=Paper= {{Paper |id=Vol-1877/CtrlE2017_AC_27_118 |storemode=property |title=Processo de Transferência de Conhecimento Aplicado em Empresas de Desenvolvimento de Software (Process of Knowledge Transfer Applied in Software Development Companies) |pdfUrl=https://ceur-ws.org/Vol-1877/CtrlE2017_AC_27_118.pdf |volume=Vol-1877 |authors=Williby da Silva Ferreira,Juliana Albuquerque Gonçalves Saraiva,Yuska Paola Costa Aguiar }} ==Processo de Transferência de Conhecimento Aplicado em Empresas de Desenvolvimento de Software (Process of Knowledge Transfer Applied in Software Development Companies)== https://ceur-ws.org/Vol-1877/CtrlE2017_AC_27_118.pdf
                                             II Congresso sobre Tecnologias na Educação (Ctrl+E 2017)
                                                          Universidade Federal da Paraíba - Campus IV
                                                                       Mamanguape - Paraíba – Brasil
                                                                         18, 19 e 20 de maio de 2017



   Processo de Transferência de Conhecimento Aplicado em
          Empresas de Desenvolvimento de Software
 Williby da Silva Ferreira, Juliana Albuquerque G. Saraiva, Yuska P. C. Aguiar
   1
       Departamento Ciências Exatas (DCX) – Universidade Federal da Paraíba (UFPB)
              Rua da Mangueira, s/n, CEP 58.297-000 Rio Tinto – PB - Brasil
               {williby.ferreira, julianajags, yuska}@dce.ufpb.br

       Abstract. Software Engineering is a volumetric area focused on Knowledge
       Transfer (TC), as well as a course of internships in software development for
       undergraduate students. In this context, to investigate the lack of
       formalization/adoption of CT models in software development companies in
       João Pessoa, the bachelor's degree courses in Information Systems of the
       UFPB were applied. Semi-structured interviews were conducted in 9
       companies, resulting in the identification of the adoption of a CT model
       proposed in the literature. It has become noticeable that most companies use
       only some practices defined by the TC models as training, feedback and
       leveling of activities.

       Resumo. A Engenharia de Software é uma área inerentemente voltada à
       Transferência de Conhecimento (TC), assim como a realização de estágios em
       desenvolvimento de software por alunos de graduação. Neste contexto,
       investiga-se a falta de formalização/adoção de modelos de TC em empresas de
       desenvolvimento de software em João Pessoa, aplicado a estagiários do curso
       de bacharelado em Sistemas de Informação da UFPB. Entrevistas
       semiestruturadas foram realizadas em 9 empresas, resultando na identificação
       da adoção de um modelo de TC proposto na literatura. Tornou-se perceptível
       que a maioria das empresas utilizam apenas algumas práticas definidas pelos
       modelos de TC como treinamento, feedback e nivelamento de atividades.

1. Introdução
Com o crescimento global da economia, o conhecimento passou a ser considerado um
recurso estratégico para as organizações, pois estimula a inovação e sustentabilidade
para a empresa. Visando manter vantagem competitiva, as empresas têm buscado
utilizar a Transferência de Conhecimento (TC) como caminho para alcançar seus
objetivos através de uma gestão eficaz e do uso eficiente dos recursos humanos e
tecnológicos. Trautman (2014) define TC como o movimento previsto das competências
adequadas e de informações ao longo do tempo para manter a execução do trabalho
produtiva, competitiva e capaz de concretizar as estratégias de negócios. Segundo Brito
(2015), o conhecimento é difícil de ser transmitido entre pessoas devido a uma dificuldade
de transformar o conhecimento tácito em conhecimento explícito, ou seja, existe uma
carência dos indivíduos conseguirem transferir suas experiências. Além disso, para que se

