Aprendizagem Móvel e o Uso de Aplicativos Educacionais no Ensino Fundamental: Possibilidades para a Formação Docente Rayssa A. Hitzschky¹, Cintia A. Lima¹, Juliana Silva Arruda¹, Liliane Maria Ramalho de Castro Siqueira², José Aires de Castro Filho³ 1 Universidade Federal do Ceará - UFC. 3 Instituto Universidade Virtual - UFC Virtual. {hitzschkyrayssa,arrucintia,julianarruda24,lilianeramalho1609}@gmail.c om, aires@virtual.ufc.br Abstract. This study aims to investigate the influences of the use of Portuguese Language and Mathematics educational applications in teacher education in Elementary School. In total, there were three phases: 1- Study and survey of educational applications of the respective areas; 2- Cataloging the applications from a collaborative process; and 3- Teacher training for the use of applications. The large variety of educational applications available, however, was found with content concentration in the early years. In addition, the training revealed a great interest in the appropriation of mobile devices by teachers, who seek to know the diversity of educational applications for the teaching of specific contents. Resumo. Este estudo busca investigar as influências da utilização de aplicativos educacionais de Língua Portuguesa e de Matemática na formação docente no Ensino Fundamental. No total, foram três fases: 1- Estudo e levantamento de aplicativos educacionais das respectivas áreas; 2- Catalogação dos aplicativos a partir de um processo colaborativo; e 3- Formação de professores para o uso dos aplicativos. Verificou-se a grande variedade de aplicativos educacionais disponíveis, entretanto, com concentração de conteúdos nos anos iniciais. Além disso, a formação revelou um grande interesse de apropriação dos dispositivos móveis pelos docentes, que buscam conhecer a diversidade de aplicativos educacionais para o ensino de conteúdos específicos. 1. Introdução A diversidade de tecnologias digitais observadas nas sociedades contemporâneas tem ocasionado mudanças significativas na dinâmica social. De modo especial, a expressiva disseminação de tecnologias móveis de diferentes naturezas tem repercutido na constituição dos sujeitos, ressignificando, dentre elas, a aproximação entre pessoas, o encurtamento para a interação e comunicação e a flexibilidade de diferentes ações diárias. [NASCIMENTO, 2016] A transposição de barreiras físicas e temporais promovida pelas tecnologias móveis contribuem para uma nova configuração do conhecimento em tempos de cultura digital. O acesso à informação tornou-se mais democratizado e dinâmico, fomentando o compartilhamento de saberes em tempo real e em diversas plataformas. Essas mudanças 323 impactam a organização da escola, “necessitando adequar as suas práticas educativas ao público que é concebido nesse novo tempo.” [HITZSCHKY et al. 2016, p. 212] Diante dessa nova realidade, muitos são os desafios enfrentados por professores ao longo dos processos de ensino e de aprendizagem: a compreensão das possibilidades pedagógicas proporcionadas pelos dispositivos móveis, o processo de busca e escolha dessas ferramentas, bem como a estrutura encontrada nas escolas, principalmente da rede pública. Frente a esse cenário, surge a seguinte questão de pesquisa: Quais as influências das formações para inserção de aplicativos educacionais na práxis docente? Assim, este estudo, fruto de um projeto de extensão, tem como objetivo investigar as influências da utilização de aplicativos educacionais de Língua Portuguesa e de Matemática na formação docente no Ensino Fundamental. Como objetivos específicos, apresenta-se: 1) realizar o estudo e o levantamento de aplicativos educacionais de Língua Portuguesa e Matemática; 2) desenvolver um processo de catalogação de aplicativos educacionais das respectivas áreas; 3) avaliar o desenvolvimento de um curso de formação para professores para uso de aplicativos educacionais em práticas educativas. A pesquisa, de natureza qualitativa, busca enriquecer a literatura acadêmica em volta da compreensão e das possíveis contribuições oferecidas com o acesso e a utilização de aplicativos educacionais no contexto escolar. Ademais, intenta-se fomentar a diversidade de tecnologias móveis para fins educacionais, de modo a apropriar professores para o emprego dessas ferramentas pedagógicas em suas práticas escolares cotidianas. 