=Paper= {{Paper |id=None |storemode=property |title=Modelagem de Relações Conceituais para a Área Nuclear |pdfUrl=https://ceur-ws.org/Vol-938/ontobras-most2012_paper16.pdf |volume=Vol-938 |dblpUrl=https://dblp.org/rec/conf/ontobras/SalesSM12 }} ==Modelagem de Relações Conceituais para a Área Nuclear== https://ceur-ws.org/Vol-938/ontobras-most2012_paper16.pdf
       Modelagem de relações conceituais para a área nuclear
        Luana Farias Sales1,2 , Luís Fernando Sayão2, Dilza Fonseca da Motta3
   1
    Programa de Pós-Graduação em Ciência da Informação – Instituto Brasileiro de
Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) e Universidade Federal do Rio de Janeiro
                                      (UFRJ)
                    2
                        Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN)
                         3
                             Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP)

                lsales@ien.gov.br; lsayao@cnen.gov.br;
                       dilzafmotta@yahoo.com.br

        Abstract. The nuclear energy area is a complex domain involving a large
        number of disciplines, concepts and relations. Despite its long tradition in
        organizing, processing and dissemination of information, reflected in important
        databases and international information systems, in recent decades this field
        has not evolved satisfactorily regarding the development of tools to standardize
        terminology and, consequently, concerning the extension of the theoretical and
        methodological framework for conceptual modeling. This fact creates an
        obstacle in the development of more sophisticated information systems. Starting
        from the systematization of ontic conceptual relations in the domain of the
        nuclear area, this paper presents a new way to conceptual modeling, anchored
        in the theoretical basis of information science. The proposed model, based on a
        classification principles, seeks to combine categorical and formal relations, to
        reaching the triadic model of relations for the nuclear area.
        Resumo. A área de Energia Nuclear é um domínio complexo que envolve um
        grande número de disciplinas, conceitos e relações. Apesar da sua longa
        tradição na organização, no tratamento e na disseminação de informação,
        refletido em importantes bases de dados e sistemas internacionais de
        informação, nas últimas décadas não evoluiu a contento no que diz respeito à
        elaboração de instrumentos de padronização terminológica e,
        consequentemente, no que diz respeito à ampliação de arcabouço teórico-
        metodológico para modelagem conceitual. Esse fato cria um obstáculo no
        desenvolvimento de sistemas de informação mais sofisticados. Partindo da
        sistematização das relações conceituais ônticas existentes no domínio da área
        nuclear, o presente trabalho visa apresentar um novo caminho para a
        modelagem conceitual, ancorado na base teórica da Ciência da Informação. A
        modelagem proposta, baseada em princípios classificatórios, procura
        combinar relações categoriais e formais, chegando ao modelo triádico de
        relações para a área de ciências nucleares.




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1. Considerações iniciais
        A necessidade de elaborar modelos deriva inicialmente da dificuldade de o
homem entender a complexidade da realidade do universo que o envolve. Assim, em
uma primeira instância, o ser humano elabora modelos para compreender o mundo ou
simplesmente uma questão no mundo; estabelecer padrões de comunicação entre ele e
outros seres e representar de forma simplificada um objeto ou uma situação no mundo.
       Os modelos podem ser construídos “por meio de formalismos matemáticos,
fenomenológicos ou conceituais” e permitem “testar hipóteses, tirar conclusões,
caminhar no sentido da generalização e da particularização, através de processos de
indução e têm sempre vida provisória”. (SAYÃO, 2001, p.83).
        Os modelos conceituais são construídos a partir de abstrações que especificam
relacionamentos entre conceitos, trabalhando semelhanças, diferenças e outras
associações de significado.
       Na esfera da modelagem conceitual, identificar os tipos de relações presentes em
um domínio pode ser considerada uma etapa da modelagem conceitual deste domínio,
pois são as relações que ligam os conceitos a outros conceitos, permitindo evidenciar a
abstração de uma dada realidade.
       O problema que se coloca, no entanto, é que as relações não-hierárquicas,
também chamadas de associativas ou ônticas se manifestam diferentemente de acordo
com a área, variando de acordo com o objetivo e com a questão que se visa modelar.
Acredita-se que uma possível solução para este problema esteja na proposta de um
método para modelagem de relações conceituais que possa ser generalizável a qualquer
domínio. O presente trabalho tem por objetivo apresentar um método para modelagem
de relações não-hierárquicas que foi aplicado, neste momento, na área de ciências
nucleares.

