=Paper= {{Paper |id=Vol-2709/paper251 |storemode=property |title=Mistura de Gêneros e Habilidades no Desenvolvimento de um Aplicativo Móvel para Mulheres em Situações de Risco (Gender Mixing and Skills in Developing a Mobile Application for Women at Risk) |pdfUrl=https://ceur-ws.org/Vol-2709/paper251.pdf |volume=Vol-2709 |authors=Rosiane de Freitas,Juliana Magalhães,Bruna Mariana Souza,Julia LuizaConceição,Maria Luiza Edwards,Joseph Paz,Leonardo da Silva,Matheus Uchoa |dblpUrl=https://dblp.org/rec/conf/clei/FreitasMSLEPSU20 }} ==Mistura de Gêneros e Habilidades no Desenvolvimento de um Aplicativo Móvel para Mulheres em Situações de Risco (Gender Mixing and Skills in Developing a Mobile Application for Women at Risk)== https://ceur-ws.org/Vol-2709/paper251.pdf
          Mistura de gêneros e habilidades no
      desenvolvimento de um aplicativo móvel para
             mulheres em situações de risco

    Rosiane de Freitas4 , Juliana Magalhães1 , Bruna Mariana Souza1 , Julia Luiza
     Conceição2 , Maria Luiza Edwards4 , Joseph Paz2 , Leonardo da Silva2 , and
                                   Matheus Uchoa3
1
  Bacharelado em Ciência da Computação,2 Bacharelado em Engenharia de Software,3
                   Bacharelado em Engenharia da Computação
4
  Instituto de Computação - Universidade Federal do Amazonas (UFAM) {rosiane,
        juliana.magalhaes, bruna.mariana, joseph_paz, leonardoviana,
                   matheus.uchoa, jlslc}@icomp.ufam.edu.br




          Resumo This work addresses a multidisciplinary partnership action be-
          tween computing and digital and women’s rights, involving organization
          OAB/AM and university UFAM, through project Cunhantã Digital, for
          the development of a free and easy-to-use mobile phone application, to be
          one more form of defense for women in a situation of possible danger or
          even in real danger. The app SOS El@s sends an SMS message and other
          information to trusted contacts, as well as automatically opens a call to
          the police, using external buttons on the cell phone. A mixed team of
          developers was formed, with an emphasis on the participation of women
          but also with male students, from 03 undergraduate courses in Computing
          from University UFAM. This action was challenging in many ways, but
          successful. The application in a Beta version is available for use.


          Resumo Este trabalho aborda uma ação multidisciplinar de parceria
          entre computação e direitos digitais e das mulheres, envolvendo a orga-
          nização OAB/AM e a universidade UFAM, através do projeto Cunhantã
          Digital, para o desenvolvimento de um aplicativo para telefone celular
          gratuito e de fácil uso, para ser mais uma forma de defesa para as mu-
          lheres em situação de possível perigo ou mesmo em perigo real. O app
          SOS El@s envia mensagem de SMS e outras informações a contatos de
          confiança, bem como abre chamada para a polícia automaticamente, isto
          apenas usando botões externos do aparelho de celular. Foi formada uma
          equipe mista de desenvolvedores, com ênfase na participação de mulheres,
          mas contando com alunos homens também, de 03 cursos de graduação
          em Computação da universidade UFAM. A empreitada foi desafiadora
          em vários aspectos, mas bem sucedida. O aplicativo na versão Beta está
          disponível para uso.

          Palavras-chave: aplicativo móvel defesa da mulher · mulher na com-
          putação · STEAM · violência contra a mulher.




