Estudo Exploratório sobre Interoperabilidade no Ecossistema SIGA: Uma Análise das Dimensões do ePING Juliana Fernandes1 e Rodrigo Santos2 1 Instituto Federal do Piauí, IFPI, Campus Campo Maior, Piauí, Brasil 2 PPGI, Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, UNIRIO, Rio de Janeiro, Brasil juliana.fernandes@ifpi.edu.br, rps@uniriotec.br Abstract. Given the growing exchange of resources, artifacts and information based on a social web environment, the design and development of information systems should ensure high levels of connectivity, communication and interac- tion. An analysis of technical, human and organizational factors can help re- searchers and practitioners to better specify, manage and evolve such systems, especially in the context of software ecosystems (SECO), in which interopera- bility is relevant for technology and environment alignment as well as for al- lowing human interaction in the development of computational systems. In this paper, we present an exploratory study about interoperability in the Integrated Water and Environmental Resources Management System (SIGA) based on a segment established in politics and specifications of the Brazilian Electronic Government Interoperability Standard (ePING). We investigated whether and how technical, human and organizational factors that affect interoperability in a SECO are part of ePING, more specifically regarding the “Organization and In- formation Exchange” segment. Keywords: Software Ecosystems, Humans Factors, Interoperability, Social Web, Systems-of-Information Systems. 1 Introdução Os softwares de sistemas de informação (SI) estão atualmente imersos em um contex- to cuja tendência é a interação entre si, o que requer uma alta interoperabilidade, que é a capacidade de diferentes sistemas e tecnologias se comunicarem, trocarem e usarem informação [1] [2]. Estabelecer interconexão entre sistemas é fundamental para a web social, pois esse tipo de fator motiva a criação de novas funcionalidades baseadas no desenvolvimento colaborativo. Nesta configuração, os SIs fazem parte de uma estru- tura de sistemas de larga escala denominados Sistemas de Sistemas de Informação (SdSI) [3] e que, associados por meio da interoperabilidade, favorecem a criação de novas funcionalidades e artefatos. SdSI são compostos por SI pré-existentes, com grande potencial para inovação e criação de novos negócios [3], em que cada SI de um SdSI forma um ecossistema de software (ECOS) [2]. Anais do VIII Workshop sobre Aspectos da Interação Humano-Computador na Web Social 13 2 Nesse contexto, além de questões técnicas, os desafios já existentes no desenvol- vimento de software se combinam com questões econômicas e sociais [4]. Logo, ex- plorar fatores técnicos, humanos e organizacionais de ECOS se torna necessário para melhorar a concepção, gerenciamento e evolução de sistemas que devem ser interope- ráveis, ou seja, capazes de estabelecer condições de interconexão com demais siste- mas de um ECOS e com a sociedade em geral. A interoperabilidade é relevante para alinhar tecnologias e ambientes, mas, sobretudo, viabilizar interações humanas no desenvolvimento de sistemas computacionais [5] [6] [7]. O objetivo deste artigo é apresentar um estudo exploratório sobre interoperabilida- de no Sistema Integrado de Gestão Ambiental e Recursos Hídricos (SIGA) com base nos Padrões de Interoperabilidade de Governo Eletrônico (ePING) [5]. Para isso, foram investigados se e como cada fator que influencia a interoperabilidade no ECOS está contemplado em um dos segmentos estabelecidos nas políticas e especificações dos padrões de interoperabilidade do ePING, mais especificamente o segmento de Organização e Intercâmbio de Informações que trata do aspecto de Tratamento e Transferência de Dados. O trabalho está estruturado nas seguintes seções: a Seção 2 apresenta a fundamentação teórica relacionando conceitos de ECOS, SI, SdSI, intero- perabilidade e os padrões do ePING; a Seção 3 apresenta uma visão geral do SIGA, sistema alvo do estudo exploratório; a Seção 4 expõe o estudo exploratório e os resul- tados da investigação; e a Seção 5 apresenta as considerações finais deste trabalho. 