2. A área de Energia Nuclear e a necessidade de modelos conceituais
        No domínio da Ciência da Computação, a modelagem conceitual é um estágio
anterior ao desenvolvimento do sistema. Nesta área, a elaboração de modelos
conceituais fornece subsídios para construção de sistemas eficazes aos seus propósitos.
Já na Ciência da Informação, os modelos são construídos para servirem de instrumentos
padronizadores de informações, tornando a recuperação e a comunicação mais precisas.
        A área de Energia Nuclear tem uma longa tradição na organização, tratamento e
na disseminação da informação. O International Nuclear System (INIS), órgão
subordinado à Agência Internacional de Energia Atômica, da ONU, deu prosseguimento
à política de valorização da informação nuclear, como insumo estratégico para o
desenvolvimento das aplicações pacíficas da energia nuclear.
        No que tange a elaboração de regras e padrões, o INIS criou um conjunto de
ferramentas terminológicas, incluindo classificação e tesauro. O desenvolvimento do
tesauro foi derivado de um modelo gráfico chamado INIS Terminology Charts, que
exibia representações gráficas dos conceitos envolvidos e as suas relações, incluindo a
intensidade de cada relação e o seu tipo (INIS, 1970).
       As iniciativas de construtos teminológicos do INIS foram muito interessantes e
consideradas avançadas para os padrões da época. No entanto, apesar dos indícios da
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necessidade desses instrumentos acompanharem evolutivamente a produção do
conhecimento e as mudanças temporais, a área de Energia Nuclear, nos últimos anos, se
manteve indiferente em relação à atualização metodológica de seus instrumentos.
Enquanto na tabela de classificação houve uma diminuição considerável do número de
áreas abrangidas, o tesauro vem se mantendo estático no que tange a inserção de novos
termos e novas relações.
        Mesmo com a descontinuidade dessas ferramentas conceituais, elas continuam
sendo de fundamental importância para essa área, principalmente devido ao fato dela
sempre ter utilizado, para compreensão de seus fenômenos, modelos e generalizações
como uma ponte entre os níveis de observação e o teórico. Nas últimas décadas, o uso
massivo de técnicas de simulação em computadores para realização de experimentos na
área, mais uma vez, coloca em voga a necessidade dos modelos. Por fim, a intensa
geração de dados, fruto do uso de software, leva à necessidade de curadoria desses
dados para fins de recuperação e reuso e, neste caso, são os modelos que dão estrutura e
significado aos dados. Esses fatores evidenciam a necessidade de modelos conceituais e
consequentemente da modelagem das relações conceituais.

3. A modelagem das relações da área de Energia Nuclear
        A modelagem das relações da área de Energia Nuclear foi realizada a partir da
base teórica da Ciência da Informação para construção de linguagens ou modelos
(CAMPOS, 2001b). Essa escolha se justifica por ter esta área abordagens teórico-
metodológicas consolidadas para construção de instrumentos de representação da
informação e do conhecimento. Conforme abordagem de Campos (2001a), a união da
tríade teórica formada pela Teoria da Classificação Facetada (RANGANATHAN,
1967), Teoria Geral da Terminologia (WÜSTER, 1981) e Teoria do Conceito
(DAHLBERG, 1978) vem atendendo não apenas a elaboração de linguagens, mas
também toda e qualquer necessidade de classificação, sistematização, mapeamento de
domínio e modelagem conceitual.
        Em trabalho apresentado anteriormente (SALES, 2008), um modelo triádico de
relações foi proposto para reunir as relações da Ciência da Informação (duplas de
categorias, ex: coisa-material, as quais são aqui chamadas de Relações Categoriais) e
também as da Ciência da Computação (Relações formais, ex: has_material, que
revelam a forma como um conceito se relaciona com outro). Este modelo é composto da
seguinte forma:  = (). Ex: 
        Para se chegar ao modelo triádico de relações foi utilizado no processo de
modelagem um método que reuniu aspectos conceituais, lógico-classificatórios e
matemáticos. Este método está sendo chamado a priori de “Método relacional-
categorial”, pois visa estabelecer relações a partir da combinação das categorias
existentes no domínio mapeado. No que tange aos aspectos conceituais, o método se
valeu de abordagens advindas da Teoria do Conceito e da Terminologia para a
identificação de definições terminológicas consistentes para os termos que fizeram parte
do corpus selecionado, bem como para a intervenção nessas definições, quando
necessário. Quanto aos aspectos lógico -classificatórios, o método se valeu da Teoria da
Classificação Facetada para identificação das categorias e classificação dos termos
identificados para compor o corpus. Com relação aos aspectos matemáticos, o método