2. Referencial teórico As questões desenvolvidas nesta seção são consideradas à luz dos seguintes olhares: a aprendizagem móvel, seguida da relação entre a inserção das tecnologias digitais e a formação dos saberes docentes. 2.1. Aprendizagem móvel na escola em tempos de geração Y e Z Nas últimas décadas, a constituição social vem sofrendo alterações marcantes e até então não presenciadas em sua história. A sua configuração, que antes era concebida por meio de mídias e tecnologias impressas, ações estritamente presenciais e tempos determinados para atividades do cotidiano, foi reordenada, de modo que, nos dias atuais, é possível realizar práticas diversas e simultâneas por meio de um único toque (touch) ou uma combinação de vários. A confluência dos dispositivos móveis, delineada a partir da década de 70 com o Dynabook, proposto por Alan Kay, “fez convergir outras formas de sociabilidades na esfera da comunicação e da mídia, promovendo mudanças não só no modo de produção, mas também no modo de compartilhamento do conhecimento.” [MELO; BOLL; 2014, p. 1-2]. Dessa forma, as tecnologias móveis abrangem um diverso rol de aparelhos, englobando além dos difundidos tablets, laptops e smartphones, leitor de livros digitais, consoles portáteis de videogame e equipamentos de áudio. Nesse cenário, a presença das tecnologias móveis adquire contornos significativos e que estão em constante evolução. Percebe-se, entre esse limiar, que as suas funcionalidades são rapidamente substituídas ou aperfeiçoadas por novos dispositivos e, nesse movimento, novos ordenamentos são precedidos, tornando-se alvo de pesquisas e debates. As ações oferecidas por um laptop, por exemplo, foram 324 ajustadas pelos smartphones, por meio da diversidade de aplicações móveis de gerenciamento, localização, comunicação, dentre outras, disponíveis em plataformas operacionais. Diante desse fluxo característico dos dispositivos móveis, instituições nacionais e internacionais demonstram uma preocupação em aprofundar a discussão em torno desses artefatos tecnológicos. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura [UNESCO, 2014], as tecnologias móveis são entendidas a partir das seguintes conceituações: 1) estas podem ser consideradas como aparelhos móveis, compreendendo-as como digitais e portáteis, com capacidade para acesso à Internet e elementos multimídia, facilitando um grande número de tarefas, principalmente, àquelas de comunicação; 2) define-se a tecnologia móvel a partir de sua onipresença. Adentrando a contribuição dos dispositivos móveis para a formação de saberes, percebe-se que, a partir dos aspectos promovidos por esses aparelhos, surge uma nova terminologia para a aprendizagem que, não necessariamente, está vinculada a um local ou espaço temporal específicos. Logo, entende-se esse processo particular de alcance do conhecimento como uma aprendizagem móvel, que é entendida como aquela que “envolve o uso de tecnologias móveis, isoladamente ou em combinação com outras tecnologias de informação e comunicação, a fim de permitir a aprendizagem a qualquer hora e a qualquer lugar.” [UNESCO, 2014, p. 8] Homologada recentemente, a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) considera que o repertório das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) é diverso e que a cultura digital traz mudanças sociais significativas em diferentes âmbitos da sociedade, em particular, o educacional. Afirma, ainda, que diante do “avanço, da multiplicação e do crescente acesso às tecnologias digitais, os jovens têm se engajado cada vez mais como protagonistas da cultura digital, envolvendo-se diretamente em novas formas de interação multimidiática e multimodal e de atuação social em rede.” [BRASIL, 2017, p. 59] A aprendizagem móvel é uma realidade vivenciada de forma direta pelos alunos deste século. Esses discentes estão imersos, desde o seu nascimento, em práticas que empregam tecnologias digitais e, por conseguinte, a escola necessita repensar e considerar essas ferramentas para o contexto de suas dinâmicas pedagógicas. As características peculiares desses alunos, nascidos entre os anos 1982 e 2002, classificam-os dentro da geração Y (ou millennials) e estes apresentam traços como, “a facilidade no uso de novidades tecnológicas, dificuldade com processos cognitivos como a concentração, confiança em realizar