=Paper= {{Paper |id=Vol-2185/CtrlE_2018_paper_91 |storemode=property |title=Análise do Uso de Dispositivos Móveis para Fins Não Relacionados ao Conteúdo: Estudo de Caso em um Curso de Medicina(Analysis of the Use of Mobile Devices for Non-Content Purposes: Case Study in a Medical Course) |pdfUrl=https://ceur-ws.org/Vol-2185/CtrlE_2018_paper_91.pdf |volume=Vol-2185 |authors=Cláudia Martins Mendes,Marcos Kubrusly,Jessica Mendes De Luca,Hermano Alexandre Lima Rocha,Edgar Marçal }} ==Análise do Uso de Dispositivos Móveis para Fins Não Relacionados ao Conteúdo: Estudo de Caso em um Curso de Medicina(Analysis of the Use of Mobile Devices for Non-Content Purposes: Case Study in a Medical Course)== https://ceur-ws.org/Vol-2185/CtrlE_2018_paper_91.pdf
    Análise do Uso de Dispositivos Móveis para Fins Não
 Relacionados ao Conteúdo: Estudo de Caso em um Curso de
                         Medicina
Cláudia Martins Mendes1, Marcos Kubrusly1, Jessica Mendes De Luca¹, Hermano
                  Alexandre Lima Rocha¹, Edgar Marçal 2
                       1
                     Centro Universitário Christus – Unichristus
      Rua João Adolfo Gurgel, 133, Cocó – 60.190-060 – Fortaleza – CE – Brasil
        2
            Instituto Universidade Virtual – Universidade Federal do Ceará (UFC)
                          CEP 60.440-554 – Fortaleza – CE – Brasil
              claudia_mmendes@yahoo.com.br, mmkubrusly@gmail.com,
            jessicamdeluca@hotmail.com, hermanoalexandre@gmail.com,
                              edgar@virtual.ufc.br
Abstract: In this study we evaluated the use of mobile devices in the classroom for
    non-class-related purposes. To do so, we administered a questionnaire based
    on McCoy (2016) to a group of medical students. The results of respondents
    (n=299) indicate that most of them spend up to 10% of their class time using
    smartphone and access it up to 10 times during a typical school day.
    Admitting this to be a factor of distraction, potentially compromising learning,
    the respondents expressed the belief that smartphone technology may be
    employed as an aid in the teaching-learning process as well.
Resumo. Este estudo visa identificar a utilização de dispositivos móveis digitais
    durante as aulas para fins não relacionados ao conteúdo ministrado. Aplicou-
    se um questionário, adaptado de McCoy (2016), junto a estudantes de
    Medicina. Os resultados de 299 respondentes apontam que a maioria deles
    destina no máximo 10% do tempo da aula com o uso de smartphone e o
    acessam até 10 vezes durante um dia usual de aula. Os estudantes
    reconhecem que o uso de smartphones para fins não relacionados ao
    conteúdo ministrado distrai a atenção e reduz o aprendizado, mas entendem
    se tratar de instrumento que promove melhoria no processo ensino-
    aprendizagem na medida em que também é utilizado para verificar assuntos
    relacionados ao conteúdo da aula.

1. Introdução
As metodologias educacionais compreendem estratégias que contemplam as diversas
formas do ensinar e aprender. Atualmente, considerando que a sociedade vive imersa na
tecnologia, incluindo-se a população jovem estudantil, as instituições educacionais no
Brasil começam a pensar em incluir em seus currículos educacionais as formas de
ensino e aprendizagem que utilizem os meios tecnológicos para tornar os alunos
capazes de oportunizar a construção de atitudes, habilidades e valores necessários para o
uso eficiente da tecnologia no ambiente acadêmico. Assim, busca-se promover a
aprendizagem também por meio de dispositivos móveis digitais (smartphones e tablets),