     Copyright © 2020 for this paper by its authors. Use permitted under Creative Commons
                    License Attribution 4.0 International (CC BY 4.0)
1   Introdução
Durante um evento da ONU, em 2018, o secretário-geral António Guterres afir-
mou que a violência contra as mulheres é uma "pandemia global" [17],
com mulheres de todas as idades, classes sociais, níveis de escolaridade, opções
religiosas e por todo o mundo, sofrendo violência dos mais variados tipos. E que
o mundo só vai se orgulhar de ser justo e igualitário quando as mulheres pu-
derem viver livres do medo e da insegurança cotidiana. Tal encontro marcou o
lançamento da campanha #HearMeToo (#MeEscuteTambém), que pede apoio
às vítimas de violência de gênero, de modo a garantir que suas vozes e histórias
sejam ouvidas, em vez de desacreditadas.
    São vistos no Brasil altos índices de violência contra as mulheres, como exem-
plo, em 2017 foram registrados 4.473 homicídios dolosos de mulheres (um au-
mento de 6, 5% em relação a 2016) [13]. Além disso, segundo o 12o Anuário
Brasileiro de Segurança Pública de 2018 [12], o número de estupros no Brasil
cresceu 8, 4% de 2016 a 2017, passando de 54.968 para 60.018 casos registrados.
Isso significa que ocorreram cerca de seis estupros de uma mulher brasileira a
cada dia, esses números não abrangem os casos que não são notificados, o 9a
Anuário de 2014 [11] estima que 35% dessa transgressão entram nas estatísti-
cas. Portanto, nas condições de violência explícita, majoritariamente, a mulher
não tem uma reação rápida, segura e efetiva, assim não havendo denúncia da
infração.
    Através das Comissões da Mulher Advogada e dos Direitos Digitais e Inova-
ção, a organização OAB/AM propôs uma parceria com a UFAM com o propósito
de desenvolver um app de apoio à defesa da mulher e gerar uma versão beta para
ser lançada em março deste ano, mês da mulher, em um evento da organização
OAB/AM. Para o desenvolvimento da versão beta foi feito o possível para for-
mar uma equipe com maior presença feminina, por essa razão alunas da UFAM
foram convidadas a participar, contudo por conta da falta de disponibilidade de
algumas alunas a equipe acabou sendo formada de forma mista, contando com
quatro alunas e quatro alunos.
    Desta forma, este trabalho tem como objetivo apresentar uma solução que
possa combater a violência contra a mulher de forma efetiva e rápida, que foi de-
senvolvido por um grupo misto. Assim, desenvolveu-se um aplicativo de telefone
celular cujo objetivo principal é propiciar a uma mulher em possível situação de
risco a possibilidade de acionar contatos de emergência e/ou a polícia - em situa-
ção de perigo - de forma rápida e prática, utilizando uma tecnologia que está ao
seu alcance por ser um objeto de uso pessoal, o celular. Com isso, os contatos de
emergência que receberem o pedido de socorro e/ou as autoridades poderão agir
a tempo de evitar que mais uma mulher torne-se parte das estatísticas atuais
descritas neste mesmo projeto.
    O restante do artigo está estruturado como segue. Na Seção 2 são abordados
dados informativos sobre a situação da violência contra a mulher, as leis que
asseguram a proteção das mulheres e os tipos de violência existentes. Na Seção
3, aborda-se os aplicativos com o objetivo de garantir a defesa do cidadão e
os principais exemplos, com uma subseção expondo os aplicativos que possuem
enfoque na defesa da mulher. Na seção 4, há uma descrição sobre o projeto do
aplicativo SOS El@s, as funcionalidades desenvolvidas, a metodologia aplicada
e informações sobre a equipe de desenvolvimento do aplicativo. E por fim, na
Seção 5 são feitas as considerações finais.