2 Fundamentação Teórica 2.1 Ecossistemas de Software Diversos conceitos podem ser aplicados para caracterização de um ECOS. Para Jan- sen et al. [1] um ECOS é um conjunto de atores e artefatos, internos e externos a uma organização ou comunidade, que trocam recursos e informações, centrados em uma plataforma tecnológica comum e que afeta os processos de tomada de decisão. Santos et al. [4] define ECOS como uma forma eficaz de construir software a partir de uma plataforma tecnológica comum (por exemplo, sistema operacional, base de ativos de software etc.), compondo aplicações e tecnologias desenvolvidas por múltiplos atores (desenvolvedores de terceiros, comunidades e organizações). Além disso, um ECOS compreende uma tecnologia central ou um conjunto de componentes utilizados para além de uma única empresa que reúne várias partes para um objetivo comum de ne- gócio ou de desenvolvimento, ou para resolver um problema comum [7]. Pesquisas focam na identificação de como o conjunto de elementos que forma um ECOS tem gerado impacto nos diversos processos organizacionais, que, por sua vez, depende de fatores técnicos e organizacionais influenciados pelos fatores humanos [2]. Nesse sentido, Santos et al. [2] analisaram uma lista de 15 fatores técnicos, hu- manos e organizacionais intrínsecos ao desenvolvimento de software no contexto de ECOS (Tabela 1), trazendo à tona interesses como a interoperabilidade [3]. A análise dos fatores deste trabalho permite compreender que, na concepção de produtos, siste- mas e soluções, fatores humanos podem representar um ponto central na interoperabi- lidade, visto que determinam como as interações com tecnologias, ambiente e demais Anais do VIII Workshop sobre Aspectos da Interação Humano-Computador na Web Social 14 3 elementos humanos são aplicados em ECOS, bem como consideram que fatores téc- nicos e organizacionais são diretamente influenciados por tais fatores humanos. Os fatores listados nesse estudo apoiam a compreensão do contexto de ECOS e, a partir deles, o conceito de interoperabilidade pode ser melhor explorado em softwares de SIs. Para ratificar a necessidade atual de conectividade, os SIs estão profundamen- te envolvidos com esta tendência [3] e, embora continuamente se apresentem como elementos centrais, novas relações também podem ser estabelecidas para aumentar ganhos em produtividade, considerando dimensões técnica, de negócio e social [3]. Os fatores listados em [2] expõem a relação entre estas dimensões e, a partir disso, entende-se que estas dimensões não se desassociam pois, questões técnicas que po- dem envolver escolhas de arquiteturas adotadas nas concepções de SIs, por exemplo, podem influenciar de forma positiva ou negativa os modelos de negócios adotados neste processo e, com isto, gerar impacto nas redes sociais que se formam durante a concepção destes SIs. Nesse cenário, pesquisas sobre como compreender, descrever e analisar as relações entre sistemas, ecossistemas e os fatores humanos que os permei- am são relevantes [3]. Tabela 1. Fatores que afetam os ECOS. Fonte [2] Fator Descrição F1 Diversidade de organizações e relações de um ECOS F2 Estímulo de desenvolvedores externos a utilizarem uma plataforma central F3 Compartilhamento de conteúdo, conhecimento, problemas, experiências e habilidades F4 Melhoria na reutilização de software no cenário da engenharia de software globalizada Reposicionamento das organizações para agirem como atores em rede e reduzirem a sua força F5 de trabalho interna F6 Diversidade das novas funcionalidades fornecidas aos clientes F7 Transparência F8 Projeto modular de sistema F9 Abertura da organização F10 Definição de características internas relacionadas à saúde e à