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|title=Práticas de Linguagem e Design: algumas questões de usabilidade no contexto da web social
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==Práticas de Linguagem e Design: algumas questões de usabilidade no contexto da web social==
Práticas de Linguagem e Design: algumas questões de usabilidade no contexto da web social Fernanda Maria Pereira Freire André Constantino da Silva Núcleo de Informática aplicada à Educação Instituto de Computação (IC) (NIED) Núcleo de Informática aplicada à Educação Centro de Pesquisa CEFIEL (IEL) (NIED) UNICAMP UNICAMP São Paulo, Brasil São Paulo, Brasil ffreire@unicamp.br acsilva@ic.unicamp.br RESUMO computador, com diferentes propósitos - educacionais, Este artigo discute as influências recíprocas entre práticas linguísticos, sociais, psicológicos - focalizando diferentes de linguagem e decisões de design. Foram analisados dois aspectos (não excludentes entre si, necessariamente): dados extraídos de situações reais de interação provenientes letramento digital, inclusão/exclusão digital/social, gênero, de um curso a distância e de uma rede social, textualidade hipermidiática, entre outros [1,3,4,5,6, respectivamente, com foco nas operações discursivas 32,27,32,34,39]. usadas pelos interlocutores para contornar restrições do Nosso propósito, no entanto, toma como lugar de reflexão a design das ferramentas utilizadas. A hipótese que norteia a interação que se estabelece entre sujeito/interface discussão é a de que estas operações linguísticas, que computacional que possibilita, por sua vez, a prática de aparecem em certos contextos e não em outros, podem ser linguagem que se dá por seu intermédio, com o objetivo de vistas como indícios de problemas de usabilidade. Para como um pode interferir no outro. Em outras palavras, corroborar esta hipótese, foram analisados os contextos em pretendemos analisar como uma determinada prática de que as operações aparecem com base nas heurísticas de linguagem influencia o design de uma aplicação e, Nielsen. inversamente, como o design de uma determinada aplicação Palavras-chave pode influenciar a prática de linguagem. Por trás dessa linguagem, tecnologia, softwares sociais, usabilidade. análise está o pressuposto de que o design de uma determinada aplicação tem origem em uma determinada INTRODUÇÃO prática social e que seu uso, por sua vez, desencadeia novas Dados publicados em 2009 pelo Ibope/Nielsen[19] práticas sociais, exemplo disso são as redes sociais. mostram que entre os meses de setembro e dezembro de 2009 o número de brasileiros com mais de 16 anos que Para esta discussão consideraremos aplicações da web utilizam a internet aumentou em 1,2 milhão: de 66,3 social, mais especificamente, situações reais de interlocução milhões passamos para 67,5 milhões em apenas 3 meses. O no contexto educacional e no de entretenimento (redes levantamento mostra ainda que a maior parte dessa sociais). Os exemplos apresentados serão, primeiramente, população (86,3%) acessa algum tipo de “comunidade”: analisados do ponto de vista linguístico para, em seguida, redes sociais, blogs, bate-papos, fóruns e sites de serem discutidos a partir das heurísticas de usabilidade de relacionamento[20]. A internet que originalmente não tinha Nielsen [28] com o objetivo de justificar decisões de design a pretensão de ser um “canal de comunicação” é hoje, sem e/ou justificar estratégias linguísticas encontradas pelos dúvida, um grande espaço de/para a interação entre as usuários para contornar as dificuldades que com as quais se pessoas e, portanto, um espaço para a emergência de depararam no uso das aplicações. diversas práticas de linguagem. A primeira parte deste texto apresenta os pressupostos Diante deste fenômeno muitos pesquisadores têm se teóricos que fundamentam nosso entendimento a respeito dedicado ao estudo de práticas de linguagem mediadas pelo de práticas de linguagem bem como o conceito de usabilidade. Em seguida, apresenta as aplicações utilizadas nos dados analisados nas duas seções subsequentes que LEAVE©BLANK Copyright 2011 forTHE LAST 2.5 the individual cm (1”) papers OF by the THE authors. papers' LEFT tratam da relação prática de linguagem e design e seus CopyingCOLUMN ONfor permitted only THE FIRST private PAGE FOR and academic THE This purposes. volume is published and copyrighted by its editors. efeitos na usabilidade. Por último, apresenta algumas COPYRIGHT NOTICE. considerações finais. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA computacional, requer um trabalho simbólico que mobiliza Nossa análise se baseia, por um lado, em conceitos da área processos linguístico-cognitivos que ganham saliência da Neurolinguística Discursiva ou ND [7,8] e, por outro, quando o sujeito ou comete (supostos) erros ou faz uso de em conceitos da área de Interação Humano-Computador ou alguma estratégia inusitada ou aparentemente desnecessária IHC [31,33]. A ND, em sua origem 1, articula teorias da para evitá-lo na tentativa de alcançar o seu objetivo, qual linguagem desenvolvidas por diferentes domínios da seja, a prática de linguagem propriamente dita: perguntar, Linguística: Análise do Discurso, Aquisição de Linguagem, responder, comentar, discordar, etc.. Trata-se de um Pragmática, Teoria da Enunciação, e se propõe a analisar os trabalho que se realiza por meio de operações de processos interacionais da linguagem, as relações entre os construção de sentidos a partir dos elementos verbais e não processos cognitivos e a linguagem, as condições de verbais que a interface exibe no momento desse diálogo produção do discurso, lidando, assim, com a relação particular, e que convoca a atuação integrada das funções linguagem/cérebro/mente. Não é de se estranhar, assim, superiores: linguagem, memória, percepção, atenção que a ND tenha interesse em estudar as práticas de dirigida, gestualidade, raciocínio intelectual[25]. A análise linguagem mediadas pelo computador, especialmente pelo de tais erros e estratégias - tomados como indícios das fato de os enunciados serem produzidos em meio a hipóteses que o sujeito elabora ao interagir com esse objeto condições especiais de produção, entre elas, a presença de - pode revelar aspectos importantes da relação uma interface. Assim, a ND aglutina ideias e conceitos de linguagem/design e design/linguagem, foco deste estudo. vários autores, sobretudo Luria[25, 26], Vygotsky Esses supostos erros ou estratégias para contorná-los [36,37,38], Bakhtin[2], Jakobson [21,22], Freud podem estar relacionados com a usabilidade do sistema, (neurologista)[17], mantendo como elemento unificador a confirmada através de uma análise criteriosa do erro contextualização histórica da linguagem e do propriamente dito ou do contexto em que aparece a solução cérebro/mente. Resumidamente, três pressupostos são encontrada pelo usuário. Nielsen [28] descreve que importantes para os nossos propósitos: (i) a noção usabilidade, segurança, efetividade e utilidade como abrangente de linguagem [10] como atividade significativa objetivos no desenvolvimento de sistemas, englobando-os (nos níveis cognitivo, intersubjetivo e social), como lugar em um conceito mais amplo que ele denomina de de interação humana e de interlocução em meio às “aceitabilidade geral de um sistema”. A aceitabilidade geral contingências socioculturais que orientam e regulam a vida de um sistema é a combinação de sua aceitabilidade social e em sociedade; (ii) a contextualização histórica dos de sua aceitabilidade prática, sendo um de seus processos linguísticos e cognitivos; (iii) a relação de componentes a usabilidade. Usabilidade é definida em constitutividade entre linguagem e processos cognitivos - função de cinco componentes [28]: percepção, atenção, memória, práxis, raciocínio - em que a primeira tem papel organizador e regulador em relação a - Facilidade de aprendizagem (learnability): o sistema tais processos [9,25,26,37,38]. precisa ser fácil de aprender de forma que o usuário possa rapidamente começar a interagir; Com