=Paper= {{Paper |id=Vol-2185/CtrlE_2018_paper_43 |storemode=property |title=Há Futuro para o Passado? Experiência Interdisciplinar com TDICs no Ensino Superior(Is There a Future for the Past? Interdisciplinary Experience with TDICs in Higher Education) |pdfUrl=https://ceur-ws.org/Vol-2185/CtrlE_2018_paper_43.pdf |volume=Vol-2185 |authors=Vanessa Spinosa }} ==Há Futuro para o Passado? Experiência Interdisciplinar com TDICs no Ensino Superior(Is There a Future for the Past? Interdisciplinary Experience with TDICs in Higher Education)== https://ceur-ws.org/Vol-2185/CtrlE_2018_paper_43.pdf
Há Futuro para o Passado? Experiência Interdisciplinar com
                TDICs no Ensino Superior
                                     Vanessa Spinosa1
  1
      Departamento de História – Ceres (Universidade Federal do Rio Grande do Norte)

                                clio.spinosa@gmail.com
       Resumen. Este artículo pretende reflexionar acerca de la actuación del
       docente en el uso de tecnologías en el ambiente escolar. Al observar la poca
       utilización e interés de los profesores de Historia, en utilizar TIDCs en la
       producción del conocimiento universitario, proponemos una acción
       metodológica que incluye al discente como protagonista en la confección de
       materiales digitales de Historia durante las asignaturas de Historia Moderna
       y de América. El desarrollo de esta experiencia interdisciplinaria y sus
       resultados serán expuestos en este trabajo. La intención es contribuir con el
       debate en torno al uso de la tecnología, en pos de la autonomía de los
       educandos, en el ambiente formativo en que están inmersos.



       Resumo. Este artigo pretende refletir sobre a atuação docente no uso de
       tecnologias no ambiente escolar. Ao observar a baixa utilização e interesse
       dos professores de História, em utilizar TDIC’s na produção do conhecimento
       universitário, propomos uma ação metodológica que inclui o discente como
       protagonista na confecção de materiais digitais em História, durante os
       cursos de História Moderna e da América. O desenvolvimento desta
       experiência interdisciplinar e seus resultados serão expostos neste trabalho. A
       intenção é a de contribuir com o debate em torno do uso da tecnologia na
       busca pela autonomia dos educandos, no ambiente formativo em que estão
       inseridos.

1. Tecnologias e o Ensino de História
“Para os seres humanos, a ciência e a tecnologia são imprescindíveis à sobrevivência
(...) o homem terminou por mudar a realidade e por construir uma sociedade voltada
para a ampliação dessa dominação (da natureza)”. O professor Arnon de Andrade,
catedrático e importante educador da academia, anunciava sobre a conexão histórica da
relação Homem, natureza, ciência e tecnologia. Para lembrar, talvez, a nós leitores,
sobre essa existência perene para os humanos, da ciência e da tecnologia. Então, há um
passado nessa relação homem tecnologia. E isso se opõe claramente a uma intenção de
aliar uma geração de sujeitos tecnológicos e outra avessa à tecnologia. Sempre
estivemos conectados à ciência e à técnicas por diversos caminhos. Tivemos tanta
certeza de sua eficiência para nossa sobrevivência no planeta, que levamos isso para
outras gerações de forma sistematizada, através da Educação. Mas, se a perspectiva do
uso da tecnologia no passado nos ajuda a pensar sobre ela no presente, será que o
passado abriu perspectivas para ser ajudado a repensar seu uso no futuro?