estabilidade do ECOS F11 Escopo e fronteiras do ECOS bem definidos F12 Identificação de capacidades e relacionamentos entre atores do ECOS F13 Definição clara de processos F14 Fortalecimento do caráter comunicativo inerente à programação F15 Observância às características dos domínios de aplicação Os 15 fatores identificados e sumarizados em [2], que embasam este estudo, são provenientes da combinação de fatores discutidos em alguns trabalhos de referência previamente publicados na literatura. Nesse sentido, tais fatores servem de suporte para a melhor compreensão e análise das relações entre sistemas, ecossistemas e os fatores humanos em sistemas computacionais, podendo se aplicar à web social. Anais do VIII Workshop sobre Aspectos da Interação Humano-Computador na Web Social 15 4 2.2 Softwares de Sistemas de Informação No contexto de ECOS, é importante compreender conceitos que se referem a softwa- res de SI, uma vez que estes elementos, como Graciano Neto et al. [3] citam, têm sido associados por meio da interoperabilidade para criar novas funcionalidades, formando sistemas de larga escala denominados SdSIs. Logo, um SI é um conjunto de compo- nentes inter-relacionados que coletam/recuperam, processam, armazenam e distribu- em informações [8] em prol de um objetivo comum. Esta estrutura se define em ter- mos de software, hardware, pessoas, processos, políticas, dentre outros elementos [3]. Muito embora o conceito de sistemas não esteja restrito a software, neste artigo, SI é utilizado neste sentido. Um SI dentro de uma estrutura de SdSI (e formando um próprio ECOS como expõe Graciano Neto et al. [3]) deve ser concebido de forma a viabilizar interoperabilidade em ambientes distribuídos e abertos e também deve se adaptar dinamicamente a mudanças de cenários que negócios e a relações sociais às quais estão suscetíveis. 2.3 Sistemas de Sistemas de Informação e Ecossistemas de Software SIs juntos fazem parte de uma estrutura de sistemas de larga escala denominados SdSIs, com grande potencial para inovação e criação de novos negócios [3]. Nesta configuração, cada SI de um SdSI forma um ECOS [2]. Para exemplificar elementos que podem ser considerados em um SI, comumente destacamos software, pesso- as/usuários, infraestrutura de hardware e rede e os processos organizacionais que envolvem as regras de negócio de um SI [8]. Esse conjunto de elementos pode ser observado em trabalhos como o de Graciano Neto et al. [3], que destacam que ECOSs também costumam ser definidos em termos de software (a plataforma), hardware, pessoas, políticas etc., criando assim uma linha tênue entre os dois conceitos e considerando que cada SI tem em si um ECOS pró- prio. Estas considerações nos dão embasamento para entender que uma plataforma de SI estabelece associações diretamente relacionadas pela interoperabilidade que existe entre cada SdSI, indo além dos aspectos técnicos que um deles apresenta. Sendo assim, interoperabilidade é apresentada como a capacidade de diferentes sis- temas e tecnologias se comunicarem, trocarem e usarem informação [9]. Esse fenô- meno criou uma nova maneira de estabelecer relações entre pessoas, empresas e sis- temas, impondo novas exigências tecnológicas [3], sobretudo em domínios governa- mentais. Ao fornecer serviços e informações aos cidadãos, surge a necessidade da interconexão entre SIs diferentes, o que culmina na demanda por explorar o ecossis- tema que se forma em torno dos artefatos que os associam [10] [11]. 