base em tais pressupostos, entendemos as práticas de linguagem mediadas pelo computador como ações que se - Eficiência: O sistema precisa ser eficiente no uso, de fazem com e sobre a língua[7,18] em meio a contingências forma que uma vez aprendido o usuário tenha um elevado socioculturais; como um duplo exercício de linguagem: ao nível de produtividade; interpretar a interface e ao usar a interface para produzir - Facilidade de relembrar (memorability): o sistema precisa sentido [11,12,13,14,15,16]. Vista sob esse prisma, pode-se ser facilmente relembrado, de forma que o usuário ao voltar postular que a interação sujeito/interface é constitutiva de a usá-lo depois de um certo tempo não tenha novamente toda e qualquer prática de linguagem mediada pelo que aprendê-lo; computador (e deve ser aprendida) mesmo quando se - Erros: O sistema precisa ter uma pequena taxa de erros, ou naturaliza a ponto de fazer crer que a interface não (mais) seja, o usuário não pode cometer muitos erros durante o seu afeta aquela prática: “las interfaces, como cualquier otto uso e, se errar, deve ser fácil recuperar; lugar donde se verifican procesos semiósicos, nunca son neutrales o ingenuas” [33, p. 74]2. - Satisfação subjetiva: Os usuários devem gostar do sistema, ou seja, deve ser agradável de forma que o usuário Assim, o uso de tecnologias de informação e comunicação fique satisfeito ao usá-lo. e, em particular, a interação sujeito/interface Nielsen [28] propõe 10 heurísticas de usabilidade, regras 1 Esta área de estudo se inicia no Instituto de Estudos da gerais que objetivam descrever propriedades comuns de Linguagem da UNICAMP com a tese de Coudry em 1986, interfaces usáveis: transformada em livro em 1988 [7]. 1- Visibilidade do status do sistema; 2 “as interfaces, como qualquer outro lugar onde se verificam 2- Compatibilidade do sistema com o mundo real; processos semióticos, nunca são neutras ou ingênuas” (tradução dos autores) 3- Controle do usuário e liberdade; 4- Consistência e padrões; decorrer do próprio curso. Assim, é possível que em um 5- Prevenção de erros; determinado momento algumas ferramentas não sejam visíveis no lado esquerdo da tela. Tornar disponível ou não 6- Reconhecimento ao invés de relembrança; uma ferramenta durante o curso é parte das decisões 7- Flexibilidade e eficiência de uso; metodológicas tomadas por cada equipe e o oferecimento 8- Estética e design minimalista; de uma nova ferramenta é, geralmente, anunciado na Agenda. 9- Ajudar os usuários a reconhecer, diagnosticar e corrigir erros; Na ferramenta Estrutura do Ambiente4 o usuário encontra uma descrição das funcionalidades de cada ferramenta do 10- Help e documentação. ponto de vista de seus idealizadores. Nem sempre os Neste trabalho utilizaremos as heurísticas de Nielsen como usuários do ambiente usam uma ferramenta de acordo com base para discussão das decisões de designs das interfaces a sua concepção original, o que mostra a flexibilidade do de usuário das aplicações estudadas, apresentadas na ambiente na sua forma de utilização em função dos próxima seção. objetivos/metodologia utilizada[30]. É, portanto, com base AS APLICAÇÕES UTILIZADAS: TELEDUC E ORKUT nos diferentes usos que as pessoas fazem do ambiente que Os dados utilizados para embasar a discussão neste trabalho novas ferramentas – ao longo da história do TelEduc – são são oriundos de interações reais na web social, mais desenvolvidas e a ele incorporadas. especificamente, por meio do ambiente de ensino- Freire [12], descreve que o TelEduc pode ser visto como o aprendizagem TelEduc [35] e da rede social Orkut[29]. produto de um conjunto de conhecimentos estreitamente Estes dados foram produzidos em seus contextos originais relacionados ao exercício social da linguagem em meio a de uso e são aqui analisados sob duas perspectivas. Em diferentes práticas sociais de escrita, em especial. Suas primeiro lugar, foi feita uma análise linguística do(s) primeiras versões se basearam em experiências de cursos de enunciado(s) do(s) participantes