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        Andreas Fickers, em 2012, anunciava em seu artigo “Historicism? Doing
History in the Age of Abundance”(p.07), que “se as futuras gerações de historiadores
querem manter essa competência chave no âmbito de sua disciplina e de seus hábitos,
eles vão precisar desenvolver habilidades na ciência da computação, na análise de
imagens digitais e em tecnologias de rede”. E, nesse sentido, por mais complexo que
seja alcançar o nicho significativo de professores de História que há no país, algo deve
ser movimentado.
       Sobretudo porque, se a educação muda, o papel do professor muda. Mas, será
que os docentes do ensino superior estão sensíveis a mudança de paradigmas sobre o
processo de ensino e aprendizagem do século XXI? Não seguiremos ouvindo que o
mais fundamental é que saibam produzir fichamentos, que consigam ler a obra completa
do autor X ou Y, para que sua erudição realmente seja plena? Como nos inspira Arnon
de Andrade, é fundamental que o professor enfatize “a busca pela credibilidade da
informação, a formação da consciência crítica, a formação do produtor de conteúdo, o
desenvolvimento de competências no uso de muitas linguagens, o modelo da ética nas
relações sociais e humanas” (ANDRADE, 2003, p. 02).
        Contudo, professores com mais de 10 anos de docência resistem ao uso de
tecnologias ou não tem interesse em aprender (GOMES, 2015). Por outro lado, ver
apenas o lado do manejo das ferramentas para o ensino pode ser algo limitante.
Queremos formar professores de História aptos a manejar dispositivos multimídia e
trocar a antiga tecnologia do quadro e piloto pela projeção em slides? É preciso mais. Se
por um lado é necessário que haja sim, algo mais elementar como uma instrução mais
tutorial sobre o uso de ferramentas digitais, por outro é urgente que haja letramento.
Porque é importante? porque o letramento no meio digital, possibilitará que no
curriculum do historiador esteja contido uma preparação, uma maturação sobre este
meio de comunicar e de produzir conteúdos históricos. O universo digital altera nosso
ofício e nossa prática docente.
        Afinal, “como poderemos ignorar o uso das tecnologias digitais para o ensino de
história, considerando o forte atrativo delas para o ambiente escolar, e que está
disponível, em maior ou menor presença, nas escolas básica e de ensino superior?”
(GUIMARÃES, 2009, p. 37). Mais do que isso: o digital deve ser visto como um campo
de estudo, de lutas e de experiências laboratoriais para investigadores das humanidades.
        Como lembram Anitta Lucchesi e Marcella da Costa, o desejável letramento
crítico digital, portanto, não se limita à habilidade técnica de manusear dispositivos e
programas informáticos-digitais, mas se define pela busca da compreensão da
experiência social inscrita na cultura digital (LUCCHESI: COSTA, 2016). Aqui, ainda
que as autoras estivessem refletindo sobre o olhar crítico do historiador para o mundo
midiático digital como fontes que devem ser questionadas, avaliadas e postas à prova; a
essência é fundamental e coaduna com o que trago aqui: atuar no mundo virtual-digital,
em rede, requer mais do que habilidade técnica. Aliás, como enuncia o professor Arnon
de Andrade “a eficiência de uma técnica não está na sua novidade, mas no seu uso
social ou cultural, no grau de atendimento às necessidades ou aos desejos da
comunidade” (ANDRADE, 2003, p.01). Ao nos inserirmos enquanto historiadoras(es)
nesse ciberespaço, estamos também levando a possibilidade de interação, e com isso,
educação para o meio virtual. Mas, essa ação depende em grande medida da postura
aberta e dialógica do docente. A sensibilidade em avaliar a experiência que os sujeitos




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sociais têm em seu lugar de atuação é o primeiro passo para que o uso de tecnologias
faça maior sentido. Seja como estimulador do uso interativo discente de plataformas já
existentes, seja animando-o a uma postura ativa como produtores do conhecimento
histórico. E assim, como outros letramentos, o conhecimento e atuação no mundo
digital permitirá a este sujeito uma leitura do mundo.


2. Experiencia interdisciplinar
Ao refletir sobre estas demandas atuais no ofício docente de História no Ensino
Superior, foi inevitável observar a carência de ações que trouxessem o uso de
tecnologias para o cotidiano escolar. Era mais importante uma aula expositiva ou
dialogada com os alunos de graduação com auxílio do projetor multimídia e slides ou
era mais importante entender qual a forma de conectar estes discentes com conteúdos
históricos que fizessem sentido para eles, utilizando recursos que também conectassem
com eles?
         Como afirmam Lucchesi e Costa, no artigo “Historiografia escolar digital”, a
construção de um espaço e de uma prática de experimentação responsável, baseada no
diálogo, na negociação e na construção coletiva de experiências de ensino e aprendizado
entre professores e alunos (LUCCHESI, COSTA, 2016). Então, como aproveitar o saber
de cada sujeito que compõe a sala de aula, no que toca sua experiência no mundo
digital, na vida familiar, em sua trajetória pessoal e comunitária?
        A solução encontrada após alguns semestres de observação sobre o que
interessava aos discentes da graduação, foi colocá-los como protagonistas das ações no
processo de ensino-aprendizagem. A partir das Tecnologias Digitais da Informação e da
Comunicação (TDIC’s) que eles tinham maior afinidade, foi possível estimulá-los a
buscar, pesquisar, pensar sobre os temas dos componentes curriculares História
Moderna I e II, História da América I. O desafio era enorme, para os discentes e para os
docentes envolvidos. Era preciso planejar cronogramas, observar quantas equipes
poderíamos formar para o trabalho em ambientes digitais, resolver situações de equipes
que só cursariam a disciplina A ou B, enfim, um planejamento essencial que exigia
cooperatividade e energia de todos os envolvidos.
       Portanto, durante os dois semestres do ano de 2017, o projeto de ensino
desenvolvido na Universidade Federal do Rio Grande do Norte intitulado “‘O futuro do
passado’: as TIC’s e o ensino de História numa perspectiva interdisciplinar”, foi
executado. Ele contou com a participação de dois docentes e de três monitores
coordenando a ação. Os objetivos do projeto foram:
    ● Promover a melhoria do processo ensino-aprendizagem do curso de História, nos
       componentes curriculares de História Moderna I e II e História da América I;
    ● Oferecer  uma experiência interdisciplinar no processo avaliativo dos
       componentes curriculares em História com TDICs;
    ● Estimular os discentes a ter familiaridade com o universo digital e seus recursos
       na construção do conhecimento;
    ● Integrar o aluno-monitor no exercício da prática docente com o novo perfil
       profissional focado nas mídias digitais.