2.4 Interoperabilidade Existem iniciativas de padronização para a interoperabilidade em diversos países, como se observa em [12] [13]. No Brasil, podemos destacar o ePING – Padrões de Interoperabilidade de Governo Eletrônico –, que define um conjunto mínimo de pre- missas, políticas e especificações técnicas que regulamentam a utilização da Tecnolo- Anais do VIII Workshop sobre Aspectos da Interação Humano-Computador na Web Social 16 5 gia de Informação e Comunicação (TIC) na interoperabilidade de serviços de Gover- no Eletrônico, estabelecendo as condições de interação com os demais poderes e esfe- ras de governo e com a sociedade em geral [5]. O ePING é concebido como uma es- trutura básica para a estratégia de governo eletrônico, aplicada ao Governo Federal – Poder Executivo [5] e, segundo [12], baseia-se no e-GIF – Government Interoperabi- lity Framework – que, pela constante evolução, tem se tornado referência de padrão de interoperabilidade em governo eletrônico. Muito embora estes padrões não sejam obrigatórios para os sistemas de outras esfe- ras de governo ou privadas, eles colaboram na concepção de sistemas onde a interope- rabilidade entre tecnologias, ambientes e interações humanas são objetos de interesse. Com base no documento de acesso público disponível em [5], as áreas cobertas pelo ePING estão segmentadas em (i) interconexão, (ii) segurança, (iii) meios de acesso, (iv) organização e intercâmbio de informações e (v) áreas de integração para governo eletrônico. As políticas gerais do ePING fundamentam as especificações de dimensão técnica, semântica e organizacional, além de orientar os órgãos em suas soluções de interoperabilidade. A dimensão técnica, como consta em [5], amplia o acesso aos SIs por meio de qualquer tecnologia que se mostre mais adequada dentre as tecnologias disponíveis e elenca a escalabilidade como a capacidade de atender alterações de demanda no sis- tema, tais como mudanças em volumes de dados, quantidade de transações ou quanti- dade de usuários. A dimensão semântica trata entre outros aspectos, dos recursos da organização de informação que podem ser desenvolvidos colaborativamente por pes- soas com conhecimento na área específica e/ou com metodologias de modelagem específicas e desenvolvimento e adoção de políticas de disseminação de dados e in- formações. Por último, a dimensão organizacional trata das interações do governo com a sociedade de forma simples e direta, promoção da colaboração entre organiza- ções e garantia de privacidade de informação. Segundo consta em [5], a arquitetura ePING foi segmentada nas cinco áreas com a finalidade de organizar as definições dos padrões. Para cada um dos segmentos, foi criado um grupo de trabalho, composto por profissionais atuantes em órgãos dos go- vernos federal, estadual e municipal, especialistas em cada assunto. Esses grupos foram responsáveis pela elaboração desta versão da arquitetura, que é base para o estabelecimento dos padrões de interoperabilidade do governo brasileiro. Os cinco segmentos citados foram subdivididos em componentes, para os quais foram estabele- cidas as políticas e as especificações técnicas a serem adotadas pelo governo federal. Para investigar se e como os fatores que influenciam a interoperabilidade no SIGA estão contemplados nos padrões do ePING, foi realizado um estudo exploratório em um ECOS real explorando o segmento Organização e Intercâmbio de Informações. Este segmento, conforme [5], aborda os aspectos relativos ao tratamento e à transfe- rência de dados nos serviços de governo eletrônico e inclui padrão de vocabulários controlados, taxonomias, ontologias e outros métodos de organização e recuperação de informações. O segmento escolhido pode tratar as ligações de interoperabilidade que Graciano Neto et al. [3] consideram que devam ser estabelecidas entre diferentes SI para criar novas funcionalidades e para explorar ou criar oportunidades de negócio que acontece como resultado de alianças inter-organizacionais e cooperação. Anais do VIII Workshop sobre Aspectos da Interação Humano-Computador na Web Social 17 6 Neste seguimento, as especificações técnicas listam os componentes que são (A) adotados, (R) recomendados, (T) em transição e (E) em estudo no ePING, tanto para Tratamento e Transferência de Dados, para Especificações para Organização e Inter- câmbio de Informações – Vocabulários e Ontologias, bem como para Padrões de