2   Violência contra as mulheres

Para que se possa entender mais sobre a violência contra as mulheres é preciso
conhecer como ela se manifesta. A violência contra a mulher ocorre quando há
um comportamento - em uma situação de ação ou omissão - de discriminação,
agressão ou coerção contra ela baseado em seu gênero e ainda, se a causar algum
dano, morte, constrangimento, limitação, sofrimento físico, sexual, moral, psi-
cológico, social, político ou econômico ou perda patrimonial, seja essa violência
praticada em espaço público ou privado [9]. A Lei Maria da Penha (11.340/2006)
assegura contra cinco formas de violência contra mulher: moral, patrimonial, fí-
sica, sexual e a psicológica [8].
    Com a intenção de combater a violência contra as mulheres no Brasil, em
março de 2015, entrou em vigor a lei do feminicídio (Lei 13.104/15), "a lei con-
sidera feminicídio quando o assassinato envolve violência doméstica e familiar,
menosprezo ou discriminação à condição de mulher da vítima."[6]. Contudo, o
país é o quinto com mais feminicídios no mundo, sendo registrado em 2018, com
1.206 casos [7]. Diante disso, vê-se que a falta de segurança ainda prevalece na
sociedade brasileira.
    De acordo com levantamento feito pelo instituto Datafolha em 2019, reali-
zado a pedido do FBSP (Fórum Brasileiro de Segurança Pública) [10], uma em
cada quatro mulheres brasileiras com mais de 16 anos foi vítima de violência
nos 12 meses anteriores à pesquisa. Porém, buscar ajuda e denunciar agressões
continua sendo algo difícil para a maioria das mulheres violentadas (Figura 1),
por motivos como o medo, vergonha e crença na impunidade de seus agressores.
Dessa maneira, há uma necessidade de incentivar a denúncia quando preciso.
    Ao conhecer as formas de violência contra as mulheres é possível entender do
que ela trata e em quais contexto se enquadra, tornando-se essencial denunciar
casos com mais facilidade. Nesse aspecto, o app desenvolvido propõe expor temas
importantes para manter o usuário atento aos direitos femininos e, também,
dispõe a divulgação dos números de telefones úteis para denúncia. Dessa forma,
contribui em aumentar a sensação de segurança das mulheres brasileiras com as
funcionalidades de pedido de socorro em prováveis situações de emergência.


3   A tecnologia em defesa do cidadão

As tecnologias servem para solucionar problemas para atender ao bem social.
Nesse sentido, nota-se o uso dessas tecnologias para garantir maior segurança,
alertar, identificar, coibir e auxiliar o cidadão. Desse modo, as inovações de
suporte para a sociedade tendem a simplificar as ações populares.
       Figura 1. Gráfico do percentual das medidas de mulheres violentadas



    Tecnologia de defesa do cidadão se estende para tudo aquilo que facilita o
cidadão fazer o seu papel no corpo social. Salienta-se que na atualidade, há
mais soluções para os problemas do cotidiano, como os aplicativos mobile que
possuem múltiplas funções variando desde segurança da cidade até aplicativos de
sustentabilidade. Assim, inovações são implementadas visando ao usuário ações
que podem ser feitas de modo mais rápido e com menos esforço.
    Nessa transformação digital ocorre mais adoção de inovações na forma de
aplicações, como é visto na pesquisa TIC Governo Eletrônico, conduzida pelo
CGI.br (Comitê Gestor da Internet no Brasil), que comprova que as prefeituras
brasileiras começam a adotar soluções de tecnologia da informação, aplicando
recursos e software que otimizam a gestão de dados do sistema. Portanto, a adap-
tação de estruturas que visam atender ao cidadão, seja na informação pública ou
na segurança, está garantindo uma transformação digital orientada para maior
participação da população.


3.1   Aplicativos de celulares para a defesa do cidadão

Há mais celulares do que pessoas no país, segundo a 30a Pesquisa Anual de
Administração e Uso de Tecnologia da Informação nas Empresas feita pela Fa-
culdade Getúlio Vargas em 2019, o Brasil apresenta um percentual de 110 %
de smartphones por habitantes. Nessa perspectiva, percebe-se que implementar
uma solução em apps mobile se torna mais vantajoso, visto que grande parte da
população possui um aparelho celular. Então, há mais aplicativos que são úteis
aos cidadãos no mercado.
    Temos como exemplo, voltado para a segurança do cidadão, o Aviso Polí-
cia [1], lançado pela Secretaria de Segurança Pública do Estado do Amazonas.
Este serve para chamadas de emergência para assaltos a ônibus, usando o mo-
nitoramento do GPS do usuário para atender as ocorrências, além de possuir
atendimento on-line por meio de Chat. Porém, o app é disponível somente para
Android e apresenta reclamações de problemas com o cadastro, impossibilitando
o uso.
   Outro aplicativo importante é o CitizenCOP [2], disponível somente em cida-
des da Índia, sendo uma iniciativa para desenvolver uma sociedade mais limpa e
segura. Consiste numa aplicação com muitas funcionalidades específicas: alertas
de emergência, recursos de segurança baseados na localização e ajuda na de-
núncia de artigos perdidos. Por conseguinte , propõe melhores condições para a
cidade com mais cooperação dos cidadãos nos problemas do país.