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        Portanto, para trilhar estas metas foram necessárias várias ações prévias, como a
programação de textos e avaliações que os docentes de cada componente daria, para
gerar uma sincronização no cronograma de ambas as disciplinas. Mas, também, algo
mais complexo era fundamental: pensar nos temas de cada unidade, em cada
componente, História moderna I e da América I, para que harmonizassemos as
atividades conjuntas. Nesse sentido, organizou-se a avaliação geral das unidades, sendo
que seus resultados atenderia a ambos componentes curriculares. A primeira avaliação
foi a confecção do projeto nomeado de “produto virtual”. O PPV (projeto produto
virtual) retrataria a organização das equipes já formadas, sobre o tema que cada grupo
queria compor o seu produto final de cursos/disciplinas. Eles deveriam eleger qual a
plataforma que queriam produzir seus conhecimentos, que linguagens iriam utilizar,
qual público alvo gostariam de alcançar e quais os objetivos daquela produção.
       Com esta primeira avaliação das turmas, conseguiu-se organizar 12 equipes.
Eles escolheram uma diversidade de plataformas para produção de seus aprendizados:




                        Figura 01: Equipes Temas links e Notas
        Construíram temas deles em blogs, páginas no Facebook, até propostas mais
inusitadas como um Twitter e um número de WhatsApp para trabalhar sobre História
Moderna e da América. Com esta ação foi possível conectar com os discentes da
graduação, através de uma proposta em que teriam a liberdade de eleger os temas que
abrangessem ambas as ementas e, também, estimulamos a criatividade, para que eles
pudessem gerar um ambiente, dentro de uma plataforma conhecida por eles, para
produções sobre História. E mais, eles estavam elaborando conteúdos em perspectiva
interdisciplinar. Estes discentes, que estavam entre o terceiro e quarto período do curso
de História, foram desafiados a pensar em como compor uma produção que pudessem
trabalhar conteúdos históricos de dois componentes. Eles eram complementares, é certo,
porém, o exercício interdisciplinar, tão requerido nos parâmetros curriculares e presente
nos Planos Pedagógicos dos cursos de graduação, pouco se efetivam na rotina escolar
universitária.
       Esta foi, portanto, uma grande oportunidade tanto para os docentes quanto para




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os monitores e discentes matriculados nos componentes. Sair da zona de conforto e
experimentar novas práticas do ser docente e discente é um risco que se deve correr. A
experiência interdisciplinar em História Moderna e da América foi muito positiva.
Durante as duas unidades seguintes, trabalharam, docentes e monitores em conjunto
com as equipes, no intuito de orientar e promover uma produção de conteúdos
históricos, segundo o planejamento dos projetos que foram feitos na Unidade I.
        Enquanto os textos-base eram trabalhados em sala por cada docente em seu
componente, as equipes tinham a missão de encontrar nos debates e leituras, formas de
compor os seus materiais. Na avaliação da última unidade, houve a reunião das duas
turmas para apresentação dos produtos finais das equipes. Além dos docentes e
monitores envolvidos, foram convidados para a apresentação final alguns professores da
Rede básica, a coordenação do Mestrado Profissional de Ensino de História da
instituição, e uma docente do curso de Tecnologias Educacionais, do Centro de
Educação. Cada um pôde comentar e interagir com os discentes, avaliando os produtos
e orientando para as potencialidades que cada material poderia ter.
        Ao final da unidade, foi possível observar o progresso que cada equipe teve
desde o início dos trabalhos de projeção do que queriam propor, até a exposição final do
que gestaram durante dois semestres. A apropriação do produto final com que
expuseram seus ambientes customizados, mostrava que o processo de construção do
conhecimento havia ocorrido com êxito. Sobretudo porque a maioria das vezes as
turmas noturnas na Universidade, sempre são as que têm menos tempo para estudar e
para elaboração de trabalhos tão especializados como o que se propos. Ainda assim, foi
real a efetividade da produção e da qualidade com que fizeram suas produções de
materiais. Assim, uma vez mais, a tecnologia quando usada a favor do processo de
aprendizagem, mostra-se um mecanismo a mais para a transformação dos sujeitos
sociais envolvidos. No próximo item serão apontados, de forma estrutural, dois dos
materiais elaborados por duas equipes engajadas neste projeto de ensino.