atividades simultâneas, saturação de informações e a crença de que sabem tudo. Além disso, estão mais familiarizados com a diversidade do que com o tradicional.” [PRADO, 2015, p. 4]. Nesse mesmo paradigma, também se inclui a chamada geração Z, com alunos nascidos em anos mais recentes. Dessa forma, os dispositivos móveis e as suas contribuições deslocam esforços de investigação para o contexto escolar. Variados projetos e iniciativas fomentam ações que trabalhem com as tecnologias móveis, de modo a ultrapassar a divisão bem posta da sala de aula física. Nesse sentido, a formação de professores é indispensável, tendo em vista que é a partir desse processo formativo e reflexivo que os docentes podem compreender e se apropriar das possibilidades oferecidas por essas tecnologias e suas funções. 2.2. Formação de professores: um caminho vital para a construção de saberes relativos à aprendizagem móvel 325 A diversidade de dispositivos móveis e de suas respectivas funções preconizam contribuições para os processos de ensino e de aprendizagem, contudo, apresentam desafios para a atuação docente e sua prática vivida. Os desafios perpassam a compreensão das ferramentas, o domínio de suas funcionalidades, bem como o olhar pedagógico que pode revisitar a aplicação das tecnologias móveis em sala de aula. Para isso, a inserção desses artefatos deve constituir-se como um processo mais amplo do que o simples acesso aos aparatos tecnológicos, de modo que “a introdução efetiva das tecnologias, parte, inicialmente, da sua aceitação pelos sujeitos escolares, seguida da entrada da escola na realidade das TIC, buscando aprender por meio delas, com elas e em interação com diversos contextos, que extrapolam o ambiente tradicional de ensino.” [MARCOLLA, 2008, p. 1]. Em meio a essa discussão, o professor possui papel crucial para a materialização da aprendizagem. O aprendiz pode entender os conteúdos em sua totalidade, no entanto, o docente deve buscar recursos que proporcionem o desenvolvimento dos meios internos presentes para que a aprendizagem ocorra [NUNES; SILVEIRA, 2008]. Dessa forma, a formação docente torna-se relevante para atender aos anseios dos alunos, estabelecendo uma relação de sentido entre os processos de ensino e de aprendizagem. Carneiro [2015] descreve a re-identidade da educação básica, posicionando-a sob a ótica de inovações tecnológicas e a utilização de tecnologias digitais, tais como o computador. Dentro dessa lógica, os saberes da docência devem ter como pilar principal o domínio de variados tipos de conhecimento de sua área de atuação, incluindo aqueles em torno da cultura digital, pautados em uma perspectiva crítica e reflexiva e da interlocução dos saberes de atuação em sala de aula e da formação profissional docente. Ainda nessa perspectiva, Pimenta [2009] afirma que a formação do professor é também possibilitada por meio de diferentes saberes, entre eles: o conhecimento, os pedagógicos e os experienciais. Os saberes do conhecimento envolvem a formação acadêmica, o desenvolvimento de pesquisas científicas e a formação continuada. Os saberes pedagógicos apresentam interações com a didática e estão interligados ao exercício da docência. E, por fim, os saberes da experiência envolvem a práxis do cotidiano de sala de aula, incluindo a compreensão do entorno e a relação entre teoria e prática, tendo como características a informalidade e a não previsibilidade. Isto posto, é oportuno refletir sobre os saberes que devem ser constituídos para o trabalho com as tecnologias móveis. A formação inicial que envolve os fundamentos e a vivência de uso das TIC, em geral, é fragilizada por diversos fatores, como a fragmentação do currículo, o ensino tecnicista ou a própria escassez de disciplinas que abrangem conhecimentos relativos ao acesso, à diversidade e aos potenciais de utilização das tecnologias digitais. Castro [2013] corrobora com essa constatação, afirmando que há uma carência na formação institucional e educacional do professor, relacionada a fatores como estrutura, aspectos pedagógicos, sociais ou econômicos. Tendo em vista a importância da formação docente para a apropriação das TIC, projetos são dimensionados visando a inserção dos dispositivos móveis na escola. Um deles, que teve papel considerável para as escolas públicas brasileiras, foi o Projeto Um Computador Por Aluno (UCA), iniciado