Falta de preparo. 1. Falta de material didático; P3 2. Pouco interesse dos alunos para fins educacionais. P4 1. Falta de preparo. 1. Poderia haver em cada sala de aula um computador com data show P5 para facilitar a vida do aluno e do professor. 1. Dificuldades básicas quanto aos conteúdos ministrados; 2. Ausência de ferramentas “aplicativos” eficaz na prática pedagógica; P6 3. Deficiência tecnológica da instituição; 4. Disponibilidade de tempo. 1. Horário disponível para o uso do laboratório de informática; P7 2. Número de computadores limitados; 3. Computadores defasados. 1. Internet lenta; 2. Falta de interesse por parte dos alunos; P8 3. Relacionado à inclusão, desconhecimento de software que trabalha as especificidades das crianças com necessidades educacionais especiais. 1. Falta de recursos; P9 2. Pouca capacitação; 3. Desinteresse dos educandos. Sabemos que a maioria dos alunos já são “nativos digitais”, ou seja, pessoas que já nasceram imersas no mundo tecnologicamente desenvolvido, com acesso ilimitado às informações; isso não significa que eles disponham de habilidades e dos saberes necessários para converter todas as informações em conhecimento [Sancho 2006]. Mais uma vez o papel do professor se torna crucial, necessário, indispensável, na mediação ou correlação entre os conhecimentos da cibercultura preconizados por Lévy (1999) com as da cultura formal (escola). Analisando o quadro 3 (acima), percebemos que além da falta de preparo dos professores e do desinteresse dos alunos, os problemas que mais dificultam/desestimulam ou impedem os professores de usar as TDIC com seus alunos 292 II Congresso sobre Tecnologias na Educação (Ctrl+E 2017) Universidade Federal da Paraíba - Campus IV Mamanguape - Paraíba – Brasil 18, 19 e 20 de maio de 2017 são: falta de material, infraestrutura tecnológica, disponibilidade de tempo, máquinas defasadas, entre outras. Tais problemas levantados pelos professores são discutidos no Brasil e em outros países, pelo menos naqueles que tentam inserir as TDIC no currículo das escolas. Sancho (2006) cita o trabalho do professor Robert McClintock, da Universidade de Columbia. O professor define sete axiomas para converter as TDIC em motor de inovação pedagógica, são eles: 1) infraestrutura tecnológica adequada; 2) utilização dos novos meios nos processos de ensino e aprendizagem; 3) enfoque construtivista da gestão; 4) investimento na capacidade do aluno de adquirir sua própria educação; e, 4) impossibilidade de prever os resultados da aprendizagem. Nos dez anos de participação do professor Robert McClintock em projetos educativos, ficou constatado que apenas é cumprido o primeiro axioma, ou seja, é mais fácil conseguir recursos para comprar equipamentos do que para transformar as concepções e práticas educativas [Sancho 2006]. 3. Planejando o uso da Tecnologia por meio da Tecnologia A proposta de inserção das tecnologias por meio do projeto RPPTDIC parte do pressuposto de que os professores serão os protagonistas, uma vez que são eles que conhecem o ambiente escolar, os alunos, as dificuldades de ensino e aprendizagem, os saberes inerentes ao seu trabalho, entre outros. Procuramos desenvolver o trabalho com os professores, levando-se em consideração os saberes profissionais, disciplinares, curriculares e experienciais trazidos por eles [Tardif 2014]. Não apresentamos a proposta pronta para que eles executassem, lançamos as ideias para construirmos/planejarmos em conjunto o que deveria ser feito. Seguindo essa linha de pensamento nossas ações foram organizadas em três etapas. Na primeira etapa foram realizados encontros para discussão de temas relevantes para despertar o processo de reflexão sobre a prática pedagógica, dentre eles podemos mencionar: a) Dificuldades de aprendizagem; b) A prática pedagógica: modelos pedagógicos e epistemológicos; c) A relação entre tecnologia e educação; d) O “internetês” e a norma culta do português; e, e) Gêneros textuais. Também foram oferecidos alguns cursos de capacitação para a utilização das tecnologias, a saber: a) Internet: técnicas de pesquisa no Google; b) Internet: recursos do Google Drive; e, c) Blog pedagógico – conhecendo e aplicando. Os cursos tiveram como objetivo discutir questões relacionadas à prática pedagógica (ensino e aprendizagem), oferecer treinamento tecnológico aos professores e, por último, analisar/refletir como os professores poderiam utilizar as TDIC em sala de aula. Na segunda etapa propusemos a escrita de um projeto colaborativo para desenvolvimento de um Blog Escolar. Para a escrita do projeto foi proposto