3. Os materiais digitais de História
Dos materiais construídos pelas equipes discentes, selecionamos alguns materiais para
exposição. A ideia é apresentar uma produção de alunos que apenas cursaram o
componetne História Moderna, O Maquiavélico, e outra que trouxesse os temas de
ambos componentes, neste caso incluindo Histporia da América, a Turista Historiadora.

3.1. Tumblr: O Maquiavélico
A equipe projetou suas ideias para execução no microbloggin Tumblr. Segundo o
projeto, o material criado serviria para “apresentar e problematizar as representações de
Maquiavel e de sua obra como produtos de um momento histórico específico, que tem
como função atender às demandas da realidade temporal” (PPV-O MAQUIAVELICO,
2017, p. 02). Focados no público-alvo alunos do ensino médio, a produção traz uma
série de curiosidades e dicas de leituras formuladas a partir das discussões em sala de
aula sobre o período moderno da História. Segundo o projeto justificava, “Maquiavel
será nosso facilitador de conhecimentos, lançando seu olhar crítico e atual (visão
imaginada de uma maneira pessoal e não condizente com a fiel personalidade de
Maquiavel), com a finalidade de aproximar a personagem do público jovem, que verá




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em Maquiavel um usuário das redes e da tecnologia, assim como eles” (PPV-O
MAQUIAVELICO, 2017, p. 02).




                     Figura 02: Post de O maquiavélico – Tumblr
        Ao total, O Maquiavélico teve 17 postagens, todas elaboradas pela equipe sob
orientação docente. Eles não apenas utilizaram os conhecimentos que já tinham a
curiosidade em se aprofundar mais, como o caso a leitura de Maquiavel, como se
apropriaram do que sabiam sobre o uso dos aplicativos que conheciam. Tanto o uso do
Tumblr como plataforma de divulgação dos seus escritos, como o Canva
(www.canva.com), para construção de seus materiais com um design muito mais
atrativo e moderno. O que demosntrou uma preocupação em mostrar os conteúdos
históricos de forma a atrair, efetivamente, o público-alvo do projeto, os adolescentes.
Nesse sentido, O Maquiavélico teve um grande diferencial, aliando ferramentas várias
do conhecimento prévio ou em aprendizagem, para a divulgação de seus aprendizados e
replicadores do saber que estavam construindo dentro dos muros universitários.

3.2. Turista Historiadora
Uma mostra importante, no que toca o aspecto mais interdisciplinar da ação, foi a
experiência de construção de material digital foi na rede social Instagram. A equipe
decidiu compor um roteiro de viagem pelos continentes, que demonstrasse
conhecimento histórico para despertar interesse dos leitores para uma a História da
América e da Europa, conectadas.




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        Segundo os objetivos do Projeto, aspiravam “ser uma ferramenta dinâmica e
atrativa que visa, a partir de uma partilha de experiências e olhares de uma estudante de
História, apresentar ao público em geral e turistas em potencial, o olhar de uma jovem
viajante sobre o Novo Mundo, a partir das “descobertas”, intencionando mostrar quais
as implicações desse olhar europeu sobre o outro no campo das ideias, da economia e do
poder político. Apresentando elementos como a cultura, economia, governos, religiões,
etc., que modificaram as mentalidades, os posts irão se pautar na relação entre os
continentes americano e europeu no contexto da época Moderna, mostrando os aspectos
simbólicos da conquista, a partir da questão do outro” (PPV TURISTA
HISTORIADORA, 2017, p. 01).
       A produção deste material resultou em 20 publicações, com imagens
fotográficas de pontos turísticos, mais ou menos conhecidos, dos continentes
Americano e Europeu. Com as devidas autorizações das imagens utilizadas, a equipe
levava o seguidor a entender um pouco sobre a cultura e a história dos lugares
colonizados e a visão do colonizador, também.