em 2007. “Essa iniciativa teve como objetivo a distribuição de, aproximadamente, 150 mil laptops educacionais para as comunidades escolares, entre mais de quatrocentas escolas públicas. A partir dele, foram realizados projetos específicos, pesquisas científicas e eventos nacionais.” [CASTRO FILHO; SILVA; MAIA, 2015, p. 12]. Outra pesquisa relevante em volta dos dispositivos móveis 326 foi a pesquisa de Nascimento [2016], que teve como escopo a compreensão do uso das TIC para a produção colaborativa na escola e os contextos de aprendizagem. Assim, a inserção das tecnologias móveis mostra-se como um campo que vem redimensionando o contexto educacional. Em meio a essa área que adquire formas e discussões, a realização de iniciativas e projetos em âmbito nacional pode suscitar resultados consideráveis às práticas pedagógicas, a partir de experiências exitosas. Frente a essa conjuntura, a dimensão da formação docente para tal utilização é preponderante, tendo em vista que o professor é caracterizado pela sua função mediadora do conhecimento socialmente construído ao institucionalizado. 3. Procedimentos metodológicos O presente estudo, que tem como objetivo investigar a influência da utilização de aplicativos educacionais de Língua Portuguesa e de Matemática na formação docente no Ensino Fundamental, apresenta uma abordagem qualitativa. Conforme afirma Godoy [1995], a pesquisa qualitativa perpassa o estudo e a análise do mundo empírico em seu ambiente natural, valorizando o contato direto e prolongado do pesquisador com o ambiente e a situação estudada. O estudo é descritivo, como afirma Meira (1994), a qual considera que as ações, os gestos e os discursos do ser humano são fortes influências, por meio de um processo descritivo complexo desses processos interativos. A investigação foi desenvolvida no âmbito de um projeto de extensão, que abordou a aprendizagem móvel no Ensino Fundamental, a partir do uso de aplicativos educacionais das áreas de Língua Portuguesa e de Matemática alinhada à formação docente. O projeto abrangeu três fases: 1) o estudo e o levantamento de aplicativos educacionais de Língua Portuguesa e de Matemática disponíveis na plataforma Android, referendados em critérios de seleção com base em Oliveira et al. [2001]; 2) o processo de catalogação dos aplicativos a partir de um processo colaborativo, por meio de ferramentas on-line do Google Drive e de reuniões quinzenais; 3) oferta de dois cursos de formação de professores, em formato de oficinas, para a utilização dos aplicativos educacionais supracitados. Para a concretização das fases, o projeto foi composto de uma equipe interdisciplinar, com graduandos de licenciaturas em Pedagogia, Matemática e Letras, e do curso de Sistemas e Mídias Digitais, bem como mestrandos e doutorandos em Educação. A primeira fase do projeto ocorreu no ano de 2016, por meio da busca de aplicativos das áreas citadas anteriormente. Para isso, foi realizado o estudo anterior de critérios como, facilidade de uso, recursos motivacionais, adequação das atividades pedagógicas, pertinência do conteúdo, dentre outros. Durante o levantamento, foram englobados conteúdos curriculares diversos, perpassando os anos iniciais e finais do Ensino Fundamental para as disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática. Na segunda fase, entre os anos de 2016 e 2017, foi realizada a seleção dos aplicativos, com base nos critérios atendidos por cada aplicativo. Posteriormente, a catalogação foi iniciada, a partir da estruturação de uma planilha colaborativa do Google Drive com as informações específicas dos aplicativos, tais como autor, link, tamanho, versão e permissões de uso. Ressalta-se que as informações específicas também envolveram os descritores da matriz de referência do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) para contemplar uma avaliação de aprendizagem da rede pública. A terceira fase foi efetivada em 2016 e 2017 com a realização de duas oficinas para professores de escolas públicas, além de graduandos de licenciaturas. Na ocasião, 327 apresentou-se o arcabouço teórico em torno da aprendizagem móvel e a análise de aplicativos educacionais das áreas de Língua Portuguesa e Matemática. Destaca-se que o projeto é de natureza cíclica (Figura 1), posto que a primeira e a segunda fases estão diretamente relacionadas com o fomento à