                                                                                       336
e não apenas como entretenimento e/ou motivo de conflitos entre professores e alunos
em sala de aula [Kobs 2017; Tavares et al. 2007].
        Segundo a Unesco (2013), há uma série de vantagens das quais as tecnologias
móveis, como as dos celulares, podem ser usadas como ferramenta de auxílio dentro e
fora da sala de aula. Nesse documento, consta que as tecnologias móveis podem ampliar
e enriquecer as oportunidades educacionais por meio de uma aprendizagem móvel que
descentraliza o lugar do saber, entendido erroneamente como sendo somente a escola e
a sala de aula. Os dispositivos móveis digitais possuem, muitas vezes, maior poder de
atração para os alunos, em geral um público de adolescentes e jovens, do que o da aula
planejada pelo docente [Lefoe et al. 2009]. Dessa forma, não se pode simplesmente
ignorar fatos como este, e nem o universo tecnológico em que se vive atualmente.
       Os sistemas de ensino estão sendo adaptados para incorporar esses novos
objetos tecnológicos no processo educacional. Nessa linha, Tavares et al. (2007)
comentam que, em sala de aula presencial, a utilização de dispositivos móveis como
ferramenta de aprendizagem pode ser um bom recurso pedagógico para facilitar o
processo de ensino-aprendizagem de um conteúdo, facilitando a construção do
conhecimento dos alunos.
        A inserção dos dispositivos móveis (como smartphones e tablets) nos processos
de ensino e aprendizagem deu origem ao conceito de Mobile Learning (ou m-learning).
Esse paradigma surgiu a partir da utilização das tecnologias móveis e sem fio como
parte de um modelo de aprendizado integrado [Marçal, Andrade e Rios 2005]. Saccol,
Schlemmer e Barbosa (2010) definem M-learning como um processo de aprendizado
apoiado pelo uso de tecnologias móveis e sem fio, em que a mobilidade dos aprendizes
é o ponto central, que pode estar em espaços diferentes e/ou distantes e, ainda assim,
aprender e interagir uns com os outros.
       As instituições brasileiras de ensino precisam reavaliar, urgentemente, os
métodos dos quais se vale para limitar e conscientizar acerca do uso adequado da
tecnologia por parte de alunos e educadores [Mendonça e Guiraud, 2011]. Diversos
autores têm investigado os efeitos do uso de smartphones no processo educacional
[Viana et al 2011; Clayton e Murphy 2016; Reinaldo et al. 2016; Pereira, Kubrusly e
Marçal 2017], obtendo excelentes resultados.
        Em escolas americanas o uso de telefones celulares causa aumento no perfil de
distrações e perda da concentração [McCoy 2016] o que reduz o rendimento e o nível
de aprendizado [Kuznekoff, Munz e Titsworth 2015; Beland e Murphy 2014]. A
tentação ao uso das mídias sociais tornou-se um aspecto proeminente das experiências
acadêmicas dos universitários, tanto dentro como fora da sala de aula [Flanigan e
Babchuk, 2015] e o uso generalizado das mídias sociais e seu potencial para dificultar o
desempenho acadêmico tem recebido a atenção de diversos pesquisadores, confirmando
preocupação crescente dos educadores e de instituições de ensino [Flanigan e Babchuk
2015],
       Embora o uso dos dispositivos móveis digitais seja mais associado a situações
de entretenimento e menos associado a situações de ensino-aprendizagem, existe um
crescente número de plataformas educacionais adaptadas a esses dispositivos. Os
educadores precisam se atualizar sobre como os smartphones podem ser usados de
forma positiva e produtiva nas salas de aula [Clayton e Murphy 2016] e o uso de
smartphones em atividades pedagógicas no campo da matemática já tem demonstrado
                                                                                    337
eficácia aumentada em diversos estudos [Baya'a e Daher 2009; De Lima et al., 2011;
Kalloo e Mohan 2012].
       Considerando o crescente uso desses dispositivos no ambiente acadêmico e do
potencial quanto ao uso de dispositivos digitais móveis em sala de aula, o presente
estudo se propõe a identificar a utilização de dispositivos móveis digitais durante as
aulas do curso de Medicina para fins não relacionados ao conteúdo ministrado.