Inte- roperabilidade em Saúde (conforme Portaria Nº 2.073, de 31/08/2011). No entanto, para o escopo deste trabalho, o estudo exploratório investigou os componentes no tocante ao Tratamento e Transferência de Dados (Tabela 2). Tabela 2. Componentes do Tratamento e Transferência de Dados. Fonte [5] Componente Especificação Situação XML (Extensible Markup Language), como A definido pelo W3C: http://www.w3.org/XML C1. Linguagem para JSON (Javascript Object Notation), como defini- intercâmbio de A do pela IETF: http://www.ietf.org/rfc/rfc4627.txt dados CSV (Comma-Separated Values), conforme A definido pela IETF no RFC 4180 XSL (Extensible Stylesheet Language), como C2. Transformação de definido pelo W3C: http://www.w3.org/TR/xsl A dados XSL Transformation (XSLT), como definido pelo W3C: http://www.w3.org/TR/xslt XML Schema, como definido pelo W3C: - XML Schema Part 0: Primer http://www.w3.org/TR/2004/REC-xmlschema-0- C3. Definição dos dados 20041028/ A para intercâmbio - XML Schema Part 1: Structures http://www.w3.org/TR/xmlschema-1/structures - XML Schema Part 2: Datatypes http://www.w3.org/TR/xmlschema-2/datatypes C4. Informações Estruturação de Dados Geoespaciais Vetoriais georreferenciadas – (EDGV), como definido pela CONCAR R catálogo de feições C5. Especificação para GTFS (General Transit Feed Specification), informações de como definido em: R transporte público https://developers.google.com/transit/gtfs/ C6. Especificação para GTFS-Realtime, como definido em: informações de https://developers.google.com/transit/gtfs- E transporte público realtime/ em tempo real C7. Metadados para Perfil de Metadados Geoespaciais do Brasil E Informações georreferenciadas (Perfil MGB), como definido pela CONCAR Anais do VIII Workshop sobre Aspectos da Interação Humano-Computador na Web Social 18 7 3 O Caso do SIGA O SIGA é um sistema corporativo em ambiente web que oferece informações sobre processos de licenças e outorgas do Estado do Piauí que tramitam na Secretaria Esta- dual do Meio Ambiente. Todos estes processos geram uma série de dados e informa- ções que são de interesse para sistemas de outros órgãos municipais, estaduais ou federais. Os dados vêm das informações da abertura de processos no órgão e de web services de troca de dados entre outros órgãos públicos integrados. A exportação para outros sistemas estaduais se dá pelo envio de arquivos XML para um aplicativo (bro- ker) responsável pelo recebimento, armazenamento e distribuição para os demais órgãos integrados. Na esfera federal, o SIGA consome dados do Sistema de Cadastro Ambiental Rural e envia dados para o Portal Nacional de Licenciamento Ambiental, do Ministério de Meio Ambiente, e envia/recebe dados do CNARH (sistema da Agência Nacional de Águas). Como neste estudo SI é utilizado no sentido de software e conforme Graciano Neto et al. [3] expõem que um SI dentro de uma estrutura de SdSI forma um próprio ECOS, o SIGA pode ser entendido como um ECOS. 4 Estudo Exploratório sobre Interoperabilidade no ECOS SIGA a partir do ePING A partir dos 15 fatores identificados por Santos et al. [2], decidiu-se por explorá-los em um caso real, uma vez que os autores realizaram a sua proposição e apontaram a necessidade de sua avaliação em ecossistemas reais como trabalhos futuros. Desta forma, foram investigados que fatores são observados, parcialmente observados ou não observados no ECOS SIGA, bem como quais deles exercem influência sobre a interoperabilidade deste ecossistema. A partir desta investigação, estendeu-se o estudo a fim de explorar dentre os fatores observados, quais estão contemplados, parcialmen- te contemplados ou não contemplados nos padrões do ePING. O estudo foi conduzido por dois pesquisadores com experiência no tema. A motivação do caso real escolhido para conduzir o estudo exploratório se deve principalmente ao fato de se tratar de um sistema de grande porte, sujeito à rápida velocidade de implantação e de evolução para