formação docente, inicial e continuada. A ação é cíclica por incorporar o estudo e o levantamento de aplicativos, seguida da catalogação e da formação docente. Posteriormente, novos estudos e levantamentos serão feitos, conforme a avaliação da formação junto ao público-alvo de investigação. O projeto abrangerá uma fase futura de disponibilização dos links dos aplicativos em um repositório educacional digital chamado Ambiente Athena, desenvolvido pelo Grupo de Pesquisa e Produção de Ambientes Interativos e Objetivos de Aprendizagem (PROATIVA), também fruto de um projeto de extensão, aliada à promoção da formação docente. Figura 1. Modelo de desenvolvimento e execução do projeto Desse modo, o projeto empregou tecnologias móveis como tablets, smartphones e laptops, além de desktops. Durante os procedimentos anteriores, utilizou-se como técnica de coleta de dados a observação participante, diários de campo, formulários on- line do Google Drive e registros fotográficos. Os formulários tiveram como objetivo a avaliação das formações oferecidas para mensurar a relevância desses cursos para os docentes. A escolha dos percursos metodológicos, portanto, foram traçados a partir da compreensão de que o levantamento e a catalogação de aplicativos educacionais se torna, efetivamente, um subsídio pedagógico quando realizados simultaneamente com a formação docente. O incentivo dado às situações formativas traduz-se como uma prática que envolve o professor em um processo de aprofundamento e ressignificação dos seus saberes, sob um viés educacional de uso de tecnologias móveis diversas e heterogêneas. 4. Resultados e Discussões 4.1. Primeira fase A primeira fase apoiou-se no estudo e no levantamento dos aplicativos educacionais de Língua Portuguesa e de Matemática. Para isso, delimitou-se que os selecionados seriam gratuitos e disponíveis no sistema operacional Android, buscando a democratização da informação das plataformas com aplicações gratuitas como, por exemplo, a Play Store. Inicialmente, foi realizado o estudo de critérios de seleção para os aplicativos e, de acordo com a leitura e o aprofundamento desse referencial, observou-se as possibilidades pedagógicas oferecidas por esses recursos digitais. Os critérios, à luz de 328 Oliveira et al. [2001], foram os seguintes: 1) facilidade de uso; 2) recursos motivacionais; 3) adequação das atividades pedagógicas; 4) adequação dos recursos de mídia às atividades pedagógicas e aos descritores da matriz de referência do SAEB); 5) interatividade social; 6) fundamentação pedagógica; 7) pertinência e feedbacks do conteúdo; 8) estado da arte do conteúdo; 9) adequação do conteúdo ao público-alvo e ao currículo escolar; 10) variedade de abordagens e trabalho com conhecimentos prévios. Logo, o levantamento englobou uma série de aplicativos educacionais, contudo, alguns não contemplaram os critérios preestabelecidos anteriormente. Ao todo, foram levantados 311 aplicativos. Desse total, 207 foram efetivamente catalogados, incluindo, Língua Portuguesa e Matemática, e 104 foram descartados. Especificamente, foram descartados 46 aplicativos de Língua Portuguesa e 58 de Matemática. Os desconsiderados continham carências em relação às fundamentações pedagógicas e à adequação dos recursos de mídia, e outros apresentavam o seu estado da arte, mais especificamente, os conteúdos e as metodologias didáticas desatualizados. Esse levantamento foi realizado de forma colaborativa, por meio de planilhas on-line do Google Drive, para ambas as áreas. Para isso, duas equipes foram formadas, tendo em vista o aprofundamento de cada área do conhecimento. A convergência entre as informações encontradas era detalhada em reuniões quinzenais, a partir da discriminação do levantamento e de suas principais ações. Essa etapa proporcionou uma visão geral e aprofundada sobre a diversidade de aplicativos educacionais disponíveis. Essa verificação demonstrou que a iniciativa para desenvolvimento e compartilhamento de aplicativos com fins educacionais vem crescendo, de forma que os mesmos não foram esgotados durante as buscas. Em outros momentos, observou-se que novos aplicativos eram inseridos à plataforma agregadora, além da diversidade dos conteúdos curriculares, mostrando que os aplicativos buscam trabalhar com abordagens heterogêneas e difundidas na integralização do currículo. 