3.2   Aplicativos de celulares com enfoque na defesa da mulher
Historicamente, o patriarcalismo regia as culturas e preponderava as desigualda-
des de gênero no mundo. Observa-se a grande evolução das conquistas femininas
nas questões socioculturais, porém o comportamento sexista ainda persiste no
Brasil atual, como é visto na Seção 1. Logo, a defesa dos direitos femininos deve
ser incentivada por todos os meios, inclusive o digital.
    Nesse âmbito, aplicativos de celulares com enfoque nas mulheres estão se tor-
nando comuns. No mercado, há outros aplicativos semelhantes ao desenvolvido
pela equipe – como por exemplo o app Chilla, SOS Mulher (Estado do Amapá) e
SOS Mulher (SP) – mas que possuem funções e focos diferenciados. Ainda assim,
todos possuem o objetivo de ajudar a mulher em caso de emergência, trazendo
conteúdos e funcionalidades que podem agregar conhecimentos dos direitos das
mulheres, ou até salvar uma vida.
    O aplicativo SOS Mulher (SP) [5] tem o público alvo em mulheres (ou ho-
mens e crianças) sob medida protetiva, exclusivamente, ou seja, somente para
vítimas que já denunciaram e obtiveram a medida. Desse modo, a ativação da
funcionalidade é feita por um botão virtual que notifica viaturas em um raio de
4km, uma ação mais emergencial devido ao histórico de violência. Além disso,
é disponível nos sistemas operacionais Android e IOS e possui um site de apoio
que apresenta informações de serviços públicos para mulher, incentivo a emprego
com qualificação profissional e o direcionamento para o Banco do Povo para pro-
ver financiamento para empreendedores, visto que algumas mulheres violentadas
apresentam dependência financeira do parceiro.
    Os outros dois apps Chilla e o SOS Mulher (Estado do Amapá) mantêm
a mesma linha de emergência. Em primeiro plano, para auxiliar as mulheres
é necessário, antecipadamente, obter alguns dados para o cadastro do usuário,
como número para emergência.Ambos possuem a necessidade das permissões do
app para que possa ser executado as ações do software de geolocalização, áudio,
contatos e de enviar mensagem.
    O aplicativo Chilla [14] é indiano e não está mais disponível no mercado.
Entretanto, possui funcionalidades essenciais, ele pode ser acionado por grito
ou apertando o botão Power 5 vezes. Dessa forma, o acionamento é feito mais
rápido para enviar a mensagem de socorro e e-mail com gravação de áudio, além
de fazer uma chamada de emergência para um contato cadastrado.
    A aplicação Mujeres Seguras [3] é mexicana e conta, principalmente, com
um botão de alerta que, quando pressionado, envia a localização e número de
telefone da usuária para o Centro de Controle C5i. Um grande diferencial desse
aplicativo é funcionar de forma offline, isso ocorre pois o mesmo possui parceria
com serviços de dados do México.
    O aplicativo SOS Mulher (Estado do Amapá) [4] é orientado para mulheres
em risco de violência doméstica. A função de SMS é também acionada por botão
virtual e possui uma ferramenta para compartilhar, anonimamente, experiências
vividas para outras mulheres. Dessa forma, permitindo o apoio entre elas em
situações de violência e dependência emocional ou financeira do parceiro.
    Cabe ressaltar a importância da presença feminina em um projeto com obje-
tivo de ajudar outras mulheres. A existência de uma equipe mista pode contribuir
em encontrar ideias com visões mais ampliadas e ainda ter o compartilhamento
maior de experiencias de vida que podem ajudar no melhoramento da ideia de
um app.