                       Figura 03. Instagram Turista Historiadora
   O material elaborado, além de estar afinado com a proposta principal do projeto
de ensino, ele também se propôs a interagir com públicos distintos, que estão fora
do ambiente escolar básico. A intenção da equipe era precisamente mostrar para
adultos em geral conteúdos históricos que os estimulassem a viagens pela America
Latina e Europa. Além disso, tinham o desafio de pesquisar as imagens com
autorizações diretas dos autores das fotografias, o que demandou deles outras
habilidades, sobre direitos autorais, comunicação com pessoas de atividades não




                                                                                     179
acadêmicas, o que lhe oportunizou uma reflexão maior sobre o que uma produção
de divulgação histórica poderia demandar, na prática.

4. Considerações Finais
A experiência laboral no projeto de ensino executado na Universidade Federal do Rio
Grande do Norte, foi uma mostra de que a Educação é Comunicação. Ela exige
reciprocidade. Como expressou Paulo Freire, “a educação é comunicação, é um diálogo,
na medida em que não é uma transferência de saber, mas um encontro de sujeitos
interlocutores que buscam significação dos significados” (FREIRE, 1983, p. 46). Temos
hoje meios de informação e de expressão e não meios de comunicação. A informação é
entendida como uma acumulação de registros e as diversas linguagens que criamos é a
codificação que fazemos do mundo que interpretamos. Portanto, se temos meios para
utilizar essa codificação e nos expressar não significa que estamos nos comunicando. A
comunicação não é informação. A comunicação é uma ação dialógica, que só pode
ocorrer entre iguais e, portanto, sem estar entremeada por relação de poder. Portanto, se
a Educação não é um ambiente de opressão e sim se liberdade, a comunicação é ação
obrigatória nos espaços escolares, em todos os níveis. Dentro dessa perspectiva,
comunicar é uma ação humana, unicamente humana, que demanda co-participação no
ato de pensar. Então, como é possível implementar uma ação comunicacional e,
portanto, educativa no ensino superior, dentro destes parâmetros?
        Estas foram as inquietações que deram o pontapé inicial em experiências
avaliativas que envolviam o ensino de História. Neste caso, foram sobre História
Moderna e da América, mas poderiam ser da História local, do bairro, do seu estado ou
região. Foi uma oportunidade de promover a interação destes alunos com o mundo
digital, fazendo-os menos consumidores e mais produtores de conhecimentos. Eles se
colocaram como protagonistas das ações, sendo ao mesmo tempo pesquisadores,
professores, educandos e criadores. Assim, puderam ter um uso da tecnologia de
maneira mais responsável, crítica, planejada em cada um dos passos e orientada,
fazendo com que o própria uso dos ambientes virtuais fosse educativo, em si. E, como
futuros historiadores e docentes, terão em suas mãos a possibilidade do uso do
ciberespaço de uma maneira autônoma e mais crítica sobre o que lê e sobre o que
produz.
        Pensar no ambiente universitário como um espaço de lutas e de protagonismo
nas redes digitais é uma ação urgente para os profissionais de Hsitória. Porque, como
afirmam Anitta Lucchesi e Marcela da Costa, é preciso remeter à escrita da história feita
na escola por meio da ação do professor que use de forma crítica do potencial das
tecnologias de informação e comunicação na narrativa de sua aula e à construção de
materiais didáticos digitais que explorem e extrapolem a especificidade deste meio,
levando-se em consideração, inclusive, a participação, a criatividade e a autoria dos
sujeitos posicionados como alunos. (LUCCHESI: COSTA, 2016). Elas propõem
identificar e experimentar as especificidades do digital, em seus limites e possibilidades
e, ao mesmo tempo, pensar como isso afeta o ensino de História em sala de aula, do
nível básico ao superior.
        Portanto, é fundamental que haja um futuro para o nosso trabalho com o
passado. É fundamental que seja emancipador para o aluno, que ele seja alvo de
metodologias ativas e que a tecnologia não seja usada apenas como material
instrucional, unidirecional, mas, como defende o educador Arnon de Andrade, que a



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educação transforme a tecnologia. E, se for pelos caminhos da História, tanto melhor.



Referencias
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Andrade, A. A. M. de.(2003). Ciência Tecnologia e educação escolar. Digitado.
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https://www.instagram.com/turista.historiadora/?hl=pt-br
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Fickers, A. (2012). Towards a new digital historicism? Doing history in the age of
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Freire, P. (1983) Extensão ou Comunicação?, Rio de Jaineiro, Paz e Terra.
Guimarães, M. L. S. (2009). Escrita da história e ensino da história: tensões e
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