4.2. Segunda fase A segunda fase foi composta da catalogação dos aplicativos levantados, a partir da revisão dos recursos selecionados, bem como da inserção das informações específicas. Essas informações denominadas de metadados, foram relacionadas ao link, autor, tamanho, versão Android, permissões de uso, solicitadas ao usuário no momento de instalação do aplicativo. Além dessas informações operacionais, a indicação dos autores caracterizou-se como uma preocupação, dando ênfase aos direitos autorais dos desenvolvedores. No que diz respeito à catalogação referente aos aspectos pedagógicos, os aplicativos foram catalogados por disciplina, ano indicado, conteúdo, descritores da matriz de referência do Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) e idioma, pois muitos continham versões em inglês e espanhol. Foram catalogados 207 aplicativos, sendo 117 aplicativos de Língua Portuguesa e 90 de Matemática. Foram abordados diversos conteúdos: em Língua Portuguesa, temas como histórias narradas, formação de palavras, produção escrita, interpretação textual, ortografia, gêneros textuais, conjugação, figuras de linguagem, crase, superlativos, dentre outros (Gráfico 2); em Matemática, temáticas envolvendo números e as quatro operações matemáticas sequência numérica, formas geométricas, noções de tempo, sucessor e antecessor, entre outras (Gráfico 3). 329 Gráficos 2 e 3. Catalogação por temas educacionais de Língua Portuguesa e Matemática Durante a catalogação, observou-se a pouca disponibilidade de aplicativos para os anos finais de Língua Portuguesa, demandando um maior tempo da equipe para a busca. As dificuldades centraram-se, especialmente, no 8º e 9º anos, tendo em vista que a grande maioria dos aplicativos disponíveis eram relacionados à elaboração de redação. Em contrapartida, foi averiguada uma pluralidade de aplicativos para os anos iniciais, voltados para o 1º, 2º e 3º anos, com conteúdos referentes à apropriação da leitura e da escrita. Em relação aos aplicativos de Matemática, verificou-se uma expressiva variedade de aplicativos que trabalham conteúdos como adição, subtração e multiplicação e divisão, voltados para os anos iniciais do 1º ao 5º ano, tendo em vista que estes são conteúdos essenciais para a compreensão dos princípios básicos matemáticos. Contudo, buscou-se priorizar a diversidade de conteúdos, principalmente, para os anos finais do 6º ao 9º ano, que apresentam maiores complexidades em relação aos conteúdos estudados. 4.3. Terceira Fase A terceira fase consistiu da oferta de dois cursos de formação de professores, em formato de oficinas, para a utilização dos aplicativos educacionais catalogados. A primeira oficina ocorreu em 2016 e envolveu 4 professores de Língua Portuguesa e Matemática. Em 2017, foi realizada um outro momento de formação, com 20 participantes, entre professores, em grande parte, pedagogos, e graduandos de licenciaturas, como Letras, Matemática e Pedagogia. Os dados coletados e analisados referem-se à segunda formação, visto que a primeira serviu de base para o levantamento da segunda. A partir da articulação entre teoria e prática, a formação seguiu um cronograma de atividades que iniciava com o contexto de utilização das tecnologias móveis, a partir das conceituações de aplicativo e aprendizagem móvel, e de discussões acerca do uso desses dispositivos na escola. Em seguida, foram trabalhados critérios técnicos e pedagógicos de análise de aplicativos educacionais, alicerçada na matriz de referência do SAEB. A explanação foi encerrada com a análise conjunta, feita entre formadores e participantes, de alguns aplicativos educacionais selecionados previamente. Como momento prático, os cursistas foram divididos em grupos e analisaram aplicativos selecionados de forma colaborativa, com base na primeira parte da formação. Foi compartilhado um documento on-line com sugestões de aplicativos, que foram catalogados pela equipe na segunda fase. Ao final, os grupos apresentaram os recursos selecionados e os critérios utilizados no momento de triagem, tendo oportunidade de 330 aplicar, na prática, o arcabouço teórico e os conhecimentos prévios sobre os dispositivos móveis, percebendo as contribuições e limitações de cada aplicativo (Figura 2). Figura 2. Momento prático de avaliação dos aplicativos educacionais Ainda, foi criado um grupo no WhatsApp para possibilitar