das práticas de linguagem formação de professores na área de Informática na focalizadas. Tal análise se pauta na formulação de dado- Educação: os idealizadores do ambiente tentavam achado da ND (Coudry, 1996) e busca pistas e sinais que reproduzir – em alguma medida – as metodologias podem revelar particularidades do trabalho do sujeito sobre presenciais bem-sucedidas para o ambiente virtual. Essa, a língua e, neste caso específico, sobre a própria interface então, “nova tecnologia”, sem dúvida, interferiu de maneira da aplicação por ele utilizada. Essas pistas são então definitiva no(s) modo(s) de se construir conhecimento. O contrastadas com as heurísticas de Nielsen com o objetivo uso continuado do ambiente – com diferentes usuários e em de se confirmar ou refutar sua relação com questões de diferentes contextos de ensino-aprendizagem – design e usabilidade. impulsionaram mudanças, colocando desafios que ainda O TelEduc [35] é um ambiente de ensino-aprendizagem não haviam sido pensados. desenvolvido pelo Núcleo de Informática Aplicada à Assim, a interface do ambiente – sua nomenclatura com Educação (NIED) da Universidade Estadual de Campinas, cores, botões, caixas, links, rótulos – dão corpo a um adotado por várias instituições públicas e privadas, entre conhecimento – cursos à distância, semipresenciais, apoio a elas, a própria Universidade por meio do Programa Ensino cursos presenciais – metodologias diferenciadas, que Aberto3. apontam para a construção de uma cultura própria [12]. Trata-se de um sistema que agrega ferramentas de O Orkut [29], por sua vez, é uma rede social com o objetivo administração, de coordenação e de comunicação de fomentar os relacionamentos entre seus membros, delineadas para dar suporte a ações de ensino- possibilitando que seus usuários mantenham contato entre si aprendizagem. As páginas do ambiente são divididas em e construam/proponham comunidades. O público-alvo do duas partes: à esquerda estão as ferramentas usadas durante Orkut é abrangente, variando a idade e a experiência com a o curso e, à direita, o conteúdo que corresponde à Web. Para a presente discussão, será analisada a ferramenta selecionada na lista à esquerda. A página de comunidade “Livros, Textos e Redação” que visa a troca de entrada do ambiente é a Agenda que contém informações experiência em relação à escrita, e é composta por membros atuais, dicas ou sugestões dos professores/formadores para de várias faixas etárias. os alunos. É uma ferramenta importante porque organiza as atividades de um determinado período, similar ao que ocorre no início de uma aula presencial. 4 O professor de um curso pode escolher um subconjunto de Eis a lista completa de ferramentas do ambiente: Dinâmica, ferramentas para ser usado, que pode ser alterado no Agenda, Avaliações, Atividades, Material de Apoio, Leituras, Exercícios, Enquete, Parada Obrigatória, Fóruns de Discussão, Mural, Bate-Papo, Correio, Grupos, Perfil, Diário de Bordo, 3 http://www.unicamp.br/EA/ Portfólio Individual e de Grupo, Acessos e Intermap. É a partir do uso que esses grupos fazem da tecnologia em seus contextos sociais que este trabalho discute as relações entre práticas de linguagem e decisões de design. FÓRUM DO ORKUT E FÓRUM DO TELEDUC: DESIGN E PRÁTICAS DE LINGUAGEM O fórum do Orkut tem o propósito de possibilitar um espaço de discussão entre os usuários de suas comunidades de forma assíncrona, o que significa que o tempo entre a leitura e a resposta pode variar amplamente. Ao acessar a ferramenta Fórum, a ferramenta exibe uma lista de tópicos de discussão, organizados através da data da última mensagem postada naquele tópico (Figura 1). Selecionado um Fórum, a ferramenta lista as mensagens postadas em ordem cronológica da mais antiga para a mais Figura 2 - Tela de visualização de mensagens postadas na recente (Figura 2). Ao clicar no botão “Responder” ao final ferramenta Fórum do Orkut. da lista de mensagens, a ferramenta exibe a tela de postagem de mensagem (Figura 3). Pode-se