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                                                          Universidade Federal da Paraíba - Campus IV
                                                                       Mamanguape - Paraíba – Brasil
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torne uma fonte sustentável, é crucial que o conhecimento tácito seja transferido dentro da
organização.
        Neste contexto, a Engenharia de Software (ES) é orientada ao conhecimento e
correlacionada a aspectos humanos, envolvendo indivíduos nas diversas atividades do
processo de desenvolvimento de software. Consequentemente, as empresas de
desenvolvimento de software podem utilizar a TC para estabelecer a troca de
informações entre indivíduos, desde o levantamento de requisitos até a manutenção do
produto implantado. Segundo Ward et al. (2009), o modo como o conhecimento é
transmitido nas empresas necessita ser melhor estudado e compreendido, já que, embora
exista um grande número de modelos e teorias relacionadas à TC, a maioria destes não
foram testados, e consequentemente sua aplicabilidade e importância tornam-se
desconhecidas para as empresas de desenvolvimento de software.
        Por outro lado, de acordo com a Lei no 11.788, “O estágio é o ato educativo
supervisionado, desenvolvido no ambiente de trabalho que visa à preparação para o
trabalho produtivo de educandos”. Ou seja, a ação de aprimorar o conhecimento e
habilidades necessários para a execução do trabalho integralizando teorias e práticas.
Considerando que a realização de estágios curriculares de cursos de graduação é uma
atividade, por definição, voltada à TC, é preciso estudar a troca de conhecimento no
intuito de maximizar a produtividade da empresa e a aprendizagem do estagiário, assim
como melhorar a vivência prática por parte dos alunos. Na visão de Gomes (2015), é
perceptível que, algumas vezes, a TC em estágios ocorre de maneira ineficaz devido à
falta de formalização desses processos.
        Neste sentido, este trabalho analisa a falta de formalização, e seu consequente
impacto, sobre o processo de TC em estágios que acontecem em empresas de
desenvolvimento de software. O objetivo geral é identificar e caracterizar o processo de
TC executado por empresas de desenvolvimento de software que recebem alunos
estagiários do curso de Bacharelado em Sistemas de Informação da Universidade
Federal da Paraíba (UFPB). É importante ressaltar que a análise feita nesta pesquisa foi
baseada em dados obtidos sob a ótica das empresas. Assim, os questionamentos de
pesquisa definidos foram: (QP01) Como é o processo de TC nas empresas de
desenvolvimento de software? (QP02) Como é avaliado o processo de TC de maneira a
garantir que o estagiário obtenha o conhecimento? (QP03) A formação acadêmica dos
estagiários está suprindo a necessidade das empresas de desenvolvimento de software.
(QP04) Existe algum modelo de TC aplicado pelas empresas de desenvolvimento de
software aos estagiários?

2. Metodologia
A pesquisa realizada neste trabalho é classificada como descritiva, uma vez que tem
como objetivo a descrição das características de uma população, fenômeno ou de uma
experiência; exploratória, pois tem como principal finalidade disseminar e conhecer o
problema tornando-o explícito ou hipotético; bibliográfica, por ser ponto de partida de
toda pesquisa desenvolvida com base em material já publicado; e qualitativa, já que
assume uma postura epistemológica interpretativista Gil (2010).

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                                                                      Mamanguape - Paraíba – Brasil
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        O curso de Bacharelado em Sistemas de Informação tem por objetivo a formação
de profissionais para atuar em planejamento, análise, utilização e avaliação de modernas
tecnologias de informação aplicadas às áreas administrativas e industriais. Por estas
características esperadas nos egressos do curso, ele foi escolhido para essa pesquisa,
uma vez que o curso se caracteriza por atuar amplamente no mercado de empresas de
desenvolvimento de software. Adicionalmente, o mercado de trabalho local recruta uma
quantidade significativa de estagiários em Sistemas de Informação, tornando os
resultados deste trabalho potencialmente relevantes nesta região
2.1 Passos Metodológicos
Inicialmente foi realizado um estudo bibliográfico sobre TC, modelos de TC e técnicas
de execução de entrevistas. Em seguida o protocolo de pesquisa1 foi criado e refinado
sistematicamente a fim de propiciar uma possível replicação do estudo desenvolvido. É
importante ressaltar que este foi organizado com base em guias de execução de
entrevistas academicamente aceitos como os de Kitchenham (2001). Para garantir a
melhoria contínua do instrumento de coleta (questionário) e minimizar os problemas
encontrados durante a execução de entrevistas, foi executado um piloto com 4
professores da UFPB que possuíam experiência e/ou participação no processo de
orientação de estágio em desenvolvimento de software. Eles assumiram o perfil das
empresas no intuito de maximizar o refinamento do protocolo antes de realizar a coleta
de dados junto às empresas alvo do estudo. A realização do piloto resultou no ajuste das
perguntas, controle do tempo de execução da entrevista e direcionamento do fluxo de
perguntas a serem aplicadas.
        Em paralelo à execução do piloto, foram levantados os dados que caracterizavam
potenciais empresas a serem sujeitos do estudo. Elas foram escolhidas por terem
recebido alunos de Sistemas de Informação como estagiário para desenvolvimento de
software. Essas informações foram colhidas junto à coordenação do curso que mantém o
registro de todos os estágios executados por alunos regularmente matriculados. Em
seguida, o contato com essas empresas foi estabelecido através de uma carta convite, a
partir da qual buscou-se agendar a entrevista com representante/responsável por
acompanhar os estagiários nas equipes de desenvolvimento de software. Para
concretização do estudo, as entrevistas foram realizadas, posteriormente transcritas e
analisadas.