a comunicação e a interação entre os participantes da oficina, bem como para a realização de uma atividade individual. Essa proposta de atividade consistia na elaboração de um planejamento pedagógico com uso de um aplicativo educacional. No total, foram desenvolvidos 13 planos de aula, sendo 6 com aplicativos educacionais de Língua Portuguesa, 5 de Matemática, 1 para aprendizagem de idiomas e 1 relacionado ao Ensino Fundamental. Os planejamentos compreenderam uma apreciação acerca dos aplicativos escolhidos em momentos de aprendizagem. A partir de uma leitura apurada dos documentos, os participantes destacaram as seguintes contribuições dos aplicativos para situações didáticas: 1) interação favorável entre usuário e aplicativo; 2) presença de feedbacks que auxiliam na devolutiva das respostas, por meio de conteúdos contextualizados e recursos de mídia, como elementos sonoros; 3) boa funcionalidade, a partir de um layout atrativo e dinâmico; 4) possibilidades de mediação docente, com propostas de revisão; 5) trabalho com a coordenação motora e criatividade; 6) estruturação de gincanas por meio dos aplicativos; 7) podem facilitar a verificação de alunos com dificuldades de aprendizagem; 8) alternativa para ambientes de aprendizagem individuais e coletivos; 9) fonte de pesquisas e consultas; 10) presença de gráficos de desempenho. Todavia, como pontos negativos dos aplicativos selecionados, os docentes ressaltaram questões técnicas, como exemplo, a impossibilidade de retirada dos elementos sonoros e paradas abruptas do aplicativo, além de aspectos pedagógicos, que incluíram a ausência de uma maior especificidade dos conteúdos, particularmente, no que diz respeito à apropriação da escrita. Um quesito relacionado ao emprego de aplicativos em práticas pedagógicas é a assistência dada aos docentes por meio do "guia do professor". Segundo Ana (nome fictício atribuído para preservar a identidade), o aplicativo escolhido por ela necessita de "orientação de como inserir o aplicativo na sua prática”. Essa reflexão levantada pela professora demonstra o quão as orientações pedagógicas para utilização de tecnologias móveis são relevantes, sobretudo, os momentos formativos que trabalham aspectos teóricos e práticos de uso de aplicativos educacionais. Nesse sentido, foi disponibilizado um formulário de avaliação da formação, tendo em vista a compreensão dos conhecimentos abordados para a práxis pedagógica dos participantes. A partir do formulário, no que diz respeito à aplicabilidade, os 331 participantes afirmaram que usariam os aplicativos educacionais explorados durante as atividades da formação. Segundo eles, esses aplicativos facilitam os conteúdos abordados junto aos alunos, como pode ser observado na seguinte fala: Participante 1: Recomendo o aplicativo Representar por frações para facilitar a compreensão do aluno sobre conceitos iniciais de frações, junto com aulas sobre o mesmo tema, ministrado pelo professor em sala de aula. Em relação à análise da formação, os participantes afirmaram que a diversidade de aplicativos trabalhados e a relação entre teoria e prática proporcionaram maiores possibilidades e alternativas de uso dos dispositivos móveis como apoio ao ensino. Ressalta-se que 100% dos participantes afirmaram que tinham interesse em ampliar os conhecimentos relacionados à aprendizagem móvel, o que comprova a relevância do tema e da formação para os integrantes, conforme retrata o Gráfico 3. Gráfico 3. Interesse em participar de outras formações sobre aprendizagem móvel A partir da construção dos planejamentos, verificou-se que os participantes correlacionaram os conhecimentos trabalhados na formação junto aos seus planos de aula, de modo que estes escolheram os aplicativos de forma crítica e apreciativa, conforme os saberes do conhecimento, os pedagógicos e os experienciais [Pimenta, 2009]. Além disso, a análise colaborativa dos aplicativos foi outro ponto significativo destacado pelos participantes, tendo em vista que essa dinâmica estreitou a troca de experiências e proporcionou o enriquecimento de suas práticas. Quando questionados sobre a aplicação dos conhecimentos da formação, 95% afirmaram que aplicariam essas informações em suas aulas e 5 % afirmaram que já usavam, demonstrando que a formação sobre aprendizagem móvel trouxe ganhos significativos para a formação profissional