dizer que o fórum do Orkut é fácil de ser utilizado por um amplo público. Como contraponto ao seu design, vejamos a ferramenta Fóruns de Discussão do ambiente TelEduc. A ferramenta Fórum organiza as discussões em vários fóruns, identificadas através de títulos (Figura 4). Na discussão, pode-se postar uma mensagem, que abre uma nova thread de mensagens, ou então responder a uma mensagem publicada. Para abrir uma nova thread de mensagens, o usuário clica no link “Compor nova mensagem” no canto superior esquerdo da interface (Figura 5). Para responder a uma mensagem, o usuário deve visualizá-la e então clicar no botão “Responder” (Figura 6). Figura 3 – Tela de postagem de mensagem na ferramenta A ferramenta Fóruns de Discussão do TelEduc armazena o Fórum do Orkut. relacionamento entre as mensagens trocadas, ou seja, qual mensagem foi postada em resposta a uma outra. Essa informação possibilita exibir as mensagens publicadas através de uma ordem chamada de “árvore”. Outras formas de ordenamento são possíveis, como por autor, data, título da mensagem e relevância da mensagem. Figura 4 – Tela de visualização de discussões na ferramenta Fóruns de Discussão do TelEduc. Figura 1 - Tela de visualização de tópicos na ferramenta Figura 5 – Tela de visualização de mensagens postadas na Fórum do Orkut. ferramenta Fóruns de Discussão do TelEduc. Por fim, a ação de responder (clicar no botão “Responder”) da ferramenta Fórum do Orkut se assemelha mais a publicar uma mensagem do que a responder propriamente. Há ainda, outro problema de design, “Responder” não faz sentido quando se trata de postar uma mensagem que inicia um subtópico, tal como fez Joice neste dado. PRÁTICA DE LINGUAGEM E DESIGN: PORTFÓLIO DO TELEDUC Figura 6 – Tela de postagem de mensagem na ferramenta Para discutir o modo como aplicações para web podem Fóruns de Discussão do TelEduc. apoiar/suportar determinadas práticas de linguagem apresentamos um dado particular extraído de um curso de formação de professores utilizando o ambiente TelEduc, Ressalte-se a principal diferença entre as ferramentas mais especificamente, destacamos a ferramenta Portfólio. Fórum do Orkut e Fóruns de Discussão do TelEduc. Talvez, pelo fato de ter foco educacional, a ferramenta O curso em questão se pauta em uma metodologia Fórum do Orkut não armazena o relacionamento entre as especialmente elaborada para cursos semipresencias (76h a mensagens: toda mensagem postada é adicionada ao final distância e 24h presenciais) fortemente focada na interação da lista de mensagens. e, portanto, no uso das ferramentas de comunicação. A metodologia utilizada e, portanto, as práticas de linguagem Analisando essa prática de linguagem particular que nele ocorrem, se baseia em uma concepção de observamos que além de ser necessário o usuário formação de professores que se afasta de uma formação referenciar em suas mensagens seu interlocutor é preciso compensatória para se propor como espaço de reflexão que ele relembre o contexto da interação antes de escrever a prático-teórica onde as atividades propostas dão vida aos nova mensagem. A análise linguística dos enunciados dá conceitos tratados. Dessa forma, os participantes articulam visibilidade a um problema de usabilidade que vários saberes – o que já conhecem do assunto e suas provavelmente não seria identificado através de uma crenças, valores, história pessoal e profissional – àqueles avaliação heurística padrão: é no acontecimento de uma que estão aprendendo por meio de leituras teóricas, prática de linguagem particular que surge o conflito em discussões coletivas, leitura dos trabalhos dos colegas, questão. reflexões a partir dos comentários que recebem a respeito Pode-se dizer que a heurística “Reconhecimento ao invés de seus trabalhos. Tal dinâmica demanda a vivência de de relembrança” é transgredida na tela de exibição de diferentes papéis discursivos − leitor de si mesmo, leitor do mensagens da ferramenta Fórum do Orkut, pois os usuários outro, escrevente, comentador, debatedor etc. são