2.2 Instrumento de Coleta
Adotou-se o método de pesquisa de entrevista semiestruturada, por permitir explorar,
com mais detalhes, o objeto observado. Para Marconi e Lakatos (2011), entrevistas
semiestruturadas são adequadas “quando o entrevistador tem liberdade para
desenvolver cada situação em qualquer direção que considere adequado. É uma forma
de poder explorar mais amplamente a questão e bastante utilizada pois não precisa
seguir uma ordem”. Esse fato justifica a escolha por esse tipo de entrevista, sendo
possível discutir o assunto de interesse de forma abrangente e exploratória, permitindo


1
    https://goo.gl/8L374B
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ao entrevistado fornecer respostas mais espontâneas e ao entrevistador lançar perguntas
complexas para obter informações detalhadas Manzini (2012).
         O tempo de execução de cada entrevista foi de aproximadamente 30 minutos,
incluindo a explanação dos objetivos e metodologia do estudo pelo entrevistador. O guia
de entrevista¹ pré-estabelecido foi utilizado para condução da mesma. O questionário foi
composto por 3 partes: (i) características do entrevistado, (ii) características da empresa
e (iii) questões específicas da realização do estágio. É importante destacar que todas as
entrevistas foram gravadas, sendo estas autorizadas pelos participantes. Adicionalmente,
os entrevistados receberam um termo de confidencialidade garantindo o sigilo dos dados
coletados, assinado pelos pesquisadores.

2.3 Seleção Amostral

Como dito anteriormente, o recrutamento para compor a amostra de empresas a serem
entrevistadas foi feito com base em um levantamento do registro de todas as empresas
que receberam estagiários do curso de Sistemas de Informação desde a homologação do
curso em 2007. Concluído o levantamento, 17 empresas receberam estagiários em
desenvolvimento de software formalmente (com cadastramento junto à
universidade/coordenação do curso). Mesmo com predominância de estágios realizados
em desenvolvimento de software é importante revelar que, de acordo com o documento
disponibilizado pela coordenação do curso, outras áreas de atuação em estágio têm sido
em redes de computadores, teste de software, e realização de atividades inerentes ao
curso desenvolvido em âmbito acadêmico. Além disso, a maioria dos estágios é
classificada como supervisionado obrigatório.
       Considerando o universo de 17 empresas cadastras na coordenação do referido
curso, 9 aceitaram o convite e participaram do estudo voluntariamente. Assim, temos
uma amostra de 53%. Para que um determinado conjunto amostral represente de
maneira satisfatória o conjunto universo que se quer medir, é necessário que ele tenha
um número satisfatório de casos Gil (2010). Para determinação do conjunto amostral
desta pesquisa foi escolhida a fórmula para o cálculo de amostras de populações finitas
onde o conjunto universo não ultrapassa 100.000 indivíduos, mostrada na Figura 1,
onde:
n é amostra calculada
N é população
Z é variável normal padronizada associada ao nível de
confiança
p é verdadeira probabilidade do evento
e é erro amostral

                        Figura 1. Cálculo da amostra necessária GIL (2010)
       Considerando um nível de confiança de 90% e um erro amostral de 20%, seria
necessário a participação de 9 entrevistados. É importante lembrar que o nível de
confiança é a probabilidade de que o erro amostral efetivo seja menor do que o erro
amostral admitido pela pesquisa. Por outro lado, o erro amostral é a diferença entre o
valor estimado pela pesquisa e o verdadeiro valor Gil (2010). Uma observação a ser
considerada é que esta pesquisa aborda uma investigação de campo, lidando com a

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indústria de software que, normalmente, têm horários muito restritos para atendimento,
o que dificulta o acerto de dia/horário para a realização das entrevistas. O que pode
justificar e transparecer a resistência de muitas empresas em participar de pesquisas
acadêmicas.