4   Diversidade da equipe é a pluralidade do produto


É possível mostrar a importância de se ter uma equipe diversificada tendo como
base a história do Kinect, o famoso sensor de movimentos da Microsoft. Antes
de seu lançamento, em 2010, uma das funcionárias da empresa decidiu testar
o aparelho em sua casa com sua família mas descobriu algo um tanto quanto
curioso: o aparelho só conseguia detectar o corpo de seu marido. Peggy John-
son, vice-presidente executiva de desenvolvimento de negócios da companhia na
época, revelou que tal problema aconteceu pois o aparelho, em seu desenvolvi-
mento, foi treinado apenas com homens da faixa etária de 18 a 35 anos e por
isso não era capaz de reconhecer o corpo de mulheres e crianças. Peggy comple-
mentou dizendo que essa falha existiu pois a equipe não era diversificada e seria
desastroso se o aparelho fosse lançado daquela maneira.
    Um outro exemplo bastante intrigante é o caso da Amazon que, nos anos
de 2014 e 2015, tinha uma equipe de desenvolvedores criando uma Inteligência
Artificial (I.A) para a contratação de funcionários. O problema começou quando
a equipe utilizou currículos enviados para a empresa há mais de 10 anos atrás,
sendo que a maioria deles era de homens e, por causa disso, a I.A interpretou
que currículos de mulheres não deveriam ser aceitos. Os programadores tentaram
resolver essa falha, mas, no fim, a Amazon abandonou esse algoritmo.
   Destacando ainda mais a importância do envolvimento da participação das
mulheres em equipes de desenvolvimento, torna-se interessante mencionar a pes-
quisa [16], esta que, por sua vez, foi desenvolvida por pesquisadores estaduni-
denses e dinamarqueses. Nela, os responsáveis constataram que as mulheres se
sobressaíram melhor em relação aos homens nos tópicos que envolviam correção
de bugs e, também, obtiveram maior porcentagem de testes e compreensão de
depuração dos problemas.
5     SOS El@s
O SOS El@s é um aplicativo para telefone celular gratuito e de fácil uso, de-
senvolvido para ser mais uma forma de defesa para as mulheres em situação de
possível perigo ou em perigo real. Projetado em dois níveis, primeiramente, é
apresentado um curto manual de uso, para em seguida cadastrar os contatos
de confiança da mulher (marido, filhos, amigos, etc). Após isso, pode sair do
aplicativo e usá-lo normalmente para outros fins. Em situação de possível perigo
basta apertar o botão de volume por 2 segundos e uma mensagem de socorro,
sua geolocalização e fotos frontal e traseira são enviadas para os contatos de con-
fiança cadastrados. E se a situação for de perigo real, além de apertar o botão
de volume por 2 segundos, deve-se agitar o celular que, uma chamada telefônica
à polícia (190) é ativada.
    No aplicativo também é possível consultar informações sobre violência contra
mulher, lei Maria da Penha, lei da Importunação Sexual, lei do Feminicídio e
consultar uma lista de telefones e endereços úteis. A equipe de desenvolvedores
foi formada por alunos dos 03 cursos de Computação da UFAM (Ciências da
Computação, Engenharia da Computação e Engenharia de Software), que par-
ticiparam do desenvolvimento da versão Beta do app, disponível para sistemas
Android (e posteriormente para IOS).
    Muitos desafios foram enfrentados, o curto prazo para ser gerada uma versão
do aplicativo para o início de março, bem como a complexidade intrínseca das
funcionalidades desejadas e tecnologias envolvidas, principalmente relativo ao
uso de botões externos do celular para outros fins, que dispara eventos para o
app em background executar ações, envolvendo código nativo, e configuram-se
em características avançadas no desenvolvimento de aplicativos móveis.

5.1   O projeto
Devido ao prazo curto estabelecido para a entrega e apresentação de uma versão
beta do aplicativo, ocorreu que o desenvolvimento seguiu princípios da meto-
dologia ágil, dirigido a funcionalidade (Feature Driven Development - FDD),
evidenciando principalmente a colaboração entre as pessoas da equipe mista,
visto que poucos possuíam experiência em desenvolvimento mobile.
    Através de reuniões com a orientadora da equipe, os integrantes decidiram
quais seriam as funcionalidades a serem desenvolvidas e as telas presentes no app.
A partir disso, foi possível realizar rascunhos para demonstrar o conteúdo das
telas e a navegação entre as mesmas. Com isso, pôde ser aplicada parcialmente
também a técnica de Design Thinking, pois esta é constituída de fases em que
há um entendimento acerca do que os clientes desejam, especificação e definição
do que deve ser feito, geração de ideias que garantam a solução do problema
proposto, prototipação, implementação e realização de testes, de modo cíclico.