interagir com outros sistemas por meio da troca automatizada de dados e, alinhado a isso, trata-se de um sistema que necessi- ta de efetivas diretrizes de interação com a sociedade. Neste aspecto, a web social apresenta-se como um ambiente que ajuda as pessoas a colaborarem e interagirem para desenvolver SdSIs. Como esta visão está ajudando a comunidade de pesquisa em interação na web social a enxergar aspectos humanos, técnicos e sociais, tais fatores observados no SIGA podem ajudar a manter vivo e ativo um ambiente de web social. Os procedimentos adotados foram realizados em dois momentos, onde o primeiro consistiu em: (1) coletar documentação do SIGA (por exemplo, documento de requi- sitos e classes, entrevista com a equipe e usuários finais); (2) para cada fator de ECOS, para cada pesquisador, analisar se e como ele acontece no SIGA; (3) tabular as respostas conforme a observância dos fatores no SIGA; (4) obter consenso; e (5) rea- Anais do VIII Workshop sobre Aspectos da Interação Humano-Computador na Web Social 19 8 lizar análise qualitativa dos resultados. A Tabela 3 sumariza os resultados da análise do primeiro momento realizada pelos pesquisadores, a etapa de consenso para cada fator e se há influência do fator sobre a interoperabilidade no ECOS. Ao acessar a documentação do SIGA e analisar os diagramas de casos de uso, per- cebeu-se que há uma compreensão nos papéis que cada ator exerce no ECOS (F1), inclusive estímulo de desenvolvedores externos ao uso de Linux como plataforma (F2). Ao acessar o diagrama de classe, verificou-se que os modelos do SIGA refletem um projeto modular (F8) visto que há pouco acoplamento técnico entre os elementos constituintes de seu conjunto de funcionalidades. Santos et al. [2] discutem essa ca- racterística como consequência do princípio tradicional da Engenharia a partir do qual o sistema é decomposto em partes gerenciáveis para seu desenvolvimento baseado em componentes. Observou-se ainda que existem fronteiras bem definidas em nível de mercado: em- bora a área ambiental seja o principal setor beneficiado, os dados de atividades rurais e urbanas no estado, por exemplo, embasam tomadas de decisão em nível econômico e social, bem como apoio à elaboração de políticas públicas (F11). Diagnosticou-se a preocupação no uso de tecnologias open-source e multiplataforma (por exemplo, Python, Django, Geoserver, Pycharm, Github). Além disso, embora não haja uso for- mal de Engenharia Semiótica na ‘programação de usuário final’, observou-se que este ator tem participação ativa na promoção de demandas, permitindo que o sistema con- temple características particulares a quem utiliza (F15). Tabela 3. Resultado sobre que fatores de ECOS foram observados no SIGA e se afetam interoperabilidade. Fator Pesquisador 1 Pesquisador 2 Consenso Interoperabilidade ? F1 Sim Sim Sim Não F2 Sim Não Sim Sim F3 Parcial Parcial Parcial Sim F4 Não Não Não Sim F5 Parcial Parcial Parcial Sim F6 Não Sim Não Sim F7 Não Não Não Sim F8 Sim Sim Sim Sim F9 Não Parcial Não Sim F10 Não Não Não Não F11 Sim Sim Sim Sim F12 Parcial Parcial Parcial Não F13 Parcial Parcial Parcial Sim F14 Parcial Sim Parcial Sim F15 Sim Sim Sim Não Foram parcialmente observados os fatores F3, F5, F12, F13 e F14. Observou-se que o compartilhamento de conteúdo é contemplado pelo ECOS em concordância com a exigência de transparência na administração pública. No entanto, o comparti- lhamento de conhecimento, problemas, experiências e habilidades não se destaca pela resistência organizacional. Além disso, não foi observado o reposicionamento de atores internos para agir como atores em rede ou mesmo mecanismos para identificar relacionamentos entre atores. Apesar do forte foco em integração e/ou interoperabili- Anais do VIII Workshop sobre Aspectos da Interação Humano-Computador na Web Social 20 9 dade, não foram observadas verificações em liberações de versões do sistema. Por fim, a comunicação vem se consolidando