2. Metodologia
Trata-se de um estudo observacional, transversal, descritivo e de natureza quantitativa,
utilizando como população do estudo alunos matriculados e ativos no curso de
Medicina do Centro Universitário Christus – Unichristus (Fortaleza, Ceará, Brasil), nos
primeiro, segundo, terceiro, quinto, sétimo e oitavo semestres, no período de novembro
a dezembro de 2016.
        Para este estudo foi aplicada uma versão de livre tradução para o português do
questionário validado por McCoy (2016), o qual é dividido em duas partes: a primeira
busca identificar o perfil dos respondentes (gênero, idade, tempo de estudo, período do
curso); e a segunda parte tem ênfase na utilização dos dispositivos digitais em sala de
aula para fins não relacionados às atividades do conteúdo ministrado.
        Os dados do questionário foram tabulados em planilhas do software Excel e
analisados por meio do software IBM SPSS Statistics, versão 23.0.0 (IBM Inc®). Foi
adotado o nível de significância de 5% e utilizado o teste de hipóteses qui-quadrado
para se investigar a associação entre as variáveis categóricas. Para variáveis numéricas,
foi avaliada a distribuição com o teste de Kolmogorov-Smirnov e, após identificada a
normalidade, foi utilizado teste Anova para verificar associação.
        Os riscos envolvidos na pesquisa relacionam-se a constrangimento ou
desconforto dos participantes durante o preenchimento do questionário, momento no
qual o aluno poderia abster-se de responder, conforme Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, assinado pelos respondentes. Cabe destacar que a pesquisa seguiu os
aspectos éticos estabelecidos na Resolução do Conselho Nacional de Saúde n. 466, de
2012, que define as regras da pesquisa em seres humanos e foi aprovado pelo Comitê de
Ética em Pesquisa do Centro Universitário Christus – Unichristus sendo protocolado
com o número 62614816.3.0000.5049.

3. Resultados
A partir da identificação da população foi aplicado um questionário junto aos alunos.
De um total de 400 alunos dos semestres mencionados, 299 responderam o
questionário, conferindo um poder de 80% à amostra, a um nível de significância de
95%.
         A totalidade dos alunos respondentes (299) cursam Medicina em período
integral. Em relação ao semestre no curso, 66 (22,1%) alunos eram do primeiro
semestre; 60 (20,1%), do segundo; 49 (16,4%), do terceiro; 40 (13,4%) do quinto; 50
(16,7%) do sétimo; e 34 (11,4%) alunos eram alunos do oitavo semestre. Quanto ao
gênero, 169 (56,5%) alunos são do sexo feminino e 130 (43,5%) do sexo masculino. A
média de idade é de 21 anos, sendo o desvio padrão de 3,2 anos. Obteve-se diferença
estatisticamente significante em relação ao gênero, sendo p=0,01.


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       Ainda em relação ao perfil dos respondentes, investigou-se a carga horária
semanal voltada aos estudos, excetuando-se o período que está em sala de aula. Os
dados apresentados revelam que 15 (5%) alunos estudam até quatro horas; 39 (13%), de
quatro a seis horas; 41 (13,7%), de seis a oito horas; 56 (18,7%), de oito a dez horas; e
147 (49,2%), acima de dez horas por semana. Um aluno (0,3%) não informou.
        O Gráfico da Figura 1 mostra a frequência com que os alunos utilizam os
dispositivos móveis em sala de aula para atividades não relacionadas ao conteúdo
ministrado. 15 (5%) alunos afirmam que nunca utilizam o dispositivo móvel para fins
não relacionados ao conteúdo da aula; 89 (29,8%), utilizam os dispositivos móveis de
uma a três vezes para acessar conteúdo não relacionado à aula; 108 (36,1%), de quatro a
dez vezes; 65 (21,7%), de 11 a 30 vezes; 22 (7,4%), mais de 30 vezes. Cabe destacar
que um dia usual de aulas do curso de Medicina na instituição pesquisada é de tempo
integral. No estudo de McCoy (2016) com estudantes norte-americanos, o maior grupo
dos respondentes (34,4%) afirmou que utiliza de uma a três vezes, seguido do grupo que
utiliza de quatro a dez vezes (28,5%).