5.2   Equipe de desenvolvimento
A equipe do aplicativo SOS El@s foi composta por oito pessoas, sendo que
seis delas são alunos da UFAM, em cursos e períodos diversificados. Metade
da equipe é formada por mulheres e contou com a supervisão de uma professora
da universidade. Poucos integrantes tinham habilidade em desenvolvimento de
aplicativos mobile o que necessitou deles dedicação e esforço para adquirirem o
conhecimento fundamental.
    De acordo com um estudo do jornal Computers in Human Behavior [15]
a diversidade de gênero e idade influenciam positivamente na criatividade da
equipe de um grupo heterogêneo no resultado final, e não foi diferente na equipe
deste aplicativo. Nesse sentido, as integrantes relataram algumas experiências
e opiniões sobre situações de emergência, que como mulheres, também estão
sujeitas a vivenciarem e com isso ajudaram a formar ideias para o protótipo do
aplicativo muito mais adequadas a realidade.
    A maioria dos integrantes da equipe não se conheciam antes do desenvolvi-
mento do aplicativo, entretanto, após a primeira reunião todos tiveram uma boa
interação o que os possibilitou também vivenciar o trabalho em equipe e um
ambiente real de elaboração de um aplicativo mobile. As quatro alunas puderam
compartilhar aprendizados de desafios sendo mulheres umas com as outras, o
que gerou alguns debates entre parte da equipe. Muitos enfrentaram desafios em
suas funções devido a falta de conhecimento para a criação de aplicação mobile,
contudo, conseguiram compartilhar bem o conhecimento que cada um tinha,
facilitando a aprendizagem de cada um. Com o aplicativo SOS El@s todos ga-
nharam habilidades em elaborar uma aplicação mobile e experienciar um cenário
real de uma equipe de desenvolvimento.


5.3   Aspectos de desenvolvimento e tecnologias envolvidas

O aplicativo SOS El@s foi desenvolvido em ambiente cliente-servidor Android,
Javascript, HTML e CSS. Mais especificamente, foi utilizado o Ionic 4 que é
um poderoso SDK HTML5 que ajuda a criar aplicativos móveis com aparên-
cianativa, usando tecnologias da web como HTML, CSS e Javascript. O Ionic
está focado principalmente na aparência e na interação da interface do usuário
do aplicativo. Isso significa que não substituímos de início o PhoneGap ou sua
estrutura Javascript.
    • Cordova-plugin-camera - define um objeto global navigator.camera que
fornece uma API para tirar fotos e escolher imagens da biblioteca de imagens
do sistema.
    • Cordova-plugin-media-capture - fornece acesso aos recursos de captura de
áudio, imagem e vídeo do dispositivo.
    • Cordova-plugin-contacts - integrado para acessar os contatos do celular
para o aplicativo. Assim conseguindo acionar as outras funcionalidades para os
contatos escolhidos.
    • Call-number -integrado para acessar os contatos do celular para o aplica-
tivo.
    • Cordova-sms-plugin - possui a função de enviar "SMS"(do inglês "short
message service", traduzido para o português ”serviço de mensagem pequena”)
pelo aplicativo.
                 Figura 2. Telas iniciais do aplicativo SOS El@s.




            Figura 3. Telas do tutorial inicial do aplicativo SOS El@s.


6   Discussão de resultados
A partir das literaturas apresentadas, percebe-se uma influência positiva que a
equipe heterogênea trouxe ao SOS El@s, a pluralidade de curso, gênero e ha-
bilidade em programação agregou as percepções individuais no conjunto. Nessa
perspectiva, a mesclagem permitiu cada um sobressair-se nas preferências espe-
cíficas, somando ao produto final a singularidade da equipe.
        Figura 4. Telas para adicionar os contatos do aplicativo SOS El@s.




    Figura 5. Telas dos apoiadores do projeto e desenvolvimento do SOS El@s.




    A partir disso, foi possível desenvolver aspectos essenciais para que ele fun-
cione adequadamente em momentos de risco, como velocidade e facilidade de
uso. O ponto principal e o diferencial do app é a agilidade para demandar as
funcionalidades de socorro. A persistência de manter o botão externo de volume
como acionador do aplicativo é exatamente para que os usuários não percam
tempo ao desbloquear o celular e, depois, achar o aplicativo, para assim acionar
a funcionalidade. Além disso, não é preciso fazer cadastro, o que diminui a bu-
rocracia que outros aplicativos apresentam. Logo, o SOS El@s é o melhor para
situações de risco, em que a vítima não tem tempo para se defender e procurar
ajuda.
7     Considerações Finais