com a orquestração de produtos e serviços entre os sistemas. Não foram observados os fatores F4, F6, F7, F9 e F10. A carência de desenvolve- dores externos não tem contribuído para o reuso global, embora haja reuso de biblio- tecas para soluções ambientais geoespaciais, por exemplo. Tal carência mantém a indisponibilidade de qualquer tipo de informação relacionada ao desenvolvimento do sistema, pois a secretaria estadual tem processos pouco conhecidos ou não definidos. Isso afeta o diagnóstico de características internas relacionadas à saúde e à estabilida- de do ecossistema. Após análise geral dos fatores do primeiro momento da pesquisa, percebeu-se que F2-9, F11, F13 e F14 influenciam diretamente a interoperabilidade e que, quando combinados, são capazes de fornecer um SI que agregue valor em uma estrutura de SdSI. Segundo Figueira Filho et al. [6], o paradigma da web social pode ser observado na manifestação de uma crescente tendência em explorar, de maneira explícita ou implí- cita, a riqueza dos elos que se firmam com a interação social mediada pelas TICs. Neste sentido, o SIGA possui um portal que pode contribuir para esta demanda e mos- tra-se promissor como um sistema de apoio ao desenvolvimento colaborativo agre- gando valor a uma visão de ecossistemas. No entanto para colocar o SIGA com maior nível de interoperabilidade, é necessário que haja um projeto de reusabilidade de so- luções que envolva desenvolvedores e demais atores externos (F4), incluir o desen- volvimento em app stores para fornecer novas funcionalidades aos clientes e enrique- cer a estrutura de SdSI (F6) e prover mais transparência, disponibilizando informa- ções sobre o processo de desenvolvimento, defeitos e interações entre os envolvidos o ECOS (F7). Além disso, é de fundamental importância tratar o fator que se refere à abertura da organização que, segundo Santos et al. [2], é um fator crítico e envolve aspectos de compartilhamento de conhecimento (F9), bem como tratar as redes de produção de software formadas dentro de um ECOS, focando no seu conjunto de participantes, e os demais elementos que contribuem para a saúde e estabilidade do ECOS, como tamanho, tipo, conectividade etc. (F10). O segundo momento da pesquisa consistiu em: (1) estudar a documentação do ePING disponível em [5], listando as especificações do segmento de Organização e Intercâmbio de Informações; (2) para cada componente deste segmento, analisar se e como ele acontece no SIGA; (3) tabular as respostas conforme a observância dos componentes no SIGA; e (4) realizar análise qualitativa dos resultados. A Tabela 4 sumariza os resultados da análise realizada pelos pesquisadores quando da observân- cia do componente no ECOS. Ao investigar os componentes de interoperabilidade dos padrões do governo ele- trônico no SIGA, percebeu-se que C1, C2 e C3 (componentes adotados pelo ePING) são contemplados no ECOS, visto que há clara prática no desenvolvimento do projeto a utilização das linguagens de intercâmbio de dados XML, JSON e CSV para toda e qualquer necessidade de tratamento e transferência de informação, tanto internamente (na equipe de desenvolvimento) como externamente para atender às demandas e soli- citações provenientes de usuários do órgão estadual. Anais do VIII Workshop sobre Aspectos da Interação Humano-Computador na Web Social 21 10 Tabela 4. Resultado sobre que componentes do seguimento de Organização e Intercâmbio de Informações do ePING estão contemplados no SIGA. Componente Recomendação ePING Contemplados no SIGA? C1 A Sim C2 A Sim C3 A Sim C4 R Parcialmente C5 R Não C6 E Não C7 E Parcialmente Observou-se que C4 e C7, componentes que se referem, respectivamente, a infor- mações georreferencias e metadados para informações georreferenciadas, estão parci- almente contemplados, pois a estruturação e a integração do módulo de sistemas de informação geográficas ainda não foram implantadas no SIGA. Não foram observa- dos os