obrigados a lembrar (ou a realizar um processo mental Na ferramenta Portfólio do TelEduc (Figura 8) os de relacionamento entre as mensagens) quais mensagens participantes do curso podem armazenar textos e arquivos são respostas a uma mensagem publicada e quais são as utilizados e/ou desenvolvidos durante o curso, bem como mensagens que abrem uma nova discussão. Esse problema endereços da Internet. Esses dados podem ser particulares, já não ocorre no TelEduc, pois a ferramenta Fóruns de compartilhados apenas com os formadores ou Discussão expõe esse relacionamento entre as mensagens compartilhados com todos os participantes do curso; podem ao usuário através da organização por árvore e também também ser compartilhados com integrantes de um mesmo utilizando o “Re:” para indicar as respostas. grupo, no caso do Portfólio de Grupo. Quando um item de Outro problema relacionado a heurística “Reconhecimento Portfólio é compartilhado com todos os participantes ao invés de relembrança” é verificado quando o usuário podem ver os demais Portfólios e comentá-los. Duas responde a uma mensagem no fórum do Orkut. Na características do Portfólio são importantes para a ferramenta Fóruns de Discussão do TelEduc, ao responder construção/partilha de conhecimentos: o modo de uma mensagem, a mensagem que se deseja responder é compartilhamento e a possibilidade de postar comentários exibida na parte inferior da tela, conforme pode ser com diferentes propósitos [12]. constatado na Figura 6, atendendo assim a esta heurística. Na prática de linguagem em questão, os professores do Na ferramenta Fórum do Orkut isso não acontece, conforme curso5 convidam os participantes a produzirem um pode ser constatado na Figura 3. O usuário é então obrigado memorial sobre a sua História de Escrita, ocasião em que a relembrar a discussão realizada, e caso deseje responder a 5 uma mensagem, relembrar quem foi o autor da mensagem, e Trata-se do curso “A relação normal/patológico no ensino: às vezes, relembrar o conteúdo da mensagem que deseja cérebro e linguagem”, coordenado por Maria Irma Hadler responder. Coudry e Fernanda Maria Pereira Freire, oferecido pelo Centro de Formação Continuada de Professores do Instituto de Estudos da Linguagem (CEFIEL) no período de 04/09/2006 a 06/11/2006. Figura 7 – Exemplo de uso da ferramenta Fórum do Orkut por um usuário. professor/formador, um colega ou um comentário próprio, isto é, uma réplica a um comentário recebido (observe-se o retângulo vermelho à esquerda, da Figura 2). Sempre que um novo comentário é postado, o item de Portfólio fica negritado indicando que há uma “novidade”. Esses dois recursos atendem à heurística “Reconhecimento ao invés de relembrança”. A implementação desses recursos é necessária para informar aos usuários as ações realizadas após a sua última entrada no ambiente, diminuindo a relembrança. Esse recurso também evita que mensagens sejam enviadas pelos usuários para informar sobre o que foi realizado no ambiente. A análise de uma prática de linguagem como esta pode Figura 8 – Visão geral da Ferramenta Portfólio do TelEduc. desencadear o desenvolvimento de novas funcionalidades. Por exemplo, seria desejável que a aplicação indicasse os comentários que ainda não foram lidos, o que seria um recurso facilitador para o proprietário do Portfólio em questão, atendendo assim, mais uma vez, à heurística “Reconhecimento ao invés de relembrança”. Essa funcionalidade possivelmente seria difícil de ser relatada por uma avaliação de usabilidade, sendo mais fácil de ser percebida quando, de fato, a prática de linguagem ocorre. CONSIDERAÇÕES FINAIS Discutiu-se nesse artigo o modo como as interfaces afetam as práticas de linguagem: seja exigindo que o usuário lance mão de estratégias de dizer para contornar restrições de design, seja apoiando as práticas de linguagem as quais a aplicação se destina. Exemplos de uso das ferramentas Fórum da rede social Orkut e Fórum de Discussão do ambiente TelEduc foram utilizados para demonstrar que nem sempre o design