      Figura 1. Frequência com que os alunos utilizam o dispositivo móvel em sala
               de aula para fins não relacionados ao conteúdo ministrado.


         O Gráfico da Figura 2 mostra quais são os principais motivos do uso do
dispositivo móvel para fins não relacionados ao conteúdo da aula. 227 (77,7%) alunos
utilizam para envio de mensagem, 135 (46,2%) acessam redes sociais, 31 (10,6%)
utilizam para envio de e-mail, 104 (35,6%) navegam na web, 200 (68,5%) utilizam para
verificar a hora; 15 (5,1%) para acessar jogos, e 19 (6,5%) para outros fins. Para as
finalidades “acesso a rede social” e “envio de e-mails”, a diferença de idade foi
estatisticamente significante, com maior utilização pelos alunos mais velhos (p=0,002 e
p=0,005, respectivamente).
       As multitarefas na sala de aula são apresentadas por Lee (2015), destacando o
acesso a redes sociais. Os resultados de McCoy (2016) são similares, no que se refere à
primeira finalidade do uso do smartphone, mas diferem quanto às demais. O acesso às

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redes sociais é apontado pelos alunos norte-americanos como a quarta finalidade do uso
de smartphone na sala de aula.
        Os alunos também responderam um item do questionário sobre o tempo da aula
destinado para o uso de dispositivos móveis: 15 (5%) alunos dedicam 0%; 171 (57,4%),
1-10%; 66 (22,1%), 11-20%; 22 (7,4%), 21-30%; 14 (4,7%), 31-40%; 5 (1,7%), 41-
50%; 2 (0,7%), 51-60%; 2 (0,7%), 71-80%; e 1 (0,3%), 91-100%. As variáveis de
tempo entre 60-70% e 81-90% não foram assinaladas. Estes resultados apresentam
diferença estatisticamente significante ao nível de 0,05, com p=0,011, em relação ao
semestre dos alunos, sugerindo que quanto mais avançado for o semestre em curso
(quinto, sétimo e oitavo semestres), menor tempo de utilização do smartphone. O tempo
de uso também é estatisticamente significante em relação à idade (p=0,039), podendo-se
inferir que os estudantes mais velhos tendem a destinar maior tempo ao uso do
smartphone.




         Figura 2. Principais finalidades apontadas pelos alunos para usarem o
       dispositivo móvel com fins não relacionados ao conteúdo de sala de aula.


        A maioria dos alunos destinam no máximo 10% do tempo da aula com o uso dos
smartphones para fins não relacionados ao conteúdo ministrado, enquanto McCoy
(2016) avaliou um tempo médio de 20,9% em estudantes norte-americanos. O grupo de
alunos pesquisados por McCoy (2016) acessam, em média, 11 vezes os smartphones e
os alunos aqui investigados até 10 vezes. Observa-se, portanto, que os alunos do curso
de Medicina acessam os smartphones mais vezes, considerando o tempo da aula, do que
os estudantes norte-americanos analisados por McCoy (2016).
       Em relação às três maiores vantagens de usar o dispositivo na sala de aula, a
maior parte dos alunos (180, ou 60,8%) afirma que é verificar assuntos relacionados ao