docente (Gráfico 4). Gráfico 4. Análise da aplicabilidade do conteúdo visto na formação 332 Como pontos de melhoria da formação, os participantes enfatizaram a importância de uma maior carga horária destinada ao curso, com encontros presenciais e a distância. Assim, uma quantidade mais expressiva de momentos práticos poderia ser contemplada. Os participantes ressaltaram, ainda, a relevância de formações contínuas, com a possibilidade de compartilhamento de experiências bem-sucedidas realizadas no âmbito de suas práticas. Outrossim, a produção de aplicativos como ferramenta de autoria também foi um interesse de apropriação demonstrado pelos professores e graduandos, no qual foi citado, por exemplo, o Scratch. Dessa maneira, percebeu-se que os participantes da oficina evidenciam o interesse em se apropriar das tecnologias móveis, em especial, de aplicativos educacionais. Diante dos depoimentos informais e da análise do formulário de avaliação, observou-se que os professores tinham proximidade com a temática dos aplicativos, contudo, sentiam a necessidade de vivências teóricas e práticas como forma de empoderamento desta área em constante evolução. A apresentação de uma diversidade de aplicativos gratuitos contribuiu para o conhecimento do leque possível de recursos digitais que podem ser usados em contextos de ensino e de aprendizagem. Além disso, o interesse em realizar uma produção autoral de aplicativos, sobremaneira, comprova a relevância atribuída pelos participantes ao trabalho com conteúdos curriculares específicos, além da possibilidade de aumento da heterogeneidade dos aplicativos encontrados. 5. Considerações finais A pesquisa, com o objetivo de investigar as influências da utilização de aplicativos educacionais de Língua Portuguesa e de Matemática na formação docente no Ensino Fundamental, apresentou um rol de discussões acerca das tecnologias móveis no contexto escolar. Trabalhos, debates e pesquisas anteriores contribuíram para a estruturação e fundamentação do presente estudo, ao verificar situações didáticas com uso de aplicativos em um ambiente que possa facilitar a relação teórica e prática. O levantamento dos aplicativos educacionais demonstrou o grande número de aplicativos gratuitos disponíveis, englobando conteúdos diversos para Língua Portuguesa e Matemática. Contudo, apesar de variados, faz-se necessário que os conteúdos sejam desenvolvidos de forma mais equilibrada entre os anos iniciais e finais do Ensino Fundamental, tendo em vista a maior concentração de conteúdos para os anos iniciais. Além do mais, alguns aplicativos, apesar de apresentarem propósitos educacionais, continham deficiências técnicas, pedagógicas, ou ambas, principalmente, no que se refere à proposição dos conteúdos e à aplicação dos recursos de mídia. A análise realizada durante a investigação evidencia que a experiência de sala de aula do professor aliada à formação acadêmica, a interação com novas metodologias e as formações continuadas facilitam a constituição de novos saberes didáticos. Comprova- se, então, por meio dos depoimentos e das produções dos participantes no decorrer da formação, que a catalogação anteriormente realizada, juntamente com a proposição de análises dos aplicativos de forma contextualizada, auxiliaram na constituição de situações de aprendizagem pelos professores. Com este estudo, portanto, percebe-se que a formação de saberes pelos docentes, e futuros, não pode ser restrita, somente, ao uso de suportes acadêmicos e puramente didáticos sem a interlocução com a vivência prática de sala de aula. A apropriação de conceitos teóricos e do repertório de recursos digitais encontrados na web potencializam o desenvolvimento de situações pedagógicas com uso de tecnologias móveis, fomentando os processos de ensino e de aprendizagem para além da sala de aula. 333 Dessa maneira, como ações futuras desta investigação, pretende-se disponibilizar os links dos aplicativos educacionais catalogados no repositório digital Ambiente Athena, como forma de compartilhar com a comunidade escolar recursos possíveis para a aprendizagem móvel. Fomenta-se, assim, o uso desses aplicativos com diferentes fins pedagógicos e, até mesmo, com vieses interdisciplinares. Referências BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular - Versão final. 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