componentes C5 e C6. Ambos se referem à especificação para informações de transporte público e à especificação para informações de transporte público em tempo real. Embora seja de interesse do órgão em promover cada vez mais avanços na inte- ração entre pessoas da sociedade de modo geral e o sistema em um contexto de web social, estes aspectos ainda não foram amadurecidos e tratados segundo a estrutura organizacional do órgão. Diagnosticou-se que, apesar dos componentes C4 e C7 terem sido parcialmente ob- servados e C5 e C6 não terem sido contemplados no SIGA (e apareçam listados nas especificações técnicas), os dois primeiros se enquadram no grupo das recomendações enquanto que os dois últimos ainda estão em estudo. Portanto, não representam o caso de aplicado das políticas gerais do ePING. Logo, no aspecto de conformidade com o documento dos padrões de interoperabilidade de governo eletrônico, o SIGA não destoa das especificações adotadas. Assim, os componentes de interoperabilidade presentes agregam valor no ECOS no sentido de permitir avanços na interação entre pessoas, diferentes sistemas e pessoas e o sistema em um contexto de web social. 5 Considerações Finais O objetivo deste artigo foi apresentar um estudo exploratório sobre interoperabilidade no caso real do ECOS SIGA a partir do ePING. Para isso, foram primeiramente inves- tigados se cada fator que influencia a interoperabilidade no ECOS está contemplado em um dos segmentos estabelecidos nas políticas e especificações dos padrões de interoperabilidade do ePING, mais especificamente o segmento de Organização e Intercâmbio de Informações. Deste segmento, foi investigada a observância dos com- ponentes relacionados ao aspecto de Tratamento e Transferência de Dados. A análise geral dos fatores técnicos, humanos e organizacionais intrínsecos ao de- senvolvimento de software no contexto do ECOS SIGA permitiu verificar que, dentre aqueles que têm influência direta na interoperabilidade, três foram observados (F2, F8 e F11), quatro foram parcialmente observados (F3, F5, F13 e F14) e quatro não foram observados (F4, F6, F7 e F9). Este resultado expõe a necessidade de buscar melhores técnicas de instrumentalização para o tratamento dos fatores que influenciam a intero- Anais do VIII Workshop sobre Aspectos da Interação Humano-Computador na Web Social 22 11 perabilidade em ECOS. A partir disso, a investigação das especificações técnicas estabelecidas nos padrões de interoperabilidade do ePING no segmento de Organiza- ção e Intercâmbio de Informações que trata do aspecto de Tratamento e Transferência de Dados (que têm influência na interação entre elementos humanos, técnicos e orga- nizacionais no contexto de web social) permitiu verificar que: três componentes (C1, C2 e C3) adotados no ePING estão contemplados, dois (C4 e C7) estão parcialmente contemplados e dois (C5 e C6) não estão contemplados no SIGA. Tal resultado expõe a necessidade de uma investigação mais aprofundada dos pa- drões de interoperabilidade do ePING, visto que o documento que estabelece todas as especificações está pautado em várias dimensões e seguimentos que merecem ser explorados em sua totalidade. Dessa forma, busca-se alternativas no tratamento destes componentes em SIs que possam ser concebidos dentro de estruturas de SdSIs operá- veis e capazes de fornecer serviços eficientes e eficazes na interação da sociedade com sistemas em um contexto de web social. Pretende-se assim desenvolver uma técnica para tratar os fatores de ECOS que possam ser aplicados a SI interoperáveis e que estejam de acordo com o ePING. Referências 1. Jansen, S., Brinkkemper, S., Cusumano, M.A. Software Ecosystems: Analyzing and Man- aging Business Networks in the Software Industry. Edward Elgar Publishing (2013). 2. Santos, R. P., Viana, D., Maciel, C. Ecossistemas de Software: Uma Visão sobre Fatores Técnicos, Humanos e Organizacionais. 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