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conteúdo ministrado, seguido da vantagem de usar em caso de emergência (160, ou
54,1%), lutar contra o tédio (143, 48,3%), e ficar conectado (127, ou 42,9%). Um quarto
dos respondentes (75, ou 25,1%) relatou a vantagem de ficar entretido. O estudo de
Nagumo (2014) também encontrou como principal finalidade do uso do smartphone o
fato de o aluno estar entediado e a necessidade para a comunicação
        Os respondentes foram indagados sobre as três maiores desvantagens do uso do
smartphone em sala de aula. A quase totalidade dos alunos (271, ou 91,2%) aponta o
fato de não prestar atenção à aula como uma das maiores desvantagens. Para 228 alunos
(76,8%) o uso do smartphone em sala de aula diminui o aprendizado e 77 (29,9%)
julgam que também diminui as notas. Cerca de um terço dos alunos (100) aponta como
desvantagem a possibilidade de ser advertido pelo professor e 57 (19,2%) acreditam que
pode distrair os colegas.
       As vantagens e desvantagens do uso do smartphone em sala de aula são
amplamente discutidas pela literatura. Dentre as desvantagens, destaca-se o efeito
negativo no desempenho acadêmico dos alunos [Beland e Murphy, 2014; Kuznekoff,
Munz e Titsworth, 2015]. Por outro lado, autores apontam a utilização do celular como
um recurso útil de apoio ao processo ensino-aprendizagem [Baya'a e Daher, 2009;
Kalloo e Mohan, 2012].
        Quase um terço dos alunos (99) afirma que o uso de dispositivos digitais durante
as aulas nas atividades não relacionadas à sala de aula causa pouca ou nenhuma
distração do aprendizado. Dos 299 alunos que responderam o questionário, 125 (42,5%)
assumem que causa distração em um nível intermediário e 70 (23,4%) acreditam que o
uso do smartphone causa grande ou muito grande distração. Cinco alunos não
responderam à questão. Houve significância estatística com p=0,034 em relação aos
diferentes semestres dos alunos respondentes. Os resultados apontam que os alunos dos
semestres inicias do curso (primeiro a terceiro semestre) julgam que o smartphone causa
maior distração, comparativamente à percepção dos alunos dos semestres finais.
        Na questão sobre distração do aprendizado quando outro aluno está usando o
dispositivo, mais da metade dos alunos (158, ou 53,6%) afirmam que não se distraem;
99 (33,6%) distraem-se pouco; 28 (9,5%), intermediário; 10 (3,3%) declaram que causa
grande ou muito grande distração. Houve significância estatística com p=0,022 em
relação aos diferentes semestres dos alunos respondentes, apresentando maior
percentual de alunos dos semestres iniciais que acreditam que o smartphone causa
grande distração.
        Quanto aos tipos de distração causada pelo uso de dispositivos digitais durante a
aula para atividades não relacionadas à sala de aula, 233 (79%) alunos identificam a
distração visual, seguida do áudio (75, ou 25,4%). Para 18 (2,7%) alunos não há
qualquer tipo de distração.
       Embora Nagumo (2014) afirme que há, dentre outras desvantagens, a distração
dos alunos e a disseminação de conteúdo inadequado, outros estudos reforçam que
docentes e gestores precisam superar as resistências ao uso de novas ferramentas
tecnológicas e se atualizar sobre o uso dos smartphones de forma positiva, de modo a
contribuir para essa importante peculiaridade do mundo atual [Clayton e Murphy, 2016;
Reinaldo et al., 2016].