o uso do editor de textos (Documentos Google) do Google Drive, o recurso permite a escrita colaborativa online. O objetivo foi fazer com que todos os professores participassem da escrita do projeto utilizando um recurso digital, ou seja, planejar a construção de uma tecnologia (no caso o Blog Escolar) por meio de outra tecnologia (editor de textos 293 II Congresso sobre Tecnologias na Educação (Ctrl+E 2017) Universidade Federal da Paraíba - Campus IV Mamanguape - Paraíba – Brasil 18, 19 e 20 de maio de 2017 online). A ideia foi fazer o professor ir se familiarizando com a tecnologia e, ao mesmo tempo pensar como poderia planejar/construir a outra. Foi montado o escopo do projeto intitulado: Construindo o Blog da Escola “Municipal José Inácio Fraga”, ou simplesmente projeto Blog Escolar com as seguintes sessões: 1. Objetivos (Geral e Específicos); 2. Justificativa; 3. Metodologia; 4. Recursos; e, 5. Cronograma. Por meio do e-mail do subprojeto: rpptdic@gmail.com foi compartilhado para todos os professores o arquivo com todas as partes do projeto Blog Escolar que seria construído. Alguns professores tiveram dificuldade em acessar o seu Drive (espaço reservado no seu e-mail para acessar os recursos do Google), embora tenham recebido curso de capacitação para isso. Os professores com dificuldades foram auxiliados por nós (coordenadores) e pelos seus colegas que já sabiam acessar o Drive. As seções do projeto Blog Escolar foram trabalhadas em dois meses, nas reuniões semanais na escola. Por mais que se estivesse sendo utilizado um recurso online, as discussões/sugestões/alterações nas partes do projeto foram realizadas presencialmente (cada professor em sua máquina na sala de reuniões da escola), uma vez que os professores ainda não têm autonomia suficiente para utilizar o recurso digital em casa. A ideia é introduzir a cultura digital aos poucos até que se torne comum para todos eles a utilização das TDIC. Figura 10. Interação online com participante ausente no local Na primeira reunião para desenvolvimento do projeto Blog Escolar ocorreu um fato interessante, um dos coordenadores não pode estar presente na escola. Ao iniciarmos a escrita dos Objetivos (Geral e Específicos), todos ficaram surpresos ao perceberem que o coordenador (ausente) estava participando online das discussões, uma vez que o documento estava compartilhado com ele. A ideia realmente foi essa, mostrar como um recurso online pode diminuir as distâncias e que não é preciso estar no local físico para participar das reuniões/discussões. Os professores começaram a interagir com o participante que não estava presente no local (figura 10 – acima). Na primeira reunião foram definidos os Objetivos (Geral e Específicos) do projeto Blog Escolar, a saber: Geral – Construir um Blog Escolar que vise a interação entre comunidade escolar e comunidade externa, criando um espaço que propicie a construção coletiva do conhecimento, estimulando a interdisciplinaridade e multidisciplinaridade; e, Específicos – i) ampliar os espaços das atividades escolares; ii) introduzir os alunos nas atividades mediadas pela tecnologia; iii) divulgar as 294 II Congresso sobre Tecnologias na Educação (Ctrl+E 2017) Universidade Federal da Paraíba - Campus IV Mamanguape - Paraíba – Brasil 18, 19 e 20 de maio de 2017 atividades escolares realizadas; e, iv) estimular o professor a criar o Blog de sua disciplina. A partir de objetivos bem claros, discutimos nas reuniões subsequentes a Justificativa, a Metodologia, os Recursos e o Cronograma. Os professores se mostraram bem participativos, muitos já não tinham dificuldades em abrir o Drive, acessar o arquivo e escrever dentro dele. Todos queriam participar, mesmo que às vezes tinham de ser instigados para isso. O trabalho foi demorado, pois não queríamos dar as respostas, pelo contrário, suscitávamos os questionamentos, as reflexões, as dúvidas, etc. A seção Metodologia foi a mais difícil de ser elaborada, pois foi preciso deixar claro que o trabalho seria realizado pelos professores e que esse trabalho precisaria ter envolvimento dos alunos. Era preciso saber selecionar e validar as informações que veiculariam no Blog Escolar, uma vez que esse será um espaço online oficial da escola e, que a comunidade externa terá acesso às informações. Na terceira etapa (em andamento), a partir do projeto escrito Construindo o Blog da Escola “Municipal José Inácio Fraga” será materializado o Blog Escolar por meio do recurso digital Blogger do Google (https://www.blogger.com/). A ideia é utilizar o e- mail da escola (caso ela não tenha e-mail