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 utilizou-se de arranjo em uma análise combinatória para compor os pares de relações
 categoriais.
         O método abrangeu as seguintes etapas: 1)Análise das definições. 2)
 Categorização dos termos; 3)Análise combinatória das categorias; 4)Retirada de
 assertivas 1das definições no modelo ; 5)Categorização das assertivas e
 identificação das relações formais; 6)Sistematização das relações formais possíveis para
 cada par de relações categoriais.
         A primeira etapa do método foi a análise do Glossário Nuclear da CNEN (2011),
 composto por 107 termos, que se configuraram como corpus. Suas definições bem
 construídas auxiliaram na categorização dos termos e, consequentemente, no
 estabelecimento das relações entre os termos.
        A segunda etapa do método foi baseada na Teoria da Classificação Facetada de
 Ranganathan que sugere cinco categorias fundamentais representadas pela sigla
 PMEST, cujas iniciais significam: Personalidade, Matéria, Energia, Espaço e Tempo 2.
 Os termos foram separados em categorias baseadas nestas últimas, adaptadas para a área
 em análise.
         Chegou-se então a sete categorias: Entidade, Equipamento, Propriedade,
 Matéria, Processo, Espaço, Tempo. Na categoria Entidade foram agrupados todos os
 objetos, indivíduos, agentes e produtos. Na categoria Equipamento foram considerados
 os instrumentos, as ferramentas, as máquinas ou outros artefatos, aparelhos, utensílios,
 dispositivos e aparatos experimentais que sirvam para executar um processo e/ou gerar
 um produto. Os conceitos referentes às características, atributos, medidas, dimensões e
 outras qualidades dos objetos, das entidades, dos processos, do tempo, do espaço etc.
 foram incluídos na categoria Propriedade. Os conceitos referentes aos materiais
 constituintes e substâncias foram categorizados em Matéria. Ações, operações e
 fenômenos em geral foram agregados na categoria Processo. Os conceitos referentes às
 áreas, locais ou regiões foram agrupados na categoria Espaço. Por fim, na categoria
 Tempo foram incluídos os conceitos cuja noção de tempo é determinante. Veja o quadro
 1.
           Quadro 1 - Exemplo de categorização dos conceitos constantes nos glossários
ENTIDADE     EQUIPAMENTO        PROPRIEDADE       MATÉRIA       PROCESSO        ESPAÇO       TEMPO

Átomo        Acelerador         Radioatividade    Elemento      Radioterapia    Área         Meia
                                                  combustível                   controlada   vida




 1
  Assertivas são afirmações ou proposições que podem ser atestadas como verdadeiras. Neste caso, as
 assertivas são modeladas por triplas que vem a ser predicados binários.

 2
  Para Ranganathan, o PMEST pode ser explicado da seguinte forma: Na categoria Tempo estão as idéias
 isoladas de tempo, na categoria Espaço estão aquelas referentes ao local de pertencimento de um
 determinado objeto, seja ele indivíduo, coisa, fenômeno, entre outras entidades. Na categoria Energia
 estão as idéias de processo, ação ou fenômeno. Na categoria Matéria - suas manifestações são de duas
 espécies - Material e Propriedade, que são partes intrínsecas de um objeto ou processo. Na categoria
 Personalidade, Ranganathan considera através de um método residual, tudo aquilo que não cabe nas
 outras categorias.