                                                                                     341
        Os alunos também declararam sua opinião sobre o uso de dispositivos digitais
durante as aulas para atividades não relacionadas à sala de aula, ao identificar, dentre
algumas alternativas, o item de maior concordância. Os resultados foram: 24 (8,2%)
alunos acreditam “que o uso de meus dispositivos digitais não apresentam distrações e
não alteram minha aprendizagem em sala de aula”; 34 (11,6%) declaram “não utilizo
dispositivos digitais porque podem causar distrações de aprendizagem em sala de aula”;
25 (8,5%) afirmam “posso usar livremente um dispositivo digital sem causar distrações
de aprendizagem”; 18 (6,1%) admitem “eu não consigo parar de usar dispositivos
digitais, mesmo se eles possam causar distrações de aprendizagem”; 193 (65,5%)
asseguram “é minha escolha usar um dispositivo digital quando eu sentir vontade de
usar”. Houve diferença estatisticamente significante, com p=0,009, em relação ao
semestre dos alunos respondentes.
        Mais da metade dos alunos asseveram que os docentes não têm uma política
sobre o uso de dispositivos digitais em suas salas de aula. Os demais alunos que
responderam essa questão, 103 (34,9%), afirmam que a maioria dos professores adota
uma política. Em relação à questão sobre a utilidade de ter políticas que limite o uso de
dispositivos digitais durante a aula para atividades não relacionadas à sala de aula, 97
(32,9%) alunos acreditam que tais políticas seriam úteis; 153 (51,9%) afirmam que não;
e 45 (15,3%) alunos não sabem opinar.
        Quando indagados sobre os dispositivos serem banidos da sala de aula, 7 (2,4%)
alunos afirmam que devem ser banidos, e quase a totalidade, 288 (97,6%) alunos, se
manifesta negativamente. Esse resultado confirma a necessidade de mudanças de
políticas quanto ao uso de dispositivos móveis digitais bem como de maior engajamento
dos docentes para transformar o smartphone em aliado e objeto de construção no
processo de ensino-aprendizagem.
        Em relação ao o que o professor deve fazer se o estudante atrapalhar a aula pelo
uso de dispositivos digitais, 203 (68,8%) alunos manifestam-se favorável a uma
conversa com o aluno, 12 (4,1%) alegam que o docente deve solicitar que o aluno saia
de sala, 80 (27,1%) entendem que o docente deve pedir que o aluno desligue o celular
ou o confisque no período da aula. Houve diferença significativa em relação ao
semestre dos alunos, sendo p=0,014.
        A maioria dos alunos assevera (178, ou 60,3%) que o aluno que é identificado
utilizando dispositivos móveis digitais durante a aula para atividades não relacionadas à
sala de aula deve receber uma advertência. Para 111 (37,6%) alunos, nenhuma
advertência ou punição deve ser adotada, e para 6 (2,0%), deve ter punição sempre. O
resultado foi significativo, com p=0,007, em relação ao semestre dos alunos.