Pode-se ressaltar que um dos pontos fortes sobre o aplicativo SOS El@s desen-
volvido, foi a formação da equipe de desenvolvimento, um grupo heterogêneo,
em que mesclou a experiência de alunos veteranos com a motivação e vontade
de aprender de alunos calouros ou nos primeiros períodos de cursos de compu-
tação, e com as visões e experiências de vida diferentes de meninos e meninas.
Também é possível destacar que alunos de três diferentes cursos participaram, e
com a predominância (mas não exclusividade) de mulheres. O processo de apren-
dizagem da equipe foi uma grande conquista, com o cumprimento de prazos e
desafios de conceitos e tecnologias envolvidos.
    Sobre aspectos de funcionalidade, é preciso salientar que não é necessário
entrar no sistema para solicitar socorro, o que é um diferencial sobre os aplica-
tivos que já existem (e mesmo os que indicam possuir o mesmo tipo de funci-
onamento, ou não estão disponíveis nas lojas de aplicativos ou não funcionam
adequadamente). Cabe ressaltar que para aparelhos Samsung S8 e Apple IOS
11 ou superior, já possuem um sistema de registro de contatos e envio de SMS e
geolocalização. Contudo, o app SOS El@s proposto pode ser usado em qualquer
sistema e aparelho de celular (uma vantagem para o público-alvo, de mulheres
de baixa renda e da base da pirâmide de níveis sociais, que são as mais expos-
tas a situação de violência de gênero). Ainda assim, o aplicativo proposto envia
outras informações aos contatos (como rastreamento, fotos e áudio), também
possui um segundo nível de socorro, que consiste em, ao chacoalhar o aparelho,
abrir uma chamada direto para o 190 – número de contato da Polícia Militar. As
ações do projeto SOS El@s com a ajuda de uma equipe mista pouco experiente
e em pouco tempo contribuem no combate a violência como uma ferramenta
democrática e de uso simples para a defesa da mulher em situação de risco. O
retorno após a exposição do app foi imediato e o impacto na sociedade positivo,
com convites para espaços na mídia aberta, como é possível ver na figura 6.
Em andamento, estão os ajustes e testes sistemáticos na versão Beta para mais
consistência entre versões, além da disponibilização em outras plataformas.




    Figura 6. Homenagem à equipe pela OAB/AM no Palácio da Justiça de Manaus.
Referências
 1. Aviso polícia.      Disponível em https://play.google.com/store/apps/details?id
    =com.appybuilder.macnot.aviso_policia (Fevereiro 2020).
 2. Citizencop.       Disponível em https://pt.overleaf.com/blog/532-creating-and-
    managing-bibliographies-with-bibtex-on-overleaf (Fevereiro 2020).
 3. Mujeres seguras. Disponível em https://play.google.com/store/apps/details?id
    =mx.gob.segobsonora.mujersegurahl=pt_BR (Agosto 2020).
 4. Sos mulher - ministério público do estado do amapá.                  Disponível em
    https://play.google.com/store/apps/details?id=br.mp.mpap.sosmulher (Fevereiro
    2020).
 5. Sos mulher - polícia militar do estado de são paulo.                     Last acces-
    sed    16     September      2017    https://play.google.com/store/apps/details?id
    =pmesp.appemer.mp.android.medidasprotetivas.
 6. Agência Câmara de Notícias.               Lei do feminicídio faz cinco anos.
    https://www.camara.leg.br/noticias/643729-lei-do-feminicidio-faz-cinco-anos.
    Acesso em 28 março 2020.
 7. Agência Senado. Educação é fundamental na luta contra o feminicídio, dizem deba-
    tedores. https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2020/03/09/educacao-e-
    fundamental-na-luta-contra-o-feminicidio-dizem-debatedores. Acesso em 27 março
    2020.
 8. Agência       Senado.                O       tipo      de      violência     sofrida.
    https://www12.senado.leg.br/institucional/omv/entenda-a-violencia/o-tipo-
    de-violencia-sofrida. Acesso em 25 março 2020.
 9. Conselho Nacional de Justiça.           Formas de violência contra a mulher.
    https://www.cnj.jus.br/programas-e-acoes/violencia-contra-a-mulher/formas-
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