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         A terceira etapa constou da análise combinatória das categorias identificadas
 anteriormente. Como na Ciência da Informação as relações se manifestam entre duplas
 de categorias, combinar as categorias que mapeiam uma área é uma forma de
 identificar, no nível mais genérico possível, as possibilidades de relações a serem
 encontradas em um domínio. A partir da análise combinatória chegou-se a 49 pares de
 relações categoriais. Para citar algumas: entidade-entidade, entidade–propriedade,
 entidade–matéria,     entidade–equipamento,    entidade–processo,   entidade–tempo,
 entidade–espaço, entre outras.
        Para encontrar as relações formais, partiu-se então para a quarta etapa do método
 que constou da retirada de assertivas no modelo relação categorial1-relação formal-
 relação categorial2 , a partir da análise das definições. Conforme primeira
 coluna do quadro 2:
                     Quadro 2 - Identificação e categorização das assertivas
        ASSERTIVA IDENTIFICADA                      CATEGORIZAÇÃO DAS ASSERTIVAS
Área controlada- controla -exposições à radiação         Espaço - controla - processo
Área controlada –previne - disseminação e                Espaço – previne- processo
contaminação radioativa


        A quinta etapa constou da categorização das assertivas, reescrevendo-as de
 acordo com as categorias identificadas na etapa 2. O objetivo foi generalizar, no grau
 máximo, as relações categoriais, deixando em um nível mais específico apenas as
 relações formais, já que a ideia era identificar todas as possibilidades de relações
 formais do domínio escolhido. Esta etapa pode ser observada na segunda coluna do
 quadro 3.
         Na sexta etapa, foi realizada a sistematização das relações formais possíveis para
 cada par de relações categoriais. Assim, chegou-se a 19 pares de categorias e 39
 relações formais. No quadro 3 pode ser visualizada uma pequena amostra das relações
 identificadas.
                               Quadro 3 - Sistematização das relações
    RELAÇÃO CATEGORIAL                     RELAÇÃO                     MODELO TRIÁDICO
                                            FORMAL
ENTIDADE – PROCESSO                    emite              entidade - emite- processo
ENTIDADE - ENTIDADE                    parte_de           entidade - parte_de - entidade
                                       contém             entidade – contém - entidade
                                       transforma         entidade - transforma - entidade
ENTIDADE - PROCESSO                    recebe             entidade - recebe - processo
                                       sofre              entidade – sofre - processo
ENTIDADE - PROPRIEDADE                 representa         entidade – representa - propriedade
EQUIPAMENTO - ENTIDADE                 acelera            equipamento – acelera - entidade
                                       produz             equipamento - produz - entidade
                                       aumenta            equipamento – aumenta - entidade
EQUIPAMENTO -MATÉRIA                   contém             equipamento – contém - matéria
                                       reutiliza          equipamento – reutiliza - matéria
                                       utiliza            equipamento – utiliza - matéria


 5. Considerações finais
       O presente trabalho é fruto de estudos que caminham em direção à busca dos
 fundamentos de modelagem. O assunto em questão é abordado aqui como um ponto de

                                                                                                5
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interseção entre a Ciência da Informação e a Ciência da Computação, pois reúne
relações interessantes para as duas áreas. A modelagem conceitual requer cuidado
especial com conceitos e também com as relações entre esses conceitos. Desta forma,
este trabalho contemplou apenas um desses aspectos: Relações conceituais ônticas para
modelagem.
        Este trabalho é parte de um projeto maior que está em andamento, que envolve
curadoria digital de dados de pesquisas nucleares, o que pressupõe a necessidade de
modelo conceitual e consequentemente uma modelagem das relações. Entende-se que a
modelagem das relações conceituais será de fundamental importância para ligar os
dados de pesquisa aos documentos que os geraram. Sendo assim, pretende-se também,
em momento oportuno, realizar um experimento utilizando o modelo de relações
identificadas para, em uma publicação ampliada, ter os dados científicos ligados às
publicações de forma consistente.

6. Referências
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  hiperdocumentos: um modelo conceitual como um espaço comunicacional para a
  realização de autoria. Rio de Janeiro: IBICT/UFRJ, 2001b. Tese de Doutorado.
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