4. Discussão
De forma similar ao apontado pelos alunos da amostra, o estudo de Berry e Westfall
(2015) também revelou ser tênue a linha entre o uso do celular em sala de aula como
benefício e malefício, ou seja, os resultados apresentados pelos alunos pesquisados
pelos autores não conseguem concluir dentre as opções (i) o uso obsessivo prejudicial
de telefones celulares em sala de aula e (ii) o grau de adequação do smartphone de
forma a contribuir no processo de ensino-aprendizado.
      No contexto universitário, o mesmo ambiente da presente pesquisa, Flanigan e
Babchuk (2015) comprovam que a tentação ao uso das mídias sociais tornou-se um
                                                                                     342
aspecto proeminente das experiências acadêmicas dos universitários. Segundo Flanigan
e Babchuk (2015), o uso generalizado das mídias sociais e seu potencial para dificultar
o desempenho acadêmico tem recebido a atenção de diversos pesquisadores e é uma
preocupação crescente dos educadores e de instituições de ensino.
        A partir da análise de entrevistas semiestruturadas, vários fatores foram
relatados como barreiras ao sucesso acadêmico. O uso de mídias sociais durante as
atividades acadêmicas diminui a realização, aumenta a quantidade de tempo que leva
para concluir as tarefas e reduz a quantidade de informações que os alunos retiram das
sessões de estudo e palestras [Flanigan e Babchuk 2015]. Além disso, os participantes a
falta de interesse situacional e tópico aumenta a tentação das mídias sociais [Flanigan e
Babchuk 2015].
        O uso do telefone celular pelos alunos na sala de aula não relacionado ao
conteúdo de aprendizagem tem um impacto negativo no aprendizado [Kuznekoff, Munz
e Titsworth 2015], aumentando o grau de distração [Tossell et al., 2015] e reduzindo as
notas dos alunos [Kuznekoff, Munz e Titsworth 2015; Beland e Murphy 2014]. Assim,
os telefones celulares causam distração e têm um impacto negativo no desempenho dos
alunos [Beland e Murphy, 2014].
        A conclusão do referido estudo coaduna com os achados de Berry e Westfall
(2015), no qual os alunos também entenderam ser tênue a linha entre o uso do celular
em sala de aula como benefício e malefício, ou seja, o uso obsessivo e prejudicial de
telefones celulares em sala de aula e o grau de adequação de forma a contribuir no
processo de ensino-aprendizado. Isso se deve a uma obsessão ao telefone que vem
aumentando nos últimos anos [McCoy, 2016].
       O presente estudo identificou a utilização de dispositivos móveis digitais durante
as aulas do curso de Medicina para fins não relacionados ao conteúdo ministrado,
revelando que a maioria dos discentes investigados passam, no máximo, 10% do tempo
destinado à aula utilizando smartphones para finalidades diversas. Isso prejudica o
processo de aprendizagem, pois quando alunos realizam multitarefas na sala de aula
[Lee, 2015] o seu desempenho decresce significativamente [Kuznekoff, Munz e
Titsworth, 2015; Beland e Murphy, 2014; Beland e Murphy, 2014].
       É possível aproveitar esse tempo de utilização dos smartphones em atividades
pedagógicas, tornando esse dispositivo mais uma ferramenta de ensino para melhorar a
qualidade e o rendimento acadêmico. No ensino médio e fundamental essa perspectiva
já vem sendo utilizada e sua aplicação no ensino superior parece direcionar para uma
perspectiva similar [Baya'a e Daher, 2009; Kalloo e Mohan, 2012; Baya'a e Daher,
2009; Kalloo e Mohan, 2012; Marçal et al., 2016].
        Outra constatação importante desse artigo foi o fato dos alunos não aceitarem
que um colega de turma atrapalhe a aula devido ao uso de dispositivos digitais. A
maioria concorda que o professor deve conversar com o aluno, advertindo-o e até
mesmo confiscando o dispositivo do aluno. Nesse caso, a dúvida que fica é se esse
comportamento se refletiria com alunos de outros cursos, ou é uma característica
particular dos alunos de Medicina.
        Entretanto, cabe destacar que o simples acesso aos dispositivos móveis não é
suficiente para introduzir uma melhoria nos resultados do processo de ensino-
aprendizagem. É necessário proceder alterações nas práticas pedagógicas [Lefoe et al.,

                                                                                     343
2009], pois, em geral, tem-se um modelo de ensino centrado didaticamente no
professor, em que se perdem a oportunidade de criar pedagogias inovadoras e de utilizar
diferentes ferramentas cognitivas em ambientes legítimos de aprendizagem [Herrington
et al., 2009]. Destarte, além de estudos para identificar o uso desses dispositivos, faz-se
necessário uma nova postura para esse grande desafio educacional que se baseia na
tecnologia e que passa a ser representado por um processo fundamentalmente interativo
centrado no aluno.

5. Conclusão
Com base nos resultados descritos, constatou-se existir uma taxa moderada de uso dos
smartphones na sala de aula para fins não relacionados ao conteúdo ministrado no curso
de Medicina estudado. Apesar disso, as potencialidades desses dispositivos no processo
ensino-aprendizagem são amplas, podendo serem transformados em importantes aliados
em ações pedagógicas.
       Como trabalho futuro, sugere-se ampliar a amostra para investigar os alunos de
Medicina de outras instituições, bem como examinar alunos de outros cursos superiores.
Também, pretende-se promover ações que desenvolvam o uso de dispositivos móveis
no processo ensino-aprendizagem o mais precocemente possível, em especial nos
semestres iniciais, momento em que os alunos são mais flexíveis e concordantes com
novas estratégias.

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