da aplicação – no caso, o Fórum do Orkut – dispõe de Figura 9: Diferentes versões do memorial e os comentários funcionalidades para apoio à prática de linguagem a qual se recebidos pelo autor. propõe. Um fórum pressupõe, minimamente, que as pessoas postem mensagens com propósitos variados – fazer perguntas, responder perguntas, fazer comentários, fazer cada participante recorda a sua própria história por meio da esclarecimentos etc. A menção a “Responder” de alguma escrita e da reescrita ao longo do curso. A cada semana os maneira interfere no modo como o usuário organiza seu participantes compartilham com os colegas uma nova enunciado. Da mesma forma, a organização cronológica e a versão do memorial (Figura 9). impossibilidade de postar comentários entre um conjunto de Todos são incentivados a ler os memoriais uns dos outros e comentários demandam do usuário um esforço linguístico- a postar algum comentário. Assim apontam relações que cognitivo adicional. No dado aqui apresentado, esse esforço fazem com as suas próprias histórias, falam a respeito do se materializa pelo uso explícito do nome a quem se destina modo como o texto está escrito, sugerem modificações em a mensagem. Neste caso, a prática de linguagem se ajusta trechos do texto. Comportam-se como “críticos”, o que leva ao design da aplicação. os autores a responder aos comentários recebidos e/ou a Diferentemente, procuramos mostrar por meio da análise do incorporar as sugestões que lhes foram feitas. dado do Portfólio do TelEduc como as decisões de design Esta prática de linguagem cria uma rede de escreventes e se ajustam à prática de linguagem que por seu intermédio leitores, possível graças aos recursos da ferramenta. acontece. Procuramos também apontar – a partir da análise Portfólio. Observe-se que o design da ferramenta permite desta prática de linguagem particular - outras esta troca de experiências de maneira organizada e fácil de funcionalidades que poderiam ser acrescidas à ferramenta ser usada. Os comentários são marcados com cores em questão. diferentes para indicar o tipo de remetente: se o Por fim, esperamos ter mostrado que a análise cuidadosa do 11.Freire, F. M. P. Letramento(s) e uso de interface: um acontecimento linguístico em contextos web pode estudo de caso. Anais do 21 Simpósio Brasileiro de contribuir tanto para decisões de design quanto para a Informática na Educação - SBIE 2010 (João Pessoa, identificação de problemas de usabilidade. 2010) 1-10. Embora o número de casos apresentado seja pouco 12.Freire, F. M. P. Linguagem, tecnologia, conhecimento e expressivo – por se tratar de um estudo exploratório com suas relações no contexto de formação continuada de enfoque qualitativo – e a metodologia de análise não possa professores. RUA 15. 2 (2009) (on line). ser considerada um método de avaliação de interfaces, 13.Freire, F. M. P. Armadilhas virtuais na educação de consideramos que a combinação entre uma análise leitores. Anais do 16º Congresso de Leitura do Brasil linguística dos enunciados em situações reais de interação e (Campinas SP, 2007), 1-17. uma análise da interface orientada pelas heurísticas de Nielsen se mostra sensível para detectar problemas de 14.Freire, F. M. P. O ICQ em contextos de avaliação usabilidade. Esta combinação deverá, em estudos futuros, neurolingüística. Anais do XXIII Congresso da se voltar para outras heurísticas com o objetivo de se Sociedade Brasileira de Computação - IX Workshop avaliar sua abrangência. sobre Informática na Escola (Campinas SP, 2003). 15.Freire, F. M. P. Formas de materialidade lingüística, AGRADECIMENTOS Agradecemos a CAPES e o CNPq pelo suporte financeiro gêneros de discurso e interfaces. A Leitura nos oceanos através de bolsa de pequisa. da Internet. Cortez, São Paulo SP, p. 1-127, 2003. 16.Freire, F. M. P.; Cavalcanti, Ma. C.; Possenti, S.; REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Kleiman, A. Leitura e escrita via Internet: formação de 1. Abreu, L. S. 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