do Gmail, esse será criado). Para a criação do Blog Escolar teremos a participação de uma acadêmica do curso de Licenciatura em Computação da UNEMAT – Campus Universitário de Alto Araguaia, a qual participa do projeto RPPTDIC e têm grande experiência com blogs educativos, visto que já trabalhou em outro projeto com esse fim. O processo de criação técnica de um blog atualmente não toma mais que dez minutos. Com um pouco de paciência, com certeza encontraremos aquele que mais se ajusta ao nosso nível de interesse. O que verdadeiramente é difícil e dá trabalho é dar ao blog um verdadeiro sentido educativo [Barlam 2012]. Nesse sentido, os professores participarão de todas as etapas de construção do Blog Escolar, não só com o fornecimento das informações, mas também na escolha do layout, nas configurações, na organização, na seleção e postagens das informações, antes e depois da criação do Blog Escolar. Esperamos que o Blog Escolar seja o canal online educacional da escola e que este trabalho possa motivar os professores a criarem também os blogs de suas disciplinas. 4. Resultados Preliminares e Considerações Finais Os resultados do projeto RPPTDIC até o momento indicam que os professores acreditam ser importante o uso das TDIC em sala de aula, a maioria deles se sente motivado para utilizar as TDIC, mas por outro lado, muitos deles não se sentem preparados para integrar as TDIC em sua prática pedagógica. O despreparo dos professores está relacionado à falta de: capacitação, infraestrutura tecnológica, tempo, interesse dos alunos, recursos adequados às disciplinas, entre outros. Mesmo com todos esses apontamentos, os professores têm se mostrado motivados e interessados pelas atividades do projeto RPPTDIC, nas reuniões realizadas na escola, o número de ausências é irrelevante. Todos os professores são bem participativos, sabem trabalhar em equipe, ajudam uns aos outros. 295 II Congresso sobre Tecnologias na Educação (Ctrl+E 2017) Universidade Federal da Paraíba - Campus IV Mamanguape - Paraíba – Brasil 18, 19 e 20 de maio de 2017 Como em todos os lugares que se tenta implantar as TDIC, há muitas dificuldades, estamos, como muitos, vivenciando tal fato. As reuniões acontecem em uma sala com poucos computadores, insuficientes para todos os professores, nem sempre a internet está boa para navegação, o local não é adequado para cursos de capacitação, o laboratório de informática ainda não está apto para ser usado, pois a escola mudou de um lugar para outro recentemente. Aos poucos estamos inserindo uma cultura digital na escola, sabemos que o processo é demorado, que as dificuldades são muitas, mas trabalhar na forma de projetos de acordo com Almeida and Valente (2012), Almeida and Fonseca Júnior (2000), parece ser uma ótima saída para os percalços. Um projeto educativo para inserir as TDIC na prática pedagógica dos professores, esperando que isso desperte nos alunos o interesse pelos conteúdos curriculares, e que pouco a pouco, a Edusfera possa se aproximar mais e mais da Acnesfera, ou vice-versa. Iniciamos a nossa jornada com discussões sobre o ensino e aprendizagem, começamos a inserir as TDIC por meio de cursos de aperfeiçoamento. Propusemos a escrita de um projeto colaborativo online objetivando planejar a construção de uma tecnologia por meio de outra, instigamos os professores a pensar com a tecnologia. Professores que sequer sabiam como utilizar um recurso online, atualmente já o fazem, alguns com bastante dificuldade é claro! Faz parte do processo. Nossa próxima etapa será a construção e divulgação do Blog Escolar, a materialização do projeto online, pensado e escrito por todos os professores com auxílio das TDIC. Referências Almeida, F. J. de. and Fonseca Júnior, F. M. (2000), Proinfo: projetos e ambientes inovadores, Ministério da Educação, Seed, 1st edition. Almeida, M. E. B. de. and Valente, J. A. (2011), Tecnologias e currículo: trajetórias convergentes ou divergentes?, Paulus, 1st edition. Barlam, R. (2012) “To blog or not to blog, eis a questão”, Computadores em sala de aula: métodos e uso, C. Barba and S. Capella [Org.], Porto Alegre, Penso, p. 228- 242. Lévy, P. (1999), Cibercultura, Ed. 34, 1st edition. Sancho, J. M. (2006) “De tecnologias da informação e comunicação a recursos educativos”, Tecnologias para transformar a educação, J. M. Sancho [et al.], Porto Alegre, Artmed, p. 15-41. Tajra, S. F. (2012), Informática na educação: novas ferramentas pedagógicas para o professor na atualidade, Érica, 9th edition. Tardif, M. (2014), Saberes docentes e formação profissional, Vozes, 16th edition. 296