2.4 Transcrição e Análise de Dados

As entrevistas foram transcritas para planilhas do Microsoft Excel, sendo fonte de dados
para análise qualitativa com auxílio do software NVivo2. Este, além de facilitar a análise
qualitativa dos dados (textuais ou audiovisuais), automatiza a análise de diálogos,
questões abertas e textos diversos.
        Para compreender o funcionamento do NVivo, se faz necessário conhecer os
conceitos de: fonte, nó e codificação. A fonte se refere ao local onde os dados a serem
analisados está armazenado – neste caso, num arquivo .xls; os nós, são atributos criados
para direcionar os discursos (corpus) contido na fonte; e codificação, é a associação
entre a fonte e nó. Foram criados 10 nós com base nas perguntas do questionário
aplicado nas entrevistas, capazes de responder às questões de pesquisa. A partir da
criação desses nós os dados foram codificados e imagens foram geradas para nos
auxiliar na avaliação qualitativa.
        Os nós ‘ComTreinamento’ e ‘SemTreinamento’ abrigaram os discursos da
pergunta do questionário que busca revelar se a empresa possui treinamento para seus
estagiários, e dependendo da resposta tais discursos eram distribuídos nesses nós. Com
esses nós é possível analisar o motivo pelo qual a empresa realiza o treinamento ou não
com o estagiário. O mesmo procedimento foi realizado com os nós ‘ComModelo’ e
‘SemModelo’ para identificar a razão da existência ou ausência de um modelo de TC
aplicado aos estagiários. Levando em consideração que as empresas de desenvolvimento
de software podem se apoiar em feedback para avaliar o desempenho dos estagiários
periodicamente, ao final do projeto ou simplesmente não realizar tal avaliação, foram
criados os nós ‘ComFeedBackContinuo’, ‘ComFeedBackFinal’ e ‘SemFeedBack’ onde
os discursos foram distribuídos conforme características da resposta associadas a um
desses nós. Também foram criados os nós ‘EmpresaEnsina’, ‘EmpresaEspera’ e
‘Formação’ para qualificar os discursos de três perguntas do questionário que
respondessem a QP03.

3. Discussão de Resultados

3.1 Perfil dos Entrevistados
Todos os entrevistados possuem no mínimo ensino superior em sua formação
acadêmica. Estes profissionais, em sua maioria, são graduados em Bacharelado em
Sistemas de Informação e Licenciatura em Ciências da Computação, tornando-os aptos a
exercer funções em desenvolvimento de software e áreas afins. Outras formações


2
    http://www.qsrinternational.com/
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acadêmicas são representadas pelo curso de “Sistemas para Internet e Administração”.
        Os cargos/funções desempenhadas pelos entrevistados foram: desenvolvedor,
engenheiro de software, analista de sistemas, diretor executivo, diretor geral e gerente de
projetos. Outro fator importante identificado no perfil dos entrevistados é o tempo de
vínculo com as empresas em que trabalham atualmente, que para a maioria deles (56%)
é de 1 a 3 anos. Embora tenham pouco tempo de atuação – quando comparado com os
outros entrevistados – esses profissionais ocupam cargos que estão diretamente
relacionados com atividades de desenvolvimento como Engenheiro de Software e
gerente de projetos. Para os entrevistados com no mínimo 10 anos (33%) de atuação em
seus respectivos cargos, eles se identificaram como funcionários públicos ou dono da
empresa. A fatia restante, compondo 11% do participantes, é representada por
profissionais que tem entre 3 anos e 10 anos de vínculo com a empresa.

3.2 Perfil das Empresas
A segunda etapa da entrevista buscou identificar as características das empresas que
foram contempladas na pesquisa. Essa caracterização enfatizou aspectos relacionados à
receptividade aos estagiários e ao perfil de estagiário que a empresa procura e lida
diariamente. Todas as empresas participantes estão localizadas na cidade de João
Pessoa. Apesar de não possui um polo de desenvolvimento de software e não ter um
número expressivo de empresas nessa área quando comparada com capitais nordestinas
como Fortaleza, Recife e Salvador, a capital da Paraíba em sua configuração econômica
e industrial atual já hospeda várias empresas de médio e grande porte na área de
desenvolvimento de software.
        Das empresas participantes dessa pesquisa 66% correspondem ao setor privado
contra 34% atuantes no setor público. Isto é esperado, tendo em vista que as quantidades
de empresas de desenvolvimento de software no Brasil são majoritariamente privadas
Abes (2015). Assim, a amostra que foi coletada apenas reflete o cenário brasileiro. Após
a análise dos dados percebeu-se que as empresas têm buscado contratar estagiários em
desenvolvimento de software não somente por suas habilidades técnicas (como
conhecimento em linguagem de programação, noções de banco de dados e um apurado
raciocínio lógico), mas principalmente por motivação, comprometimento e interesse do
aluno em aprender e não simplesmente cumprir carga horária de estágio. Foi
identificado também que as empresas mantêm convênios com as IES para facilitar a
busca por estagiários dentro das universidades, gerando assim uma colaboração em
determinados aspectos entre a academia e a indústria.

3.3 Resposta às Questões de Pesquisa
(QP01) Existe algum modelo de TC aplicado pelas empresas de desenvolvimento de
software aos estagiários? Para responder essa questão de pesquisa os modelos de TC
existentes na literatura foram utilizados como base de comparação. Apenas um modelo
semelhante ao modelo ABAP Bollin (2011) foi identificado, sendo aplicado apenas por
uma empresa desta amostra. Esta empresa o implantou há pouco mais de um ano e tem
obtido bons resultados com sua aplicabilidade. Neste modelo, alunos são recrutados nas
IES, de preferência devem estar cursando o mesmo semestre, mesmo que seja de

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diferentes cursos da área de T.I. Os alunos participam de um curso de desenvolvimento
de software com duração de 25 a 40 horas, incluindo com atividades práticas que,
normalmente, envolvem o negócio da empresa. Os alunos participantes que obtiverem
os melhores resultados são selecionados para atividades práticas em projetos reais que
estejam em andamento.
        É importante ressaltar que as atividades propostas ainda no período de
recrutamento, seguem um nível crescente de dificuldade, são acompanhadas por um
responsável até que o estagiário consiga desenvolver as atividades independentemente,
possui avaliação periódica e treinamento de um mês. Além disto, é realizado um
treinamento de integração quando o estagiário já está envolvido efetivamente na
empresa, onde o estagiário conhece mais sobre os produtos, objetivos e tecnologias de
projetos em andamento. O intuito da empresa é desenvolver o estagiário e no futuro
efetivá-lo como colaborador. Trecho do ciclo de vida do modelo de TC identificado
pelo discurso do ENTREVISTADO 06: “... o processo que funciona no decorrer do estágio dele
com orientação, acompanhamento das atividades. A gente tem por exemplo, na parte de programação
tem o período quinzenal que a gente avalia o código que ele tá desenvolvendo.”

(QP02) Como é o processo de TC nas empresas de desenvolvimento de software?
Nas empresas restantes não foram encontradas adoções de modelos de TC conhecidos
na literatura. Normalmente, o conhecimento e as informações são compartilhadas de
maneira informal, em período de treinamento, seguidos de práticas como trabalho em
equipe, programação em pares e TDD (Test Driven Development), sendo observado no
discurso do ENTREVISTADO 03: “A gente procura fazer muito programação em pares. Aí ele senta
do lado, a gente fica mostrando como faz as coisas. Na verdade, a gente mostra mais a cara do que a
gente tá fazendo e algumas funcionalidades mais difíceis...”
        As que não apresentaram um modelo de TC geralmente recrutam os estagiários,
o líder da equipe informa suas atividades e função em determinados projetos e o aluno
começa a produzir. Embora não possuam um modelo efetivo, as empresas reconhecem a
necessidade e planos de formalizá-lo de modo a garantir a manutenabilidade produtiva
da empresa, a avaliação e desempenho do aluno. Eles concordam que isso pode
minimizar o período de adaptação dos estagiários, assim como maximizar sua
aprendizagem. Tal recepção do estagiário é discursado pelo ENTREVISTADO 02: “Quando
o estagiário chega logo no primeiro dia o líder da equipe apresenta pra ele uma série de documentos que
ele vai ler pra entender o nosso processo de software e ferramentas que a gente usa.”
        O atual método aplicado por empresas de desenvolvimento de software aos
estagiários tem atendido às necessidades da empresa e corroborado com aprendizagem
dos alunos sem comprometer a produtividade das equipes. As empresas que não
possuem um modelo de TC formalizado geralmente estabelecem o compartilhamento de
conhecimento com os estagiários de maneira que julgam suficientemente eficaz para que
os alunos iniciem suas atividades. Embora não atendam totalmente aos modelos
disponíveis na literatura, as empresas implementam algumas etapas (atividades práticas,
seleção de alunos com melhor desempenho, etc.) desses modelos durante execução do
estágio na empresa como citado pelo ENTREVISTADO 01: “A gente mede também o
desempenho das tarefas que ele tá entregando né? Prazo de realização, qualidade da entrega...”



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                                                                      Mamanguape - Paraíba – Brasil
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        A Figura 2 consistem em uma nuvem de palavras que representa a frequência de
citações das palavras nos discursos dos entrevistados. As palavras mais centrais e
maiores são as mais frequentes, enquanto as palavras que aparecem de menor tamanho e
marginalizadas são menos mencionadas. É possível inferir, portanto, que as palavras
‘estagiário’, ‘empresa’ e ‘desenvolvimento’ aparecem mais vezes nos discursos dos
entrevistados do que a palavra ‘conhecimento’, foco deste trabalho. Isto reafirma o fato
de que as empresas não têm o conhecimento formalizado sobre o conhecimento e sua
transferência nas empresas. Muitas vezes, as empresas acreditam que o processo
completo de TC se dá apenas através da realização de treinamentos. Mais um motivo
pelo qual ‘treinamento’ aparece mais do que ‘conhecimento’.
        Todas as empresas entrevistadas possuem algum treinamento para o corpo de
estagiários, que servem como períodos de adaptação do estagiário na empresa. A
maioria dessas empresas, após o processo de seleção, recebem o estagiário e apresentam
os produtos desenvolvidos, a linguagem de programação utilizada, as tecnologias
adotadas, os projetos em andamento e as atividades que devem ser desempenhadas. Essa
apresentação é, geralmente, conduzida pelo líder da equipe ou gerente de projeto para o
qual o estagiário será alocado. São, portanto, os líderes de projeto que compartilham
com o estagiário o conhecimento e informações necessárias para execução das
atividades, tornando-se o emissor no processo de TC. A Figura 3 mostra como a palavra
“treinamento” aparece nos discursos dos entrevistados como necessidade das empresas
para capacitar/ensinar o estagiário a executar suas funções, como é preconizado pelos
modelos de TC.




  Figura 2. Nuvem de        Figura 3. Pesquisa da palavra “Treinamento” no corpus da
  palavras do corpus                                pesquisa

        O treinamento geralmente se configura como boa prática nas empresas, onde o
estagiário inicia suas atividades com programação em pares. Um membro mais
experiente da equipe compartilha o computador com o estagiário para lhe ensinar a
utilizar tecnologias específicas e entender o produto em desenvolvimento.
Normalmente, essa mesma pessoa atua como supervisor deste estagiário. São sugeridos
materiais de leituras e estimulado o estreitamento da comunicação com os demais
membros da equipe de forma a aumentar e disseminar o conhecimento adquirido pelo
estagiário e a troca de informações na equipe.

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(QP03) Como é avaliado o processo de TC de maneira a garantir que o estagiário
obtenha o conhecimento? Todas as empresas entrevistadas analisam o conhecimento
do estagiário a partir da avaliação de desempenho das atividades entregues. No entanto,
há variação na forma de analisar, podendo ocorrer a cada sprint ou apenas ao final de
cada projeto. Uma prática identificada e realizada no treinamento dos estagiários e
originada da metodologia XP é o TDD. Nela o estagiário desenvolve suas primeiras
atividades com base em testes. O código é revisado por algum membro experiente da
equipe e, conforme o estagiário apresente bons resultados, passa a receber atividades
com maior grau de complexidade. As atividades se baseiam em pequenos ciclos de
repetições, onde para cada funcionalidade do sistema o estagiário cria um teste antes. A
fase de adaptação, geralmente, é de um mês, e o estagiário deve estudar de forma
autônima sobre as tecnologias adotadas.
        No que tange a avaliação periódica, o estagiário recebe as atividades que deve
executar e ao final de cada entrega o líder da equipe se reúne com este para discutir
falhas, melhorias, cronograma, desempenho e contribuição em aspectos positivos e
negativos da sprint. As avaliações periódicas ocorrem conforme o cronograma de cada
projeto, ao fim de cada entrega. Porém, há empresas que adotam a mesma avaliação
apenas ao final do projeto. Ou seja, o estagiário é informado no que falhou, o líder
indica o que pode ser melhorado e como o estagiário contribui para o resultado obtido.
Mas de uma forma geral, o estagiário é avaliado como qualquer outro funcionário da
empresa, sendo ponderado o nível de conhecimento e tempo de serviço, como é possível
observar nos seguintes discursos: ENTREVISTADO 09: “Então, os estagiários acabavam sendo
avaliado da mesma forma, levando em consideração as carga horária e nível de experiência ser menor.”;
ENTREVISTADO 01: “Se ele tá com dificuldade em certos pontos pequenos que isso é normal, pois
ninguém chega sabendo de tudo e o estagiário está aqui principalmente pra aprender...”.
       A Figura 5 (gerada pelo NVivo) representa a proximidade das palavras dentro
dos discursos dos entrevistados. É possível observar que as palavras ‘estagiário’,
‘feedback’ e ‘atividades’ normalmente aparecem juntas nos discursos, comprovando que
há sim feedback aos estagiários ao final de cada tarefa concluída. Além disso, as
palavras ‘passadas’, ‘avaliação’ e ‘encerramento’ têm uma correlação, demonstrando
mais uma vez que ao encerrar uma atividade, o estagiário normalmente passa por uma
avaliação do seu supervisor para que haja um acompanhamento do seu avanço.




             Figura 5. Mapa de Palavras dentro dos nós referentes a Feedback

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(QP04) A formação acadêmica dos estagiários está suprindo a necessidade das
empresas de desenvolvimento de software? Todas as empresas concordaram que
universidades têm formado bons profissionais para estágio e revelam que os alunos
selecionados para essas empresas têm apresentado base teórica enriquecedora. No
entanto, a carência em experiência prática, mesmo que mínima, ainda é uma grande
queixa presente, como por exemplo no discurso do ENTREVISTADO 03: “Eles chegam aqui
muito carentes de experiência. A gente percebe que a universidade ela não está dando aos estagiários
uma visão de mercado.”
        Por outro lado, segundo os participantes da pesquisa, a maioria dos graduandos
demonstram facilidade e capacidade de aprendizagem no ambiente de trabalho, seja com
novas tecnologias ou no que tange aos aspectos humanos. As empresas de
desenvolvimento de software demonstram expectativa em receber estagiários com
conhecimento em linguagem de programação, bom raciocínio lógico,
comprometimento, facilidade de aprendizagem, conduta profissional adequada, bom
relacionamento com a equipe e base teórica significativa para troca de conhecimentos
com a empresa.
        Entretanto, essas empresas especificaram que propiciam aos estagiários além do
uso de ferramentas e em alguns casos, tecnologias, “o relacionamento com o cliente”,
cenário que só pode ser vivenciado no mercado. Embora a academia tenha buscado
aplicar simulação de mercado dentro de projetos na graduação, ainda não foi possível
alcançar o cenário idealmente esperado, pois essa experiência os estudantes só
conseguem adquirir durante o período de estágio nas empresas. Isto pode ser observado
no discurso do ENTREVISTADO 05: “A cobrança do cliente, como você dobrar o cliente e mostrar
que uma coisa pode ser melhor que outra, mas esse relacionamento com o cliente vem mostrando pro
estagiário.”

4. Trabalhos Relacionados
Betz (2012) realizou um estudo de investigação com base em entrevistas com
especialistas, considerando seis projetos de desenvolvimento offshore de software
outsourcing para clientes alemães. Foram identificados problemas conhecidos na TC
que podem ocorrer com projetos de outsourcing offshore. Como resultado do estudo,
um catálogo de soluções avaliadas e recomendações mapeadas para projetos de
desenvolvimento offshore de software outsourcing.
       Já Gomes (2015) executou um estudo a fim de verificar os modelos de
Transferência de Conhecimento para estagiários da UFPB. Objetivou a identificação da
falta de informação e formalização sobre o processo de TC para os estagiários.
Considerou empresas de desenvolvimento de software, sob perspectiva do estagiário. E
concluiu que, apesar de existirem modelos nessas empresas, esses não são formalizados
e por vezes são adotados sem o prévio conhecimento da existência de um processo já
definido na literatura sobre transferência de conhecimento.
       Brito (2015) buscou identificar e organizar em conceitos-chave os elementos que
influenciam a transferência de conhecimento em processos de desenvolvimento de
software no contexto de contratações. Realizou-se uma revisão sistemática de literatura,
aplicando a estratégia de busca Quasi-Gold. Como resultados foram identificados os

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elementos de influência na TC e sua derivação. Conclui-se que há baixo volume de
trabalhos no tema e que transferir conhecimento não é algo determinístico, visto que
está associado a crenças e valores pessoais, variando de pessoa para pessoa e em suas
capacidades e competências.
       Os autores citados obtiveram bons resultados em suas pesquisas relacionadas à
TC, e este trabalho corrobora com a área de pesquisa ampliando informações sobre o
tema. Ademais, este traz benefícios tanto para indústria quanto para a academia, pois
consegue demonstrar que as universidades, algumas vezes, não conseguem simular
dentro de sala de aula um ambiente real que demonstre a necessidade crucial do estágio
para a formação acadêmica-profissional. Adicionalmente, este trabalho mostra que há
carência de informação sobre modelos de TC e a efetividade de sua aplicação nas
empresas de desenvolvimento de software.
5. Considerações Finais
Após a análise e discussão dos resultados tornou-se mais perceptível a falta de
formalização sobre o processo de TC em estágios de desenvolvimento de software
aplicados em empresas do setor. Embora tenha-se identificado um modelo de TC
adotado em uma das empresas contempladas no estudo, semelhante ao modelo ABAP,
este não é aplicado criteriosamente como sua proposição na literatura. As demais
empresas utilizam um processo informal de TC e adotam frequentemente boas práticas
(trabalho em equipe, programação em pares, TDD), enquanto treinamento, capazes de
compartilhar informações suficientes para que o estagiário possa realizar as atividades
corretamente sem comprometer a produtividade da empresa, nem o desempenho da
equipe.
       Outro aspecto importante é o processo que garante a aprendizagem do estagiário
durante sua colaboração na empresa. Todas as empresas entrevistadas destacaram a
importante realização de avaliação e feedback para o estagiário, seja ela contínua ou no
final do estágio, bem como a realização de treinamento mesmo que informal,
objetivando potencializar seu aprendizado. Esses aspectos importantes, guiados por um
modelo formalizado, pode contribuir para potencializar a produtividade da empresa e
diminuir a curva de aprendizado e consequente o período de adaptação do estagiário na
equipe de desenvolvimento.
       Como trabalhos futuros há necessidade de replicação do mesmo estudo sob
perspectiva mais ampla. Além disso, experimentos e estudos de casos são demandados
para avaliar e validar os modelos de TC já propostos na literatura. Adicionalmente,
adaptações a esses modelos devem ser estudados para ajustar esta TC de acordo com os
escopos dos projetos, tamanho das equipes e processos adotados nas empresas.

Referências Bibliográficas
Abes (2015), Mercado Brasileiro de Software: panorama e Tendências, Associação